MATURIDADE GRAMATICAL (INDISPENSÁVEL)
Faz-se necessário desenvolver a capacidade de utilizar adequadamente as palavras. O bom uso da norma-padrão depende da sensibilidade e do equilíbrio de quem fala ou escreve. Convido, pois, você a empreendermos uma reflexão sobre o que chamo de MATURIDADE GRAMATICAL. Para isso, utilizaremos obras de indiscutível credibilidade.
Sabemos da existência dos pronomes interrogativos: QUE, QUEM, QUAL, QUANTO. Esses pronomes são usados nas perguntas diretas ou indiretas. Exemplos:
"QUE livros vocês estão lendo?" (Pergunta direta)
Perguntei QUE livros vocês estão lendo. (Pergunta indireta)
QUAL é o mundo QUE queremos? (Pergunta direta)
Quero saber qual é o mundo QUE queremos. (Pergunta indireta)
QUANTOS anos você tem? (pergunta direta)
Quero saber QUANTOS anos você tem. (Pergunta indireta)
Sabemos que não é possível reforçar, nesses casos, o sentido desses pronomes interrogativos, utilizando artigo definido. Ninguém sensato diria: O QUE livros vocês estão lendo? Não faria sentido.
O livro "Português: contexto, interlocução e sentido", volume 2, da Editora Moderna, ano 2010, destinado ao Ensino Médio, registra: "No uso coloquial da língua, é muito comum reforçar-se o sentido do pronome interrogativo QUE por meio da utilização do artigo definido O: O QUE é isso?"
No entanto, esse mesmo livro reforça, em várias páginas, o sentido desse pronome: "O QUE são as formas nominais". "O QUE caracteriza os advérbios". "O QUE são locuções adverbiais". "O que cada uma das personagens representa?" "O que a presença de todas essas pessoas sugere sobre a vida nessa cidade?"
Não há dúvida, pois, de que os próprios autores se contradizem. Por quê? Ora, sabemos que os livros didáticos são escritos na variedade formal da língua. Repito: os livros didáticos são escritos na variedade formal da língua. A variedade coloquial só é utilizada, nos livros didáticos, quando é necessário transcrever a modalidade popular.
Vemos, claramente, que essas perguntas não representam transcrições do coloquialismo.
Todavia, sabemos que é impossível dizer ou escrever: O QUE funções os advérbios podem exercer? O certo é: QUE funções os advérbios podem exercer? Vemos, então, que tudo depende do momento certo. Ademais, ninguém que esteja em pleno uso de suas faculdades mentais e que conheça a estrutura da nossa língua afirma: O QUE estória é essa, rapaz? Seria um absurdo inaceitável. O certo é: "QUE estória é essa, rapaz?" Não obstante, podemos dizer ou escrever: O QUE você acha disso? Ou: QUE você acha disso? Tanto faz.
O livro "Português: linguagens", volume 1, da Editora Saraiva, ano 2010, destinado ao Ensino Médio, registra:
"O QUE é literatura?"
"O QUE é gênero textual?"
"O QUE é o Enem?"
Eu pergunto: por que a forma O QUE? Porque é correto. Você se lembra do que registra Evanildo Bechara? Ele afirma que podemos usar O QUE no lugar de QUE. Como afirmei acima, depende do momento certo. O QUE é uma forma de ênfase. O QUE é certo.
O artigo, nesses três casos, é facultativo. Com ele ou sem ele, o sentido será o mesmo. Mudará apenas a ênfase.
O livro "Matemática: ciência e aplicações", volume 3, da Editora Saraiva, ano 2010, para o Ensino Médio, registra: "O QUE é elipse?" "O QUE é hipérbole?" O QUE é parábola?" É isso mesmo. Na matemática há elipse, hipérbole, parábola. Sou também professor de matemática. Conheço aquilo sobre o qual eu discorro.
O livro "Matemática", volume 3, da Editora Moderna, ano 2009, de Manuel Paiva, para o Ensino Médio, explica: "O QUE é Estatística". "O QUE É uma figura cônica".
Os compêndios de Filosofia perguntam: "O QUE é poder?" "O QUE é ideologia?" " O QUE é política?" Estou citando obras com as quais eu trabalho diariamente.
"Um discípulo de Jesus, André, o irmão de Simão Pedro, disse: Aqui há um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, O QUE é isso para tanta gente?" (Jo 6, 8-9). Conheço também a Bíblia. Agradeço muito a Deus. Sou católico apostólico romano.
O que você diria se alguém dissesse ou escrevesse: QUE horas começam suas aulas? Poderia dizer: está errado. O certo é: A QUE horas começam suas aulas?
Outros exemplos corretos, extraídos da "Gramática Básica", de LUIZ ANTONIO SACCONI:
"A QUE horas você chegou?"
A QUE horas almoçaremos?"
A QUE horas as crianças voltarão para casa?"
Essas três formas - sem a letra A - estariam erradas. É o que afirma LUIZ ANTONIO SACCONI.
Você sabia? O, A, OS, AS - que também podem ser artigos e pronomes pessoais - são pronomes demonstrativos quando equivalem a ISTO, AQUILO, AQUELE, AQUELA, AQUELES, AQUELAS. Exemplos:
"Leve O que lhe pertence." (Domingos Paschoal Cegalla)
É o mesmo que: "Leve aquilo que lhe pertence".
"É esta A que você quer?" (Domingos Paschoal Cegalla)
Significa: É esta aquela que você quer?"
LUIZ ANTONIO SACCONI: "O QUE tem muitos vícios tem muitos mestres". É o mesmo que: Aquele que tem muitos vícios tem muitos mestres.
Portanto, você, caríssimo amigo, já sabe quando usar O QUE. Há momentos em que podemos usar QUE ou O QUE, indiferentemente. Há momentos nos quais QUE é o certo. Outros nos quais o correto é O QUE. Todos esses momentos foram esclarecidos.
Concluo este texto com uma afirmação de Marco Aurélio, o imperador-filósofo: "Os homens não deixarão de fazer exatamente O QUE fazem, ainda que te arrebentes pregando o contrário". Ficam, portanto, duas lições com essa afirmação.
Um grande abraço cordial! Obrigado!