UM (PRÉ) CONCEITO LINGUÍSTICO...?
Ano passado, em seus meados, veio à baila uma questão que efervesceu em todas as mídias possíveis: a polêmica provocada pelo Ministério da Educação ao distribuir o livro “Por Uma Vida Melhor”, da coleção “Viver, Aprender”, para os alunos do Ensino Fundamental (Educação de Jovens e Adultos) das escolas públicas do país, o qual contém em seu bojo a informação de que são adequadas construções (na linguagem falada), que contrariam as normas gramaticais.
O que vemos na discussão em tela é, uma vez mais, um já velho embate (outrora travado apenas em níveis acadêmicos) entre aqueles que defendem a conservação, e o tradicionalismo, das convenções linguísticas de sempre versus a visão mais atual, moderna, que preconiza e defende as diferentes formas de linguagem, trazidas à reboque pelas Sociolinguística (Ciência que estuda a relação entre a língua e a sociedade) e Psicolinguística (que trata do estudo do processo de formação dos vários tipos de linguagem na mente humana). Ou seja: de um lado estão os puristas, que veem como errado que o local oficialmente destinado para a orientação das pessoas, aceite construções linguísticas baseadas na linguagem falada, sob o pretexto de não se cometer preconceito com quem a produz; e de outro, os vanguardistas que não se prendem a conceitos estanques e consideram que a maior prova de vivacidade de uma língua é a sua capacidade de mudar conforme o uso que se dá na fala, provocando obrigatoriamente, ainda que de forma paulatina, a alteração do léxico e da gramática, conforme publicações conhecidas de renomados autores.
A discussão, portanto, é antiga e não vai parar por aqui. Sempre haverá quem defenda que o instrumento mais apropriado para que o indivíduo alcance novos níveis sociais seja a norma-culta e, por outro lado, nunca morrerá o pensamento de que não reconhecer, e não tolerar, que as mudanças na fala implicam, cedo ou tarde, em mudança na escrita, é uma forma sutil de preservar o preconceito social, através do preconceito lingüístico.
Em última análise, não enxergo, na atitude dos autores do livro a chamada “teoria da conspiração”, que, no caso, seria utilizada para fixar o indivíduo em seu nível social, impedindo seu acesso às classes superiores, mas vejo, sim, uma oportunidade para que o debate evolua e a classe dominante, tão acostumada a ditar suas regras, possa rever seus conceitos.