Estilística: paralelismo com operador compacto
O paralelismo com operador compacto é um dos processos característicos da coesão textual da língua portuguesa. É um recurso que, além de tornar o texto mais conciso, lhe garante também algum estilo.
Imagine-se a seguência:
"Maria jurou que iria perseguir Pedro, prendê-lo e obriga-lo a restituir o que tirou indevidamente de Luíza. Infelizmente, Maria não perseguiu Pedro, não o prendeu e não o obrigou a restituir o que tirou indevidamente de Luiza."
O enunciado acima é claro, mas também é pouco econômico e de baixo rendimento estilístico por causa da repetição desnecessária. O paralelismo com operador compacto é um mecanismo eficiente para evitar essa repetição e ao mesmo tempo conferir coesão a sequência, veja:
"Maria jurou que iria perseguir Pedro, prendê-lo e obriga-lo a restituir o que tirou indevidamente de Luíza. Infelizmente, NÃO O FEZ."
A frase compacta "não o fez" faz referência exatamente à sequência de orações anteriores a ela.
Veja agora outro texto:
"O professor criou um modelo mais difícil de prova. Mas o professor criou um modelo mais difícil de prova para evitar a ocorrência de novas fraudes"
O verbo "ser" pode ser benvindo, neste caso, como operador compacto, veja:
"O professor criou um modelo mais difícil de prova. Mas FOI para evitar a ocorrência de novas fraudes"
Viu? - a forma verbal "foi" refere a primeira como um todo, evitando a repetição, como fator coesivo.
Vejamos outro exemplo, agora com o verbo "ser" no presente do indicativo, ou seja a forma "É":
"Pedro, quando chega ao trabalho, vem sempre sorridente, bem vestido e com olhos muito brilhantes. É porque é o funcionário mais bem remunerado da empresa."
O adverbio "sim" também apresenta essa virtulidade de operador compacto, veja:
"Pedro não aceitou a proposta do diretor, que queria promove-lo para dirigir a filial do Rio de Janeiro. Paulo, SIM."
É interessante notar que neste exemplo o "sim" ocupa o lugar de um predicado.
E para finalizar, um exemplo bastante eloquente do uso de operador compacto se encontra num texto do sociólogo Florestan Fernandes:
"A grande pergunta consiste: conseguirá evitar o vendaval que atingiu os países do Leste europeu e, sob certos aspectos, a União Soviética? Seus dirigentes confiam que SIM."
Já neste último exemplo "sim" ocupa o lugar de uma oração subordinada substantiva objetiva direta.