“EM MÃO” ou “EM MÃOS”?
Depois de ler, neste nobre espaço, os excelentes textos dos ilustres recantistas DOMINGOS IVAN e AMÉRICO PAZ acerca das expressões “EM MÃO” e “EM MÃOS”, resolvemos, como mero e eterno aprendiz da Língua Portuguesa, expressar nossa humilde opinião a respeito do tema, sem nenhum objetivo, é claro, de causar polêmica.
Em nosso modesto entendimento, não passa de um exagero afirmar ou escrever que um documento, um convite ou uma correspondência vai para “as mãos” do destinatário. Em qualquer situação, aconselha-se sempre, em bom português, o uso do singular “em mão”.
Embora já exista até dicionário no Brasil registrando “em mãos”, o correto, em nosso sentir, é “em mão”, redução de “em mão própria” [diretamente à pessoa a quem algo é destinado]. Aliás, não dá para imaginar alguém pegando uma carta ou um ofício com as duas mãos...
Note-se, por oportuno, que ninguém lava roupa “a mãos”; faz trabalho “a mãos”; põe-se “em pés” ou vai a algum lugar “a pés”.
Sobre o tema — e sem querer criar nenhuma polêmica —, estamos com o festejado gramático e dicionarista LUIZ ANTONIO SACCONI, para quem: “EM MÃO — É esta a expressão que temos. Quando algo é entregue diretamente ao destinatário, a entrega é feita ‘em mão’ (cuja abreviatura é E.M.). O povo, no entanto, gosta muito de entregar tudo ‘em mãos’, da mesma forma que vai ‘a pés’, justamente em razão da sua ‘lógica’: quem tem duas mãos e dois pés, não pode entregar em ‘mão’ nem ir a ‘pé’...” (Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, Editora Harbra, 1ª ed., 2005, p. 171).
Em outra renomada obra, reitera o gramático e dicionarista LUIZ ANTONIO SACCONI:
“EM MÃO — É esta a expressão que temos. Quando entregamos alguma coisa pessoalmente, entregamo-la ‘em mão’.
Assim como ninguém lava roupa ‘a mãos’, assim como ninguém faz sapatos ‘a mãos’, uma carta ou um volume qualquer só pode ser entregue ‘em mão’.
Nunca ouvi dizer que alguém fosse a algum lugar ‘a pés’ nem que pianista tocasse “de ouvidos’, ainda que tenhamos todos — graças a Deus — dois pés e dois ouvidos (que os cientistas chamam hoje de ‘orelhas’).
Prefiro, por isso, levar qualquer documento importante ‘em mão’ (cuja abreviatura é E.M.) a confiar em qualquer outro portador.
Há um dicionário (aquele) que registra ‘em mãos’ a par de ‘em mão’. Normal.” (Não Erre Mais!, Editora Harbra, 28ª ed., 2005, p. 97/98).
Mas não é só o gramático e dicionarista Luiz Antonio Sacconi que “rejeita” a expressão “EM MÃOS”. O notável filólogo e gramático ADRIANO DA GAMA KURY também o faz expressamente: “Manda-se uma carta ‘em mão’ ou ‘em mãos’? — O correto é ‘em mão’, redução de ‘em mão própria’”. (1.000 Perguntas de Português, Editora Rio, 1ª ed., 1983, p. 168).
O imortal ARNALDO NISKIER, sobre o tema, chega ser enfático: “Convite — ‘Os noivos fizeram questão de entregar o seu convite de casamento em mãos’. O casal correu o risco de ficar com a igreja vazia. Você fica ‘em pés’? O certo é ‘em mão’. Ao escrever num envelope, coloque sempre ‘em mão’”. (Na Ponta da Língua, Editora Expressão e Cultura, 1ª ed., 2001, p. 32).
O festejado CÂNDIDO JUCÁ (FILHO), no conhecido e autorizado “Dicionário Escolar das Dificuldades da Língua Portuguesa”, FENAME, 3ª ed. 2ª tir., 1963, p. 409, por sua vez, ensina: “em mão [própria] — pessoalmente, propriamente, em pessoa. Entreguei-lhe o dinheiro em mão.” Não há também registro neste renomado dicionário da expressão “em mãos”.
A propósito desse intrigante tema, tem-se que a última a atualizada versão do renomado Dicionário AURÉLIO [versão completa] não registra a expressão “em mãos”, mas tão somente “EM MÃO”: “Em mão. 1. Palavras que se escrevem (em geral abreviadamente: E. M.) no sobrescrito de carta cuja entrega ao respectivo destinatário se confia a um particular, e não ao correio. 2. Diz-se desse modo de enviar correspondência: Mandei-lhe uma carta ‘em mão’. [Tb. se diz em mão própria.] Em mão própria. 1. Em mão. [Abrev.: E. M. P.].”
E, para concluir, trazemos o que nos ensina o renomado Prof. DILSON CATARINO em interessante texto extraído da internet: “Pronto, chefe. Já entreguei a carta a ele em mãos.” Essa é uma frase cujo erro poucos notarão. Já descobriu qual é ele? É a expressão “em mãos”. As palavras que se escrevem (em geral abreviadamente: E. M.) no sobrescrito de carta cuja entrega ao respectivo destinatário se confia a um particular, e não aos Correios, não são “em mãos”, e sim “em mão”, no singular. Também se pode dizer “em mão própria”. A frase apresentada, portanto, deve ser corrigida assim: “Pronto, chefe. Já entreguei a carta a ele em mão.”
É sempre oportuno lembrar que: “O objetivo das questões ou da discussão não deve ser a vitória e sim o aperfeiçoamento.” — JOSEPH JOUBERT
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