ODE A OLAVO BILAC E À LÍNGUA PORTUGUESA
                                   Anderson Braga Horta
 
Bilac, meu poeta
Admirado e querido,
Que assistes entre os ícones
De meu íntimo altar,
Em meio às rutilâncias
De Castro Alves, Cruz e Sousa e Alphonsus,
Augusto dos Anjos, Cecília e Drummond
(descanso a pena,
para não esgotar o firmamento),
sinto dizer-te:
nem sempre tens razão no teu belo soneto.
Não diria que a Língua Portuguesa
e Brasileira nossa,
amada
pátria comum com Camões e Pessoa,
fosse a última flor do Lácio.
Nem pelo tempo
nem  pelas louçanias.
Inculta e bela dizê-la.
Inculta? Não. Mantê-lo
fora cobrir com um manto de modéstia
descabida
a língua que esculpiu Camões e Antero,
Eça e Pessoa, Álvares e Machado.
Bela, sim,
e tu estás entre os que a embelezam
e dignificam.
Esplendor! sim,
apesar das hordas de bárbaros que se comprazem
no afã de conspurcá-la.
Sepultura? talvez ainda,
porque desconhecida e obscura;
mas dia virá em que as lápides se erguerão
e da suposta morte ressurgirão em glória e luzimento
os que pelos seus séculos modelaram-na eterna.
“Ouro nativo que na ganga impura
a bruta mina entre os cascalhos vela...”
Teus versos manifestam
o trabalho do artista em qualquer língua,
colhendo a flor dentre os monturos
da sonora criação coletiva,
canalizando o volátil ouro nativo
em tubas de alto clangor,
em liras singelas,
harmonizando os ares a quem tenha ouvido
capaz de ouvir e de entender estrelas.
Mas perdoa estas nugas.
Amamos qual o amaste
a este rude e doloroso idioma
que tem o trom e o silvo da procela,
é certo,
mas também sabe ser suave e sorridente
como no hálito primeiro e santo
com que nos bafejou a voz materna.
 
CODA:
Direi, irmão maior (parafraseando-te),
à placenta sonora em que ambos navegamos:
Amo-te, ó forte e sonoroso idioma
e que todos os tons do sentimento
e do viver-o-mundo
- a saudade, a ternura, o viço agreste
das virgens selvas, do oceano largo... –
posso dizer com o travo mais amargo
ou o mais candente brilho!
Amo-te, ó terno e aconchegante idioma
em que cantou Bandeira a língua do povo,
mas com o cuidado de, no próprio canto,
fazê-la, bem que simples, alta e pura.
Amo-te, enfim, bárbara e cultivada
música de fonemas e revérberos
em que todo me sou – guerra e concerto -,
em que sondo o universo
e em que posso dizer o amor inteiro.

(Nota do Editor deste espaço: a todos aqueles que por verdadeiramente admirarem e cultuarem a Língua Portuguesa reconfortam-se neste refúgio especializado do Recanto  das Letras oferecemos esta belíssima composição poética do mineiro Anderson Braga Horta, que vai em lúcido e edificante contraponto à célebre poesia de Olavo Bilac, de 1915, Língua Portuguesa)
Anderson Braga Horta
Enviado por Sérgio Pandolfo em 10/05/2012
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