“O MAIS DAS VEZES” OU “AS MAIS DAS VEZES”?
Na Língua Portuguesa ambas as expressões existem e são legítimas para indicar a maioria das vezes que um fato ocorre. Nada obstante, não existe a expressão “[a] mais das vezes”.
Diz o festejado MÁRIO BARRETO que a expressão “as mais das vezes” é mais usual. Todavia, NÃO se emprega a crase no “as” desta locução, no que, aliás, acordam os melhores autores.
Exemplo:
“Com o Espírito Santo colaborou um outro espírito, cuja essência "as mais das vezes", no jargão dos casuístas, é armadilha de Satanás.” (Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos, p. 150).
Já para o gramático NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA:
“O mais das vezes – A redação normal é “o mais das vezes”, onde ‘mais’ está empregado de maneira neutra, substantivamente, como se fosse “o máximo”, “o maior número”, “a maior porção”: “Viviam o mais do tempo juntas” — “Passei o mais da tarde repousando”. (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, p. 379).
Entretanto, são encontradas nos clássicos ambas as expressões, consoante se infere dos seguintes e insuspeitos lanços: “Temo-las por adiáforas; no geral, suspeitas; “as mais das vezes”, incompletas; quase sempre, traiçoeiras; sempre disparatadas.” (Euclides da Cunha) / “Até nas próprias travessuras do menino, “as mais das vezes” malignas, achava o bom do homem muita graça.” (Manuel A. de Almeida) / “Elas passavam o serão na sala de jantar, em volta do candeeiro, que alumiava a tarefa noturna “o mais das vezes” solitárias.” (José de Alencar).
Nada obstante, jamais deixaremos de atentar para o fato de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” — B. Calheiros Bomfim.
É ou não intrigante nossa Língua Portuguesa?