Laudelino Fez a Barba de Cândido e Continua Fazendo de Todos os Demais,Haja Vista [Veja] Suas Palavras
Ouçamos primeiro o "artifício de evidente inutilidade" de Cegalla, Novíssima Gramática,pág.336 - 1971:
Domingos Paschoal Cegalla: " HAJA VISTA
Esta expressão pode ser construída de três modos diferentes:
1) HAJAM vista os livros...(=tenham vista,vejam-se).
2) Haja vista os livros...(=por exemplo, os livros).
3) Haja vista AOS livros...(=olhe-se para,atente-se).
A primeira construção ( que é a mais aceitável ) analisa-se deste modo: Sujeito: os livros; verbo: hajam (tenham); objeto direto: vista."
Laudelino Freire: " É manifesto o artifício de que se vale o filólogo (Cândido de Figueiredo) para adaptar à sua doutrina aquelas proposições.Viu-se forçado a separar na aludida expressão os seus elementos - Haja a vista - absolutamente inseparáveis, decompondo haja vista, que é uma frase feita, expressão una e definida, com significação determinada, em dois elementos que passaram a ter funções sintáticas diversas da que realmente exerce aquela expressão. Haja vista é uma expressão verbal perifrástica, que equivale a veja. Na sintaxe, porém, do mestre lusitano perde este caráter, deixa de ser o que é, para se transformar em verbo e substantivo, a que é dado exercer a função de objeto direto. Tudo artifício, e ARTIFÍCIO DE EVIDENTE INUTILIDADE, que só tem a vantagem de mostrar que é INACEITÁVEL o processo de análise engendrado pelo eminente gramático."
CEGALLA, ao dar o exemplo -" HAJAM " vista os livros - "....Na sintaxe, porém, do mestre lusitano (Cândido de Figueiredo, seguido por Cegalla e muitos outros) [haja vista] PERDE O CARÁTER,[e] DEIXA DE SER O QUE É, PARA SE TRANSFORMAR EM VERBO E SUBSTANTIVO, A QUE É DADO EXERCER A FUNÇÃO DE OBJETO DIRETO. TUDO ARTIFÍCIO, E ARTIFÍCIO DE EVIDENTE INUTILIDADE, QUE SÓ TEM A VANTAGEM DE MOSTRAR QUE É INACEITÁVEL O PROCESSO DE ANÁLISE ENGENDRADO PELO EMINENTE GRAMÁTICO."
Laudelino fez a barba corretamente de Cândido e continua fazendo de TODOS os demais, haja vista suas palavras:
"HAJA VISTA É EXPRESSÃO VERBAL PERIFRÁSTICA, ABSOLUTAMENTE INSEPARÁVEIS, É UMA FRASE FEITA, EXPRESSÃO UNA E DEFINIDA, COM SIGNIFICAÇÃO DETERMINADA, EQUIVALE A VEJA, A QUE É DADO EXERCER A FUNÇÃO DE OBJETO DIRETO." (Laudelino Freire.)
Haja vista é locução invariável seja em gênero,seja em número ou seja no que for. Ninguém diz: Veja "dos" homens. - Veja "aos" homens, e sim: Veja "os" homens. -Veja o quê? -Os homens: objeto direto - caso acusativo latino. Não cabe portanto nenhuma preposição:
Haja vista (veja) os homens. Haja vista (veja) os exemplos:
Haja vista (veja) o livro.Veja (haja vista) o quê? O livro:obj.direto.
Haja vista (veja) os livros. (Idem.)
Haja vista (veja) a carta. (Idem.)
Haja vista (veja) as cartas.( Idem.)
Outros exemplos:
Lima Barreto: ", não a possuem. Haja vista [veja] os feiticeiros, negromantes, cartomantes, adivinhos, hierofantes,..."(Quereis encontrar marido? - Aprendei!...)
Machado de Assis: " ...Pelo menos há dúvida sobre a significação de alguns dos respectivos artigos. Haja vista [veja] o desacordo do astrônomo Falb com o Dr. Antão de Vasconcelos..."(Crônica, A Semana,1892 )
Rui Barbosa: " As provas abundam. Haja vista [veja] a resposta de Le Peletier de Saint-Fargeau, quando instado por Lanjuinais a não votar o suplício de Luís XVI: “Mas eles me matariam!” Haja vista [veja] a resposta de Danton ao Conde de Ségur: “Nós não podemos governar, senão metendo medo.” Haja vista [veja] a resposta de Sieyès a M. de Montlosier, que, apontando-lhe a Convenção, lhe perguntava: “Que pensais desta assembléia?” “Caverne: s’y jetter, y demeurer.” Haja vista [veja] o aviltamento dos girondinos atravessando as salas do palácio legislativo até as bancadas, a ler, com o sorriso nos lábios, a prosa ignóbil da folha de Hébert. Haja vista [veja] a unanimidade aquiescente da Convenção.... Em vão te gabas de haver inaugurado a moralidade na administração. A tua austeridade administrativa reduz-se a uma legenda, e mais nada. Haja vista [veja] os teus favores às obras do porto da Bahia;..." (Obras Seletas - VIII.)// "...Haja vista [veja] o incidente de 1879, ... haja vista [veja] a presteza de cenógrafos..."(Rui - Obra Seletas -VI).
Estas não só são as mais aceitáveis como também são as corretas.Haja vista (veja) os dizeres de Laudelino Freire: " HAJA VISTA É EXPRESSÃO VERBAL PERIFRÁSTICA, ABSOLUTAMENTE INSEPARÁVEIS, É UMA FRASE FEITA, EXPRESSÃO UNA E DEFINIDA, COM SIGNIFICAÇÃO DETERMINADA, EQUIVALE A VEJA, A QUE É DADO EXERCER A FUNÇÃO DE OBJETO DIRETO."
-Tal locução rege objeto direto e não objeto indireto.Haja vista [veja] os exemplos do verbo ver no Michaelis on:"Ver[lat.videre] VERBO TRANSITIVO DIRETO e INTRANSITIVO.... e também PRONOMINAL...."
Ora, se haja vista significa veja,VERBO TRANSITIVO DIRETO, veja significando haja vista não rege objeto indireto - caso dativo latino: Haja vista [veja] "aos" livros. O certo é: Haja vista [veja] os livros. Haja vista [veja] o quê? -Os livros: objeto direto - caso acusativo latino.
Haja vista[veja] as cartas, haja vista[veja] a carta. Haja vista[veja] os livros, haja vista[veja] o livro. Analisada sob esta luz, tal locução também não rege sujeito nenhum, caso nominativo latino. Esta locução,invariável, rege objeto direto,caso acusativo: Haja vista [veja] as cartas. Haja vista, veja o quê?- As cartas.
E aqui,uma vez lido e entendido o texto 2409850 e outros,como a Novíssima Gramática de Cegalla: "HAJAM" vista os livros, fica a pergunta: Que temos em Rui: "HAJAM VISTA" as cartas da Inglaterra? -HAJA VISTA "às" cartas da Inglaterra, ou: "haja vista [veja] as cartas da Inglaterra"?