O INCONFUNDÍVEL EMPREGO DE “JÁ QUE” E “POSTO QUE”

No dia a dia, não têm sido raros os equívocos até mesmo de bons escritores que confundem a locução conjuntiva “posto que” com as locuções conjuntivas “já que”, “visto que”. É preciso, pois, ter muita cautela! A locução conjuntiva “posto que” equivale a “embora”, “apesar de que”, “ainda que” — é, portanto, uma conexão concessiva. Por sua vez, as locuções conjuntivas “já que”, “visto que” introduzem uma “causa”.

Exemplos:

Hermenegilda deverá ser reintegrada ao emprego já que goza de estabilidade. [= “visto que”]

Tibúrcio não poderá ser demitido, já que goza de estabilidade sindical. [= “porque”]

“Pois essa que fui ontem continuarei a ser, já que Deus não quis que fosse a outra, que viu da primeira vez.” (José de Alencar) [= “visto que”]

Posto que fosse um dos cidadãos mais ricos da comunidade, vestia-se como um homem pobre. [= “conquanto”]

Posto que gozasse de estabilidade no emprego, Tibúrcio foi sumariamente demitido da empresa. [= “embora”].

“Gênio político de esfera muito curta, posto que de brilhantes talentos jurídicos e parlamentares, o visconde de Ouro Preto capacitou-se de que o melhor serviço que podia prestar à monarquia era alardear os recursos.” (Rui Barbosa) [= “ainda que”]

Obs.: Existem também outros conectores que estabelecem relações de oposição concessiva, como, por exemplo, as expressões “a despeito de”, “não obstante”, “malgrado”.

Exemplos:

“Não obstante” fosse pobre, gostava de vestir-se das melhores grifes da cidade.

Ludêncio viajou para a Síria à procura da bela Filisbina, “a despeito dos avisos” de que lá é um país violento.

Nada obstante, jamais deixaremos de atentar para o fato de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” — B. Calheiros Bomfim.

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?