IMPORTANTÍSSIMO: EM QUE GÊNERO USAR UMA PALAVRA? [OUTRO ENFOQUE]

Lendo a excelente pesquisa acadêmica feita pelo Prof. DOMINGOS IVAN acerca do gênero do vocábulo TRAMA, resolvemos, como simples estudioso da Língua Portuguesa, expressar nossa humilde opinião a respeito do tema, ou seja, de que há, na língua, registro culto desse vocábulo como MASCULINO, não havendo, pois, de cogitar-se em eventual erro.

Colhemos, do surpreendente livro “NÃO É ERRADO FALAR ASSIM!”, Parábola Editorial, 1ª ed., 2009, p. 74, do renomado linguista e professor MARCOS BAGNO, a interessante lição sobre a mudança de gênero de alguns substantivos na Língua Portuguesa, vazada nos seguintes termos:

“Abaixo segue uma tabela para você ver algumas palavras que, ao longo dos séculos, mudaram de gênero em português, sem que isso tivesse representado nenhum problema para ninguém. Em seguida, alguns exemplos da literatura antiga em que essas palavras aparecem usadas com o gênero diferente do que elas têm hoje em dia.

ANTIGAMENTE / HOJE EM DIA

a cometa / o cometa

a cume / o cume

a fantasma / o fantasma

a fim / o fim

a grude / o grude

a louvor / o louvor

a mapa / o mapa

a mar / o mar

a planeta / o planeta

a tigre / o tigre

o árvore / a árvore

o catástrofe / a catástrofe

o foca / a foca

o hipérbole / a hipérbole

o linguagem / a linguagem

o linhagem / a linhagem

o origem / a origem

o tribo / a tribo”

• “A planeta que chamam Júpiter que é uma das sete planetas...” (O Livro da Corte Imperial, s. XIV)

• “Apareceu no céu da parte do oriente uma cometa...” (Castanheda, s. XVI)

• “Juraram todos os doze tribos de Israel”. (Pe. Antônio Vieira, s. XVII)

• “Um famoso catástrofe”. (Pe. Antônio Vieira, s. XVII)

• “Da fim de agosto até a fim de outubro”. (João de Barros, s. XVI)

• “Em linguagem grego”. (S. Josafate, s. XVI)

• “Revestiu-se de noite de uma fantasma medonha”. (Pe. Antônio Vieira, s. XVII)

• “Que só dos feios focas se navega”. (Camões, Lusíadas, I.52, 1580).”

Especificamente em relação ao gênero do vocábulo TRAMA, é bem verdade que a maioria dos dicionários [AULETE, AURÉLIO e HOUAISS] registra apenas o gênero feminino para tal substantivo. Não obstante isso, o não menos renomado dicionário MICHAELIS registra TRAMA, na acepção de “ardil”, “astúcia”, “enredo”, “maquinação” ou “tramoia”, também como substantivo MASCULINO. Ademais, o grande dicionário MICHAELIS também classifica o vocábulo TRAMA nas acepções de “peste”, “inchaço” ou “doença”, como substantivo MASCULINO.

Aliás, e para pôr uma pá de cal sobre o assunto, releva assinalar que a 5ª e última edição [2009] do VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA - VOLP, na p. 804, registra o vocábulo TRAMA como substantivo MASCULINO e feminino.

Lembramos, por oportuno, que o VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTGUESA - VOLP é uma espécie de dicionário que lista as palavras reconhecidas oficialmente como pertencentes ao nosso idioma e lhes fornece a grafia oficial, muito embora não lhes dê o significado. É ele elaborado pela ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS - ABL, a qual tem a responsabilidade legal de editá-lo, em cumprimento à vetusta Lei Eduardo Ramos [Lei n.º 726, de 8 de dezembro de 1900]. Assim, pensamos que, diante da incumbência advinda de lei específica, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa goza de autoridade legal para, no campo da lexicografia, dizer o direito, motivo pelo qual, ao consultá-lo, devemos prestar-lhe obediência, como devemos fazer com respeito aos demais diplomas legais.

Assim sendo, temos para nós que, no sentido de "conspiração", o vocábulo TRAMA é também de gênero MASCULINO, segundo se infere dos seguintes e clássicos exemplos: “Uma carta, encontrada no cadáver do General Ramirez, descobriu O TRAMA contra a vida do ditador.” (Rui Barbosa, Cartas de Inglaterra, p. 333) / “Adiantou alguma cousa para mostrar que conhecia O TRAMA em preparação.” (Medeiros e Albuquerque, Minha Vida, p. 144).

Nada obstante, jamais deixaremos de atentar para o fato de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” — B. CALHEIROS BOMFIM.

É ou não intrigante nossa Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 20/04/2012
Reeditado em 20/04/2012
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