CHAMEI-O IGNORANTE, CHAMEI-O [DE] IGNORANTE, CHAMEI-LHE IGNORANTE, CHAMEI-LHE [DE] IGNORANTE

Em nosso modesto entendimento, todas as quatro construções são autorizadas na Língua Portuguesa, embora existam aqueles que, por razões por nós ignoradas, as rejeitem e as critiquem. Nada obstante, sobre a legitimidade das referidas sentenças, anota com mestria e propriedade o festejado gramático e dicionarista LUIZ ANTÔNIO SACCONI:

“chamar — na acepção de qualificar ou na de apelidar, usa-se de quatro maneiras diferentes, indiferentemente: 1. Chamar alguém palhaço. = Chamei-o palhaço. 2. Chamar alguém ‘de’ palhaço. = Chamei-o ‘de’ palhaço. 3. Chamar ‘a’ alguém palhaço. = Chamar-‘lhe’ palhaço. 4. Chamar ‘a’ alguém ‘de’ palhaço. = Chamar-‘lhe’ ‘de’ palhaço. 1. Como erra demais quando fala, a turma o chama Juca Kfuro. 2. Como só diz bobagem, a turma o chama ‘de’ Juca Kfuro. 3. Como ninguém mais acredita nele, a turma ‘lhe’ chama Juca Kifuro. 4. Como só diz asneira, a turma ‘lhe’ chama ‘de’ Juca Kifuro...” (Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e curiosidades da Língua Portuguesa, Editora Harbra, 1ª ed., 2005, p. 100).

O renomado gramático e imortal EVANILDO BECHARA, numa extensa relação de regências de alguns verbos e nomes, acerca do verbo CHAMAR, sentencia:

“No sentido de ‘mandar vir’ é transitivo direto; no de ‘dar nome’ é transitivo indireto...” (Moderna Gramática Portuguesa, Editora Lucerna, 37ª ed., 2004, p. 573).

O não menos culto filólogo VITTÓRIO BERGO leciona:

“CHAMAR-LHE — No sentido de dar nome a alguém o verbo ‘chamar’ se usa geralmente, na linguagem literária, com objeto indireto e predicativo: “Dito isto, ele pediu perdão por demais, ‘chamou-lhe criança’ e má cabeça, abraçou-a por força, chamou o cocheiro e partiu.” (CCB, Fani, 104). — Não é raro todavia o emprego com objeto direto, vindo geralmente o predicativo precedido da preposição ‘de’: “E se ‘o chamo de’ filho, perdoe: é balda de gente madura. Poderia ‘chamar-lhe irmão’, de tal maneira somos semelhantes, sem embargo do tempo e do pormenor físico.” (CDA, Bolsa e Vida, 114).” (Erros e Dúvidas de Linguagem, Livraria Francisco Alves Editora, 7ª ed., 1988, p. 90).

Para os grandes HAMILTON ELIA e SÍLVIO ELIA:

“Chamei de cigano”. No sentido de “dar nome”, “pôr nome de”, “apelidar”, o verbo chamar admite a regência direta e a indireta. Diz-se “chamá-lo alguma coisa”, “chamar-lhe alguma coisa” ou “chamá-lo de alguma coisa”. A última sintaxe, que se arcaizou em Portugal, é viva entre nós. (Sousa da Silveira). (100 Textos Errados e Corrigidos, Livraria Francisco Alves Editora, 27ª ed., 1985, p. 188).

Entretanto, jamais nos esqueceremos de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” – B. CALHEIROS BOMFIM.

A Língua Portuguesa — sempre o sustentamos — tem lá seus mistérios e caprichos...

David Fares
Enviado por David Fares em 06/04/2012
Reeditado em 06/04/2012
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