IMPORTANTES NOTAS SOBRE O PRONOME “LHE”
Certamente o pronome LHE é, dentre todos os pronomes, aquele que mais dificuldade tem demonstrado o seu emprego. Ele é mal empregado [aplicado] tanto pelos “incultos” como por muitos, presumidamente, “cultos”. A confusão nasce do “desconhecimento generalizado do vernáculo” e da “ignorância da regência verbal”. O pronome LHE, sendo oblíquo [dativo] da 3ª pessoa, corresponde aos casos retos [acusativo] O e A. Assim sendo, só se deve empregar o pronome LHE quando o verbo pedir OBJETO INDIRETO, correspondendo, nesse caso, a [A ELE] ou [A ELA]; os pronomes [O/OS] e [A/AS], sendo casos retos, empregam-se quando o verbo exigir OBJETO DIRETO e substituem nomes não preposicionais. Entretanto, quando os verbos transitivos vierem acompanhados de um OBJETO DIRETO e do pronome LHE, este assumirá a função de POSSESSIVO [= seu, sua, seus, suas].
— Exemplos de emprego ERRADO do pronome LHE:
a) Cumprimentei-lhe e o senhor não me respondeu. Diga-se: Cumprimentei-o e o senhor não me respondeu. O verbo cumprimentar pede objeto direto; quem cumprimenta, cumprimenta alguém e não “a” alguém.
b) É esta a segunda vez que lhe vejo hoje. O correto será: É esta a segunda vez que o/a vejo hoje. Vê-se uma pessoa, uma coisa; e não, “a” uma pessoa, “a” uma coisa.
c) Vim lhe procurar e não lhe encontrei. Duplamente errada; diga-se, pois: Vim procurá-lo(la) e não o(a) encontrei. Quem procura, procura alguém ou um objeto, e procurando-o, provavelmente o encontrará.
d) O professor obrigou-lhe a estudar. Deverá dizer-se: O professor obrigou-o(a) a estudar. Obriga-se alguém e não “a” alguém a fazer alguma coisa.
e) Iludiram-lhe, facilmente. Deve ser: Iludiram-no(na), facilmente. Entretanto, dir-se-á: Iludiram-lhe a vigilância, pois, sendo vigilância, objeto direto, o LHE funciona ali como POSSESSIVO.
— Exemplos de emprego CORRETO do pronome LHE:
a) Perdoo-lhe de bom coração. Quem perdoa, perdoa a alguém: a alguém é o objeto indireto, caso em que se emprega o oblíquo LHE.
b) Escrevi-lhe uma carta. Escreve-se a alguém: uma carta é objeto direto, sendo “a ele” ou “a ela”, isto é, a alguém, substituindo por LHE, objeto indireto.
c) Resisti-lhe com toda a energia. Com efeito, não se resiste alguém, mas a alguém.
d) Aceite um abraço do amigo que lhe quer. Pode querer-se uma coisa — objeto direto — porém, “querer-se bem a alguém”. Diga-se, pois: Quero-o para mim [objeto] e quero-lhe tanto quanto a mim [pessoa].
e) Agradeço-lhe as palavras amigas. Quem agradece, agradece a alguém, alguma coisa.
Texto embasado nos opúsculos “GUIA PARA ESCREVER BEM”, Livraria Freitas Bastos S. A., 2ª ed., 1966, de FERÚCCIO FABBRI, e “TIRA-DÚVIDAS DE PORTUGUÊS”, Edições de Ouro, s/d, de LUIZ A. P. VICTÓRIA.