Língua e a noção de erro
Falar sobre a nossa língua é na verdade um assunto polêmico e desafiador.Isso ocorre porque existem vários aspectos que , para a maioria das pessoas, não estão claro, como por exemplo: há uma tendência quase geral em se acreditar que existe apenas uma única norma, e por sua vez, uma única forma de escrever e falar corretamente.Sendo assim, não é raro vermos em nossos dias, uma imposição de uma única norma (norma culta ou norma padrão)ignorando-se ou até mesmo despresando-se as normas populares,istoé,as formas de comunicação das classes excluídas socialmente, que tem baixa escolarização ou até mesmo nenhuma , e sofrem em decorrência da má distribuição de renda no Brasil.Esta norma popular predomina nos ambientes rurais onde o grau de escolarização é nulo ou muito baixo.Predomina também nas periferias das cidades.
Como já foi exposto, existe muita opacidade nas questões que envolvem a língua portuguesa, pois muitos indivíduos reduzem as questões que diz respeito á nossa língua à uma simples atitude de se falar certo ou errado,no qual toda problemática seria resolvida apenas consultando uma boa gramática,e neste caso, caberia às gramática normativas a palavra final.
A palavra gramática em grego significa na origem ,a arte de escrever.Os fundadores da disciplina chamada gramática desprezava-se a língua falada(considerada caótica ,ilógica)e também classificavam a mudança da língua ao longo do tempo de uma “ruína” ou “decadência“ .Na verdade poucos setores da sociedade discutem os aspectos sócias e econômico que envolvem o uso da língua portuguesa.Por exemplo:as desigualdades sócias que acarretam o desemprego,a fome ,o analfabetismo no Brasil que é na verdade resultado da má distribuição de renda e que por sua vez faz com que milhões de pessoas sejam excluídas socialmente.Tudo isso resulta, numa minoria da ,população, que alem de possuírem uma renda vertiginosamente maior que a maioria , são escolarizadas e falam de acordo com uma norma dita culta ,norma essa,que mais se aproxima da norma padrão,; também temos por outro lado ,uma maioria nem sempre escolarizadas que além de serem vítimas da exclusão social são detentoras de uma norma popular estigmatizada.
Para Marcos Bagno o fato de se criticar alguém pelo seu modo de falar “errado” é o mesmo que dizer que esse alguém é errado,tal atitude é caracterizado como um preconceito lingüístico que esmaga a auto-estima dos cidadãos,além disso, essa ideologia provoca no individuo um profundo sentimento de auto-aversão,isto é ,um senti
mento de desgosto pelo próprio modo de falar,de pensar e mais uma vez de ser.
Segundo Bagno, na pratica pedagógica tradicional, ensinar português é querer provar que a língua boa, certa ,bonita vive do outro lado do atlântico á milhares de quilômetros,falada pelos habitantes de um paraíso lingüístico chamado Portugal:dez milhões de pessoas que,ao contrario de 190 milhões de brasileiros, falam tudo certinho,não cometem “mistura de tratamento” e nunca mas nunca mesmo começam uma frase com pronome obliquo.Ensinar português, portanto,seria então, firmar e afirmar,confirmar todo folclore,toda superstição que gira bem em torno dos fatos lingüísticos na nossa cultura : “Português é muito difícil” “brasileiro não sabe português”,ou seja ,falamos uma língua “emprestada”que não respeitamos e que ao contrario abastardamos o tempo todo.
Marcos Bagno defende que, é preciso se ensinar estudar o brasileiro, pois ,para ele , estudar o brasileiro é ter uma visão mais sintonizada como pensamento cientifico contemporâneo.É admitir que a gramática tradicional depois de 2,300 anos de soberania é uma página virada da história, representa uma etapa já concluída da evolução do conhecimento humano sobre o fenômeno da linguagem.Que foi uma contribuição importante mas que é preciso ir além dela,avançar ,criar conhecimento novo.
Estudar o brasileiro é não se contentar com que vem pronto, é não querer reproduzir sem crítica uma doutrina transmitida intacta durante séculos a fio.É buscar construir seu próprio conhecimento,é contrastar os resultados da pesquisa com os postulados tradicionais.É reconhecer a diferença entre o que é e o que alguns poucos acham que deveria ser.
Estudar o brasileiro é dar voz língua falada e escrita aqui no Brasil,bem maior que Portugal habitado por uma população bem mais numerosa.É perceber que todas as línguas mudam,que toda língua é um grande corpo em movimento,em formação e transformação, nunca definitivamente pronto.
Por tudo que já foi exposto, é preciso então se levar em conta que, por ser o português uma língua com muitas variações,e por conta disso heterogênea ,é impossível se avançar nos estudos da língua tomando só por base a imposição de uma única norma,entretanto não podemos defender o outro extremo,ou seja,o desprezo pela gramática normativa pois a mesma continua sendo bastante necessária para o ensino da língua .A insistência em ignorar a importância das gramáticas normativas revelaria uma falta de compromisso com espírito cientifico, além de um pretexto para reprodução de um outro preconceito.