ADVÉRBIOS TERMINADOS EM “-MENTE”

Há quem, no Brasil e em Portugal, considere tautofônica a frase em que aparecem vários advérbios terminados em “-MENTE”.

De fato, pode-se, a bem do estilo, suprimir esse sufixo de todos os advérbios e conservá-lo somente no último, como nos clássicos exemplos que se seguem:

“Já a aplaudi rápida e sincera[mente].” (Machado de Assis, Crônicas, I, p. 370).

“Ao cair do dia, as janelas do paço estavam iluminadas interior e exterior[mente].” (Alexandre Herculano, O Monge de Cister, II, p. 249).

Nada obstante, a reiteração do sufixo “-MENTE” numa sequência de advérbios, embora condenada por alguns mestres, os quais a consideram cópia do francês, é admissível nas afirmações solenes ou enfáticas. Sirvam de exemplos estas clássicas citações:

“Assim que, em suma, logica[mente], juridica[mente], e tradicional[mente], não há outra maneira legítima de nos exprimirmos...” (Rui Barbosa, Réplica, p. 44).

“Era esmigalhado nele pela mão do próprio namorado, macia[mente], amorosa[mente], interminavel[mente]...” (Machado de Assis, A Semana, I, p. 236).

“A sociedade é materialista; e a literatura, que é a expressão da sociedade, é toda excessiva[mente] e absurda[mente] e despropositada[mente] espiritualista!” (Garrett, Viagens na Minha Terra, p. 27).

“A convicção do meu triste infortúnio lenta[mente], suave[mente], aniquilou-se num conforto de prostração, e eu dormi.” (Raul Pompéia, O Ateneu, p. 45).

Em linguagem, como bem se sabe, o fato é tudo, pouco importando o que diz o forjicador de regras, se ele vai de encontro ao ensino, ao testemunho dos escritores modelares.

Entretanto, jamais nos esqueceremos de que “As razões da divergência são mais úteis do que as da concordância, porque suscitam reflexão e o reexame de nossas opiniões.” – B. CALHEIROS BOMFIM.

A Língua Portuguesa — sempre o sustentamos — tem lá seus mistérios e caprichos...

David Fares
Enviado por David Fares em 01/04/2012
Reeditado em 01/04/2012
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