Com Ou Sem Elipse? (Segunda Parte)
Vasco Botelho de Amaral, nos idos de 1947, escreveu em sua Gramática, além de outras, estas palavras:
" Elipses.Em terminologia gramatical, QUALQUER OMISSÃO OU SUBENTENDIMENTO DE PALAVRA OU PALAVRAS CHAMA-SE, como toda a gente deve saber, ELIPSE, que, pelo latim elipsis, nos veio do grego elieipsis, isto é, falta. Diz-se, pois, ocorrer elipse, quando UM ou MAIS DOS ELEMENTOS ORACIONAIS ESTÁ OU ESTÃO OCULTOS NA EXPRESSÃO,MAS EVIDENTES PELO PENSAMENTO, PELO SENTIDO...."
-Mário Barreto,você ouviu falar sobre elipse e não entendeu ou nem sequer quis entender? E você Vittório Bergo?
ELIPSE, Mário Pereira, É A OMISSÃO DE UM DOS TERMOS DA FRASE OU DA ORAÇÃO, SENDO FACILMENTE SUBENTENDIDO. Ex.:
" A S. Ex. o Sr. Dr. Chefe de Polícia, em 3 de maio de 1864. A casa misteriosa da rua do Ouvidor número 93, canto da dos Ourives, continua fechada em benefício dos ratos e prejuízo dos cofres públicos. Este encerramento é um mote,com ou sem fundamento..." (Machado de Assis - Dr.Semana 1861 - 1864.)
Observe, sr. Laudelino, ...canto da(?).... com (o quê?) -"... canto da (rua) dos Ourives,....., com(fundamento) ou sem fundamento...." Foi exatamente isso que Machado de Assis escreveu, empregando corretamente a elipse.
Muitos, ignorando tal recurso, próprio das línguas, ensinam esta ridícula e desastrosa doutrina infundada:
" As preposições COM e SEM expressam sentido contrário. NÃO PODEM, PORTANTO, TER COMPLEMENTO COMUM: -Irei COM ou SEM dinheiro. O certo é: -Irei COM dinheiro ou SEM ele." (J.Nelino de Melo - Estudos Práticos de Gramática Normativa da Língua Portuguesa, p.146 -1968.)
-É ou não ridículo o que estão fazendo com a língua portuguesa?
É ou não (é) ridículo.... (elipse do verbo) -" A literatura de um povo é o desenvolvimento do que ele tem de mais sublime nas ideias, de mais heróico na moral e de mais belo na natureza; é o quadro animado de suas virtudes e de suas paixões, o despertador de sua glória e o reflexo progressivo de sua inteligência...." (Discurso Sobre a História da Literatura - Machado de Assis.)
Mas qual tem sido, infelizmente, o reflexo progressivo da inteligência nacional? -Na verdade tem sido uma calamidade internacional.Dizer ou escrever: "Irei COM dinheiro ou SEM ele" é o mesmo que dizer ou escrever: "Irei COM dinheiro ou SEM dinheiro." -"Irei COM ou SEM dinheiro." -ESTOU com VOCÊS ou ESTOU sem VOCÊS? (Elipse é a omissão de UM DOS TERMOS da frase ou da oração, sendo facilmente subentendido: ESTOU com (VOCÊS) ou (ESTOU) sem VOCÊS?
" Estou COM ou SEM vocês?" (Doutor Napoleão M.de Almeida.)
Ou! (interjeição) A conjunção alternativa ou, como tudo, de qualquer língua, também exige muita atenção.
Said Ali: "... ou do sétimo exemplo exclui o fato anterior: 7- Ele a estas horas estuda ou faz ginástica" (Gramática Secundária).
Em outras palavras, só que dizendo a mesma coisa: Ele a estas horas estuda ou faz uma coisa ou outra: Estuda ou faz ginástica.
Já a oração: Ele a estas horas estuda e faz ginástica -significa que ele a estas horas estuda mas ao mesmo tempo faz ginástica.
Eis um exemplo. Vittório Bergo, pegue este chapéu. Agora preste atenção na elipse: Você quer sair com chapéu ou (-) sem chapéu?
-Quero sair sem chapéu.
-E se dissesse:"Quero sair SEM," quem não entenderia? E se fosse apenas "SEM"? Elipse é isto: Você quer sair com chapéu ou (você quer sair) sem chapéu? -SEM (chapéu).
-Você quer sair com(-) ou sem chapéu?
-Sem.
-Pois então saia, depois volte.
-Já posso entrar?
-Entre e sente-se Vittório.E então, a que conclusão você chegou?
-Rigorosamente devemos dizer: Sair com chapéu ou sem ele. Logo, cheguei a seguinte conclusão: "... por serem autônomas [as preposições com e sem] não podem convir a um só termo, em frases como com e sem chapéu...."
-Vittório, há de convir (=concordar) comigo: "... não podem convir (=concordar) a ou com um só termo,..."?
-"... por serem autônomas [as preposições com e sem] não podem convir (=concordar) com um só termo, em frases como COM e SEM chapéu...."
-Por que não? No seu livro você nos afirma: " Em rigor deve-se dizer: Com chapéu e sem ele." Ora, "ele" nessa frase significa chapéu.
Feche os olhos. Vou colocar o chapéu em sua cabeça. Ande 1km com ele e pare. Tire-o agora e volte. Pare. Abra os olhos e nos responda:
Você andou ou não COM CHAPÉU E SEM CHAPÉU?
-Andei sim, COM chapéu e SEM ele.
-Logo andar COM CHAPÉU E SEM CHAPÉU além de possível é correto.Idem andar COM CHAPÉU E SEM ELE: aqui "ele" significa chapéu.Então onde está o erro de andar COM E SEM CHAPÉU?
Cabeça de Vento, você Não estudou NADA sobre REGÊNCIA IRREGULAR? Que é elipse?
Mário Barreto tomou as dores e assim se posicionou: "Sendo,pois,as preposições COM e SEM contrárias, NÃO PODEM CONVIR a [COM] um só termo, DESCUIDO que se comete com exemplos tais como COM ou SEM apoio, COM ou SEM ardor, COM ou SEM prática etc (COM ou SEM chapéu -resmungou Vittório Bergo)....Pode-se trabalhar COM ardor ou SEM ardor, mas trabalhar COM ou SEM ardor a um só tempo é de todo impossível. Diga-se,pois, COM ardor ou SEM ele, que NÃO PECAREMOS CONTRA A SINTAXE...."
Mário Barreto é grande e aqui ninguém está negando isso.Porém,nesse caso,maior do que ele é a sua própria ignorância,COM ou SEM elipse, teria ele cheirado chulé?
-Pode-se trabalhar COM ardor ou SEM ele.
-Pode-se trabalhar COM ardor ou SEM ardor.
-Pode-se trabalhar COM ou SEM ardor.
Nessa mesma esteira Vittório:
-Pode-se andar COM chapéu e SEM ele.
-Pode-se andar COM chapéu e SEM chapéu.
-Pode-se andar COM e SEM chapéu.
Tais expressões além de corretas são genuinamente portuguesas. Elipse,pleonasmo,anacoluto,zeugma etc: Ou! "Estou COM ou SEM vocês?"
Mas a esta altura, Gil Vicente com seu Auto da Índia já havia seduzido Lemos: "Que foi do vosso passear, COM luar e SEM luar."
Drummond rasgou o Mito: "... talvez dance no cassino OU, E será mais provável, talvez beije ...."
-"... COM ruínas SEM conto E o resto E a fome..." (cochichou Herculano no ouvido de Eurico, O Presbítero).
-Façam silêncio,por favor! Já a oração: Sair com chapéu ou sair sem chapéu, além de possível, é também correta.
Como já disse muito bem Said (Gramática Secundária), a conjunção ou aí exclui o fato anterior.
Você, por exemplo, sai com (-) ou (-) sem chapéu?
Não há dúvidas, a conjunção e " estabelece ao mesmo tempo a junção de ideias e a junção material de palavras; a conjunção ou, MUITO PELO CONTRÁRIO, só é um elemento conectivo porque estabelece materialmente a junção de uma oração com outra; materialmente une, mas formalmente desune." (Doutor Napoleão - Gramática Metódica.)
Ou! (interjeição) Preste atenção.
Carneiro Ribeiro: " COM razão ou SEM ela."
Américo Paz: COM razão ou SEM razão.
Rui Barbosa: " COM ou SEM razão."
NÃO HÁ ERRO ALGUM NESSA FRASE DE RUI (OBRAS SELETAS,VOL.VII -www.portalsãofrancisco.com.) ISSO QUE ELE CORRETAMENTE EMPREGOU EM GRAMÁTICA CHAMA-SE ELIPSE.
E a MELHOR DO BRASIL E DO MUNDO CHAMA-SE GRAMÁTICA METÓDICA DA LÍNGUA PORTUGUESA -DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA - abra-a em REGÊNCIA IRREGULAR - ELIPSE.
Pode ser, mas dizem os estudiosos do idioma: "Exceto(=menos) o advérbio 'não' qualquer outra negativa pode contribuir para reforço de outra...". E você um pouco acima me perguntou se eu NÃO estudei NADA de regência irregular."E agora José?"
-Nesse tempo, Vittório Cabeça de Vento, a língua ainda estava se ajustando: "Nem não veio homem nenhum não,nem não veio não nenhuma mulher não."
Essa era a linguagem comum, primitiva do povo, não do Brasil, não brasileira, a qual Mário de Andrade utilizou, sabe-se lá com que propósito.
-"Eh! dessa ele NUNCA poderia esquecer NÃO."(Macunaíma.)
O Brasil não tem língua brasileira,teria o tupi e outras as quais sucumbiram-se.O americano fala língua americana? O povo inglês fala a língua inglesa.Idem os americanos.O povo português fala o português.Idem os brasileiros.Logo escrever: "ele NUNCA poderia esquecer NÃO," ainda é retratar o primitivismo da língua portuguesa.
Nessa época, "... para o povo o acúmulo de negativas indica reforço. Entende a gente de letras,pelo contrário,que negar o negado equivale a afirmar; MAS ABRE EXCEÇÃO - ADMITINDO, POIS, QUE SE SUSPENDA ESTE RACIOCÍNIO - desde que o novo termo NÃO ANTECEDA o advérbio não...."(Said Ali.)
Isso por si só,Vittório Cabeça de Vento, deveria lhe bastar:
" O capitão, que NÃO caía em NADA;" (Os Lusíadas.)
E Said conclui: " Segundo esta doutrina, ACEITA NA LINGUAGEM LITERÁRIA DO PORTUGUÊS, É LÍCITO DIZER: Na fronteira NÃO havia NEM um só prego,.... NEM outra coisa NENHUMA...." (Gramática Histórica da Língua Portuguesa, Said Ali - Obra vencedora do primeiro prêmio Francisco Alves de 1921 e de 1927.)
Dr.Napoleão: ".....Literariamente a língua portuguesa começou a construir-se no lapso do século 12, com a fundação da monarquia em 1139...." (Gramática Metódica.)
Logo NÃO podemos NUNCA concordar com esta estupidez "no entorno de" ao invés do correto emprego da LOCUÇÃO PREPOSITIVA: " ... tudo gira SEM dúvida EM TORNO DE Manuelzão..."(Guimarães Rosa - Manuelzão e Miguelin.)
Será que Vittótio Bergo e outros Cegollas querem aniquilar a língua portuguesa?
"....Palágio NÃO aceitará Nunca..." (Afirmou-nos Herculano -Eurico,O Presbítero.)
Castilho assim também respondeu: " NÃO vi coisa NUNCA JAMAIS que tanto horror me produzisse." E o DOUTOR Napoleão O assistiu (= prestar assistência,ajudar - Gr.Metódica,p.469),enterrando-o em paz:"NÃO fez guerra NENHUMA.... -NÃO fez guerra ALGUMA SÃO FORMAS CERTAS...."
Amigo, NON modo NON audiam (=NÃO só NÃO ouça) Vittório Bergo sed etiam (=mas também) non audiam(=não ouça) outros Cegollas.
Machado, conhecedor que era da elipse, apenas a empregou corretamente: "com (-) ou sem luto..." - "com (-) ou sem projetos."
Júlio Ribeiro: " A omissão faz-se pela figura elipse. Consiste a elipse na supressão de uma ou mais palavras fáceis de subentenderem-se" (Gramática Portuguesa, 1881).
E que palavras facilmente subentendemos nestes exemplos:
- " com (-) ou sem razão" (Rui Barbosa);
- " com (-) ou sem luto" (Machado);
- " com (-) ou sem flexão" ( Said Ali);
Vittório Bergo CEGOLLA, sair com E sem chapéu NÃO foi e JAMAIS será a mesma coisa que sair com OU sem chapéu.
Quem não aprende certo é óbvio que ensina errado. Até Você, Laudelino "Brutus"?
" Nos casos em que duas preposições diversas.... regem o mesmo nome, a REGRA não é calar o termo com a primeira preposição."
Por que não "Brutus"? De onde você tirou essa regra?