O BRASIL: UM PAÍS PROVINCIANO, QUE SE ENVERGONHA DE SI E POR ISSO É TÃO RECEPTIVO A ESTRANGEIRISMOS (II): AS MUDANÇAS NO IDIOMA, O GERUNDISMO POR ABUSO, O GERUNDISMO INDEVIDO, O REGIONALISMO.

No texto anterior, discutimos como o sentimento de inferioridade cultural no Brasil é responsável pela enxurrada de estrangeirimos no nosso léxico. Vimos que esse fato teve origem na nossa condição de colônia (de exploração) e se perpetua até hoje.

“E a história da língua ensina que roubaremos sem piedade palavras de outros países que se tornarem importantes. Como o mandarim dos chineses é uma língua exótica demais para nossos ouvidos, a previsão é de que surjam regalos do espanhol, já que o Brasil aumentou o intercâmbio com os seus vizinhos e tudo indica que os hispânicos devem ser a maioria dos EUA até o final do século”. Simplesmente “ ficamos com diversos termos do inglês tais como eram na origem. Foi assim que nasceram o "xis-tudo" (de cheese)..., os serviços "delivery", a "customização" de roupas e a "equalização" do som”.

Diante da influência avassaladora do estrangeirismo, os regionalismos tentam resistir: “Para não se perderem na globalização, alguns grupos passam a valorizar suas diferenças, e uma delas, claro, é a língua. O R caipira, que chegou a ter sua extinção anunciada no início do século 20, continua firme e forte, assim como o "tu" gaúcho e o chiado carioca não cederam a nenhuma padronização” Há precedentes: Os antigos dialetos de Milão e Turim são hoje aprendidos pelos italianos. As mudanças no idioma, independentemente de reformas oficiais, ocorrem no dia a dia por seus falantes. E elas são mais rápidas na fala do que na escrita. “ Os gramáticos e os dicionários, que prezam pelo bom uso da língua, demoram mais para consagrar mudanças...Para evitar o descompasso entre língua falada e escrita, órgãos como o Instituto Houaiss... vão aderindo aos poucos às inovações, colocando novos significados e usos em seus verbetes”(EDUCAR PARA CRESCER).

A seleção oral muda também os tempos verbais. As formas simples do pretérito mais-que-perfeito e do futuro do presente estão sendo substituídas por perífrases (Eu tinha falado, eu vou falar).

Dizem ser o gerundismo a estrutura natural do português brasileiro. Não é bem assim. É outra influência externa, novamente a da inglesa. Quanto ao abuso do gerúndio, devemos ter dois fatos em mente: 1) Do inglês não importamos apenas vocábulos sem aportuguesá-los ou traduzi-los, não. Sabe-se que a “ING FORM” é largamente usado em inglês, seja como gerúndio, com particípio passado ou como substantivo. Muitos tradutores, sobretudo em livros didáticos, para facilitar a tradução de textos e frases, fazem-na de forma textual. Não se preocupam em traduzi-los “adaptando-os” melhor ao nosso idioma. Daí nossa “tendência” ao gerundismo (influência do inglês); 2) Mesmo nos casos legítimos, pode haver gerundismo: Sua exagerada repetição num mesmo parágrafo ou texto, causa um eco horroroso. Aliás, ecos (“rimas nas prosas”) ocorrem em muitos outros casos (que, palavras terminadas em som nasal, em mente, ante, e muitas outras), mas o abuso do gerúndio é particularmente cacofônico.

O gerundismo ilegítimo não é fenômeno tão antigo. É recente, mas largo. Virou compulsão geral. Em todo lugar ( telefone, filas, reuniões, e-mails) ouvimos ou lemos alguém usando IR+ ESTAR+ GERÚNDIO ou IR+ ESTAR+ PODER+ GERÚNDIO: “ Vou estar anlisando...”, “vou poder estar olhando...” O uso dessas locuções se indicarem ações contínuas (“ele amanhã vai estar estudando o dia todo ”) ou simultâneas ( “ela vai poder estar dormindo na viagem”), não se deve falar em erros, mas ao nos referimos a uma ação pontual, isolada, sem duração (“vou estar passando essa informação assim que ele chegar”), constitui caso típico de gerundismo indevido.

Pedro Cordeiro
Enviado por Pedro Cordeiro em 04/03/2012
Reeditado em 05/03/2012
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