HÁ TRÊS MESES ATRÁS? POSSO? [OUTRO ENFOQUE]

Depois de ler e de refletir atentamente sobre o texto “HÁ TRÊS MESES ATRÁS? POSSO?”, de autoria do Prof. DOMINGOS IVAN, ilustre recantista, resolvemos, como simples estudioso da Língua Portuguesa, expressar nosso humilde entendimento acerca da flexibilização da referida sentença nos dias de hoje, o que fazemos com espeque em dois posicionamentos de peso.

Acerca da tão combatida correlação “HÁ... ATRÁS”, leciona o grande filólogo e professor CELSO PEDRO LUFT:

“há... atrás — Em expressões como 'há um ano atrás', 'há dez anos atrás', etc., 'há' e 'atrás' são redundantes. Preferível sem redundância, 'há um ano', ou 'um ano atrás'. Em todo caso, tais redundâncias se legitimam pelo uso.” (ABC da Língua Culta, Editora Globo, 2010, p. 197).

O renomado linguista MARCOS BAGNO, por sua vez, depois de tecer longas considerações sobre a legitimidade deste tipo de sentença entre nós, arremata:

“O uso do advérbio ‘atrás’ com verbo ‘há’ não tem nada de redundante, nem de pleonástico, muito menos de vicioso. É um simples caso de ‘ênfase’, de ‘reforço’ expressivo, principalmente por que o verbo ‘há’ é um monossílabo, uma palavra pequena e fraca, de modo que, para deixarmos bem marcado que se trata de algo no passado, usamos o ‘atrás’. Além disso, como também usamos ‘há’ para indicar algo que começou no passado e prossegue no presente — como em “Moro em Brasília ‘há’ trinta anos” —, pode ser que nós tenhamos necessidade de distinguir essa expressão de um evento que começou e prossegue de outra expressão referente a algo que começou e terminou no passado: “Morei em Brasília ‘há’ trinta anos ‘atrás’”, ou seja, não moro mais.

É a mesma busca de expressividade, a necessidade de enfatizar a ideia, o sentimento, a atitude com relação a algo que nos leva a dizer ‘subir para cima’, ‘entrar para dentro’, ‘sair para fora’, ‘voltar para trás’, ‘encarar de frente’ e tantas outras construções que, apesar da patrulha purista, estão vivas e fortes na nossa língua diária.” (Não é Errado Falar Assim!, Parábola Editorial, 1ª ed., 2009, p. 186).

A Língua Portuguesa — sempre o sustentamos — tem lá seus mistérios e caprichos...

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 03/03/2012
Reeditado em 03/03/2012
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