EXISTIRIAM OS VOCÁBULOS “AGRONOMANDO”, “FARMACOLANDO”, “ODONTOLANDO”, “NORMALANDA” E “NORMALISTANDA” ?
Todos nós sabemos que o vocábulo “doutorando” é derivado verbal de “doutorar”.
Nada obstante, tem sido comum no término dos cursos, notadamente superiores, nos convites de formatura, lerem-se vocábulos como “agronomando”, “farmacolando”, “odontolando”, “normalanda” e “normalistanda”.
Existiriam, porventura, os verbos “normalistar”, “odontolar”, “farmacolar”, “normalar”, “agronomar” ? Sinceramente, achamos que NÃO!
Pelo menos no excelente “DICIONÁRIO DE VERBOS E REGIMES”, do grande e imortal FRANCISCO FERNANDES e no renomado "DICIONÁRIO PRÁTICO DE REGÊNCIA VERBAL", do não menos culto CELSO PEDRO LUFT, para nós, os mais completos em termos de regência verbal, NÃO há registro desses “verbos”.
Ora, o gerúndio substantivado, em nosso modesto entendimento, só deveria ser usado se nos lembrasse o verbo de que é derivado
Usa-se justamente um gerúndio substantivado quando se quer evitar uma perífrase, uma frase mais ou menos extensa, cujo sentido se resume no gerúndio.
O “gerundiamento” de substantivos é um fato da linguagem do Brasil, de escritores que deveriam pensar no emprego do particípio do futuro passivo em latim.
“Convenho em que ‘farmacolando’ é bárbaro demais para que o aceitemos com facilidade.” (Aires de Mata Machado Filho).
“Engenheirandos e bacharelandos são termos consagrados nos discursos e quadros de formatura.” (Mário Bouchardet).
Embora de todo estranhas e arbitrárias essas criações modernas, vêm elas ganhando terreno...! São, como se sabe, produtos da influência analógica.
Aliás, dissertando acerca das perdas sofridas pelo latim literário, ensina o grande ROSÁRIO FERANI MANSUR GUÉRIOS que o particípio do futuro passivo ou gerundivo deixou vestígios em português: “adenda”, “bacharelando”, “corrigenda”, “diplomando”, “doutorando”, “examinando”, “legenda”, “oferenda”, “reverendo”, “venerando”, etc.
E arremata esse grande linguista: “Muitos destes exemplares são analógicos.” (Pontos de Gramática Histórica Portuguesa, p. 110).
“Formando”, por sua vez, liga-se a “formar-se”; mas a inusitada forma “farmacolando” só se explica, salvo engano, à luz da analogia.
É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?