OS NOTÁVEIS FEMININOS DE “CHEFE”, “MÚSICO” E “POETA”

Depois de ler e de refletir atentamente sobre o texto “Nunca é demais lembrar dos femininos dessas palavras...”, de autoria do ilustre recantista PEDRALIS, resolvemos, como simples estudioso da Língua Portuguesa, expressar nosso humilde entendimento acerca do feminino dos substantivos “CHEFE”, “MÚSICO” e “POETA”.

O FEMININO de CHEFE, por mais estranho até que pareça, é CHEFA, forma há muito defendida pelo nosso mais notável e expressivo gramático – NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA –, cuja autoridade acadêmica dispensa comentários.

“Chefe, chefa – A seguir os femininos giganta, hóspeda, monja, parenta, o feminino de chefe é chefa, mas tanto o vocabulário oficial português quanto o brasileiro dão chefe como substantivo de dois gêneros.

Os dicionários não costumam trazer o feminino e o plural após um substantivo masculino. Um dicionário traz separadamente o verbete mulher, mas após o verbete homem não diz: fem. mulher – nem pl. homens. Cabe à gramática, documentário dos fatos do idioma, cuidar da flexão.

O fato de não apresentarem os dicionários o feminino chefa após o masculino chefe não significa ser o substantivo chefe comum de dois. O Melhoramentos, dicionário de certo fundo didático, chega a declarar enfaticamente no fim do verbete chefe: fem. chefa. Certa é a construção: ‘Não se sabe que argumentos foram apresentados pela chefa do governo’.” (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, p. 92).

Aliás, em sua mais aclamada obra — Gramática Metódica da Língua Portuguesa, Editora Saraiva, 37ª ed., 1992, § 206, p. 104 —, o já falecido e saudoso gramático faz constar expressamente que o feminino de chefe é CHEFA.

O novo DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS 3 — já atualizado com a última reforma ortográfica —, já registra também a forma CHEFA, embora a apontando como feminino informal.

A forma POETISA — mulher que faz ou escreve poesia — é o feminino que temos no idioma para poeta. Escreve-se com [S], assim como os demais femininos de igual terminação: *EPISCOPISA, DIACONISA, PROFETISA, PITONISA, SACERDOTISA, etc.

* EPISCOPISA é, pelo menos na Língua Portuguesa, o único feminino que temos para BISBO, embora existam algumas senhoras se intitulando “BISPAS”.

Existe, releva assinalar, a forma POETIZA [com Z] do verbo POETIZAR.

Os dicionários, por sua vez, nada indicam sobre a possibilidade de se utilizar a forma POETA para mulher. Também em nenhuma obra séria de Literatura Portuguesa se encontra o termo POETA por POETISA.

E, para pôr um definitivo fim a eventuais controvérsias, vale transcrever a lição sempre oportuna e abalizada de nosso mais notável gramático, o Prof. NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, para quem:

“Poeta — Aumentativo pejorativo: poetaço, poetastro. É seu feminino poetisa." (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, pág. 423).

O FEMININO de MÚSICO (o profissional), embora até pareça estranho, é MÚSICA (a profissional). Há, de fato, coincidência com o substantivo música no sentido de “arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido”. Assim acontece igualmente com CLÍNICO GERAL (o médico) que faz o feminino em CLÍNICA GERAL (a médica).

E, para pôr igualmente um definitivo fim a eventuais controvérsias, vale transcrever a lição sempre oportuna e abalizada de nosso mais notável gramático, o Prof. NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, para quem:

“Músico — Coletivo, quando com o instrumento: banda, charanga, filarmônica, orquestra.

Feminino: Como de tribuno é tribuna, de químico, química, o feminino de músico (aquele que sabe música ou exerce a arte da música) é música.” (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, pág. 353).

Outro notável conhecedor do idioma pátrio - Prof. CÂNDIDO DE OLIVEIRA - em sua aclamada e conhecidíssima obra "Revisão Gramatical", Gráfica Biblos Ltda, 15ª ed., 1971/1972, ensina que os femininos de CHEFE, MÚSICO e POETA são, respectivamente, "CHEFA" (p. 184), "MÚSICA" (p. 188) e "POETISA" (p. 189).

Interessante observação fez o grande filólogo pátrio CELSO PEDRO LUFT acerca do feminino CHEFA:

"chefe - Aconselha-se não flexionar, quando aplicado a dirigente do sexo fem.: a/uma chefe. Mas a feminização 'chefa' nada teria contra o sistema da língua; é apenas uma questão de 'norma' ou uso. Com a afirmação social e profissional da mulher, outros fem. se normalizaram: deputada, vereadora, médica, juíza..." (ABC da Língua Culta, Editora Globo, 2010, p. 84).

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 03/03/2012
Reeditado em 10/03/2012
Código do texto: T3532164
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