AFINAL, O MÉDICO ASSISTE [O] OU [AO] PACIENTE?

Depois de ler atentamente o texto “O MÉDICO PODE ASSISTIR AO “PACIENTE”. CERTO OU ERRADO?”, de autoria do ilustre Prof. DOMINGOS IVAN, resolvemos, como simples estudioso e amante da Língua Portuguesa, justificar nosso humilde entendimento, ou seja, de que o médico pode e deve, por dever de ofício, assistir [o] ou [ao] paciente. E assim entendemos em razão dos argumentos gramaticais abaixo transcritos.

Como eterno estudioso e amante da nossa adorável Língua Portuguesa, sempre nos fiamos nos clássicos quando temos eventual dúvida acerca do nosso delicado idioma. Quanto à regência do verbo ASSISTIR, com todo respeito e admiração que nutrimos pelo ilustre Prof. Domingos Ivan, pensamos que, na acepção de "acompanhar", "ajudar", "prestar socorro", "prestar assistência", ele pode ser usado, ora como TRANSITIVO DIRETO, ora como TRANSITIVO INDIRETO.

Os festejados gramáticos CELSO CUNHA e LINDLEY CINTRA, na conhecidíssima e respeitada “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, Editora Nova Fronteira, 3ª ed., 2001, p. 521, ensinam com a mestria que lhes é peculiar: “Usa-se, indiferentemente, como transitivo direto ou indireto nos sentidos de “acompanhar”, “ajudar”, “prestar assistência”, “socorrer”: Deus bom, que assiste os coitados (C. dos Anjos, DR, 129.) / Continuei a assisti-la com a discrição requerida pela sua sensibilidade. (J. Paço d’Arcos, CVL, 695.) / — Só esta manhã é que tivemos o doutor no Pomar; veio assistir à filha do Manuel Calmeiro. (F. Namora, NM, 216-217.) / O encarregado era assistido por dois homens de bordo, um deles de olhos muito brancos. (B. Lopes, C, 64.) / E ali ficava, animando-o a seu modo, enquanto punha em ordem o quarto, assistida pelo cão, que se acomodava ao lado da cama. (J. Montello, DP, 255.).

O grande gramático ROCHA LIMA, na também conhecidíssima e respeitada “Gramática Normativa da Língua Portuguesa”, José Olympio Editora, 42ª ed., 2002, p. 423, ensina com a autoridade de sempre: “Sentido de prestar socorro a um doente, agonizante ou desvalido, tratando-o, ou confortando-o moralmente: Usa-se indistintamente com objeto direto (assistir um doente), ou acompanhando complemento precedido de a (assistir a um doente). Exemplos: “Deus bom, que assiste os coitados.” (Cyro dos Anjos). / “Organizaram-se congregações de homens e mulheres para assistir aos doentes, aos presos, aos réus da justiça humana.” (Camilo Castelo Branco).”

O gramático e imortal EVANILDO BECHARA, em sua notável obra “Lições de Português pela Análise Sintática”, Editora Lucerna, 16ª ed., 2001, p. 65, acerca da regência do verbo ASSISTIR na acepção posta em discussão, sentencia: “No sentido de ajudar, prestar socorro ou assistência, servir, acompanhar pede indiferentemente objeto direto ou indireto: O médico assistiu o doente (objeto direto) / O médico assistiu ao doente (objeto indireto)”.

A nós, com todo respeito e admiração que nutrimos pelo Prof. Domingos Ivan, este assunto não parece tratar-se de uma polêmica linguística, mas, sim, das autorizadas regências deste verbo na Língua Portuguesa, salvo engano nosso.

É ou não cercada de mistérios nossa adorável e insubstituível Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 17/02/2012
Reeditado em 17/02/2012
Código do texto: T3504372
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