"NÃO Entre Nele MAIS",Camões? "Je N'y Vais Plus"?
"Como quando do mar tempestuoso
o marinheiro,lasso trabalhado
d'um naufrágio cruel já salvo a nado;
só ouvir falar nele o faz medroso;
e pura que em que veja bonançoso
a violento mar,e sossegado
NÃO entre nele MAIS,mas vai,forçado
pelo muito interesse cobiçoso."
Note a amiga ou o amigo leitor que o verso inicia com "NÃO" e acentua a sexta com "MAIS". Isso segundo o professor PORTUGUÊS, Vasco Botelho de Amaral é GALICISMO.
E agora,Camões? E agora Machado? E agora você? "... viver somente, NÃO te peço MAIS nada...." (Brás Cubas.)
"JÁ NÃO RESPIRAVA - CONDENADO É O EMPREGO DE MAIS EM ORAÇÕES TEMPORAIS QUANDO SUBSTITUÍVEL POR JÁ: ' O doente JÁ NÃO RESPIRAVA quando o médico chegou ' (e não: '... não respirava mais.') -' JÁ NÃO HÁ lei que os refreie ' (e não: ' NÃO há MAIS lei que os refreie.')
É GALICISMO - diz Vasco Botelho de Amaral - o emprego de MAIS em frases como ' NÃO vou lá MAIS ', correspondente ao francês 'Je n'y vais plus': o GALICISMO é evitado construindo-se 'Já lá não vou.' Parece que no Brasil - continua o professor Vasco - ocorre com frequência o modo de dizer: ' NÃO tem MAIS ' por ' JÁ NÃO HÁ'.
Como é óbvio NÃO PODEMOS IMITAR SEMELHANTE CONSTRUÇÃO DE RESSAIBO AFRANCESADO.
Em ' NÃO MAIS verei minha pátria o NÃO EQUIVALE A NUNCA, e o MAIS SIGNIFICA UM DIA: Confrontem-se,neste exemplo de Camões,o correto emprego do JÁ e o não menos correto emprego do MAIS: ' Se JÁ NÃO PÕES a tanta insânia freio, não esperes de mim daqui em diante que possa MAIS amar-te,mas temer-te."(Dic.de Questões Vernáculas,pág.163 - Ed. Caminho Suave,1981 - Doutor Napoleão.)
Estamos diante de um único pacote com dois aromas: estrume e rosas. Ao escrever: " NÃO ENTRE nele MAIS " - Camões nos oferece estrume.Em outras palavras, o ícone de Portugal nos oferece um português caçanje,xacoco,negô,pornográfico,bunda mesmo.
" Se JÁ NÃO PÕES a tanta insânia freio, não esperes de mim daqui em diante que possa MAIS amar-te,mas temer-te." Camões traz tal agudeza aqui, que a língua portuguesa sussurrando nos ares ora gira,ora nas folhas para, ora suspira,trazendo a "galegage" ao pé da mesa.
Porém o nosso foco aqui não são as rosas,infelizmente,nem os espinhos, e sim o estrume:
" e jura que em que seja bonançoso
a violento mar, e sossegado
NÃO ENTRE nele MAIS,mas vai,forçado."
-Como corrigir esse verso onde a sexta traz um GALICISMO acentuado? "NÃO ENTRE nele MAIS" por "JÁ NÃO ENTRE nele", conforme nos ensinam o professor português Vasco Botelho e o DOUTOR NAPOLEÃO, PROFESSOR dos professores.
A língua portuguesa não é só complicada,SENDO QUE (=VISTO QUE, UMA VEZ QUE -V.Gramática Metódica e Latina,professor Napoleão) nasceu cacada no seu próprio berço.
" NÃO " SIGNIFICA "NUNCA" E "NUNCA SIGNIFICA EM TEMPO ALGUM." E "MAIS" SIGNIFICA "UM DIA": "Não entre nele mais" significa: "EM TEMPO NENHUM entre nele UM DIA."
DOUTOR NAPOLEÃO: " Em ' Não mais verei minha pátria ' o não equivale a NUNCA, e o MAIS significa um dia." (DQVs,pág.163.)
E que significa NUNCA? " Nunca " (adv.), do latim nunquam, significa " em tempo algum, em tempo nenhum...." devemos escrever:"Não entre nele mais."
Porque " não entre nele mais " significa " EM TEMPO NENHUM" entre nele(no mar) "UM DIA." E isso ainda que na poesia de CAMÕES é pura pornografia.
Cândido de Figueiredo: ".... Entre TODAS as línguas CULTAS do velho e do novo mundo, a portuguesa é talvez a única que, na atualidade, NÃO TEM ORTOGRAFIA PRÓPRIA: Cada um escreve como entende, e cada escritor tem razão para fundamentar a sua ortografia........ SEM GRAMÁTICA,NÃO HÁ LÍNGUA CULTA...." ( Lições Práticas da Língua Portuguesa,pág.293.)
E que é uma língua sem ortografia própria,por ventura não é uma língua bunda? Cândido de Figueiredo era português e profundo conhecedor da gramática, mas, como Camões, escorrega muito: "No meio do caminho havia uma pedra.Havia uma pedra no meio do caminho.No meio do caminho havia uma pedra...."
Entre o espinho e o estrume,Camões é a mais expressiva rosa da língua portuguesa. QUANDO CERTO,TEMOS DE OUVI-LO E APRENDER COM ELE. QUANDO NÃO, TEMOS DE IGUALMENTE REJEITÁ-LO E CORRIGI-LO.
Não se trata de radicalismo, de posições partidárias, de movimentos literários, de defender fulano ou beltrano por ser ícone ou não.
" Aprender a escrever é a coisa mais difícil e importante que uma criança pode fazer.... Aprender a escrever é aprender a pensar."(Carlos Baker... chefe do departamento de inglês da Universidade de Princeton.)
Se "aprender a escrever é aprender a pensar", escrever errado é pensar errado. JÁ NÃO ENTRE NELE(no mar), Camões, ou simplesmente "NÃO ENTE NELE." JÁ NÃO ERRE, Cegalla, ou simplesmente "NÃO ERRE." ( e não: " Não Erre Mais", "Não entre nele mais.") " Mas,como esse erro fundamental JÁ NÃO PODE ter remédio,vamos aos que de presente e para o futuro nos ensinam....Sobretudo o mar, JÁ NÃO É...." Vieira ( Sermão Da Epifania,1662.).
Camões acentua o GALICISMO num decassílabo heroico,infelizmente.E uma das maneiras de corrigi-lo sem desafinar a métrica é:
" e jura que em que veja bonançoso
a violento mar, e sossegado
NÃO ENTRE NELE, mas va(7) i(8),forçado
pelo muito interesse cobiçoso."
Sendo as palavras o veículo da NOSSA comunicação,só perde quem não as estuda seriamente. "Aprender a escrever é aprender a pensar." Onde estava o ser humano quando o universo começou a existir? O homem não pensa só porque "inventamos" a tal "filosofia" ou a tal "gramática." Fato é que nós, os seres humanos,nos comunicamos com palavras, independente de nossas profissões ou de qualquer outra coisa.Portanto, quando nos comunicamos com palavras, o estudo da gramática por si mesmo se impõe. E NENHUM livro de gramática, POR MELHOR QUE SEJA, supera a METÓDICA e a LATINA do professor Napoleão.
No Brasil e no mundo,gramática tem nome,ei-lo na abertura do último terceto:
Dicionário De Questões Vernáculas
Na asa da erudição o mestre vaga
voando em suas lições,surta ao contrário,
puxando a língua do vocabulário;
sua sapiência elimina a raiz da praga.
Seu horizonte a gramática alarga
A ideia escrita voa de que berçário?
Voa,voa nas asas do seu dicionário;
JÁ NÃO ENTRE, Camões, mas vai, amarga
A palavra é vidro, humana lida.
Ó céus, do esterco de Ênio ouve Eneida.
Sangrenta luta, oh! guerra aguerrida!
DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA,
herói de Troia, o cero é Áida ou Aida?
V(i)rgílio geme ou V(e)rgílio peida?