Análise Morfológica E Sintática Simultânea
"Ontem, um homem altíssimo e muito idoso, que estava doente, morreu sem socorro e rapidamente numa rua duma cidade do interior de São Paulo, depois de sofrer um repentino ataque do coração".
Na forma tradicional de se ensinar Língua Portuguesa, era pedido aos alunos para fazer a análise morfológica e sintática de cada palavra ou expressão de frases como essa. Era árduo o método, mas só conseguia fazê-lo corretamente quem realmente tinha um bom domínio de Sintaxe e Morfologia.
Tentemos fazê-la:
1) Ontem:
a) Análise morfológica: Advérbio de tempo.
b)Análise Sintática: Adjunto adverbial de tempo (dá uma circunstância de tempo ao verbo MORREU).
2) Homem:
a) Análise morfológica: Substantivo (comum, masculino, singular, concreto, grau normal).
b)Análise Sintática: Núcleo do sujeito (simples)
3) Um:
a) Análise morfológica: Artigo (indefinido, singular, masculino).
b) Análise Sintática: Adjunto adnominal (tem valor adjetivo, já que UM delimita aí um substantivo, que na oração é um sujeito).
4) Altíssimo:
a) Análise morfológica: Adjetivo no grau superlativo sintético.
b) Análise sintática: Adjunto adnominal.
5) E:
a) Análise morfológica: Conjunção aditiva.
b) Análise sintática: Apenas um conectivo adicionando adjuntos adnominais do sujeito.
6) Muito:
a) Análise morfológica: Advébio de intensidade.
b) Muito: Apenas modifica, em grau, um adjetivo. "Muito idoso" é o grau superlativo analítico de idoso. Na oração, liga-se ao nome (no caso, o sujeito HOMEM): é adjunto adnominal.
7) Que estava doente
a)Que:
Análise morfológica: Pronome relativo, cujo antecedente é "um homem altíssimo e muito idoso".
Função sintática: Sujeito da oração, introduzida por ele: Quem estava doente?: QUE (este, nesta oração, representa o antecedente da oração anterior).
b) Estava:
Análise morfológica: Verbo "estar" no pretérito imperfeito do indicativo, terceira pessoa do singular.
Análise sintática: Verbo de ligação.
c) Doente:
Análise morfológica: Adjetivo ( restritivo, primitivo, simples, uniforme, singular no grau normal).
Análise sintática: Predicativo do sujeito.
d) “Que estava doente”:
A oração toda é uma oração adjetiva explicativa. Trata-se de uma oração cujo predicado é nominal (tem verbo de ligação e predicativo, isto é, seu núcleo é um nome: “doente”) e que, como componente do período, é oração subordinada e tem, portanto, valor de adjetivo.
8) Morreu:
a) Análise morfológica: Pretérito perfeito do indicativo do verbo “morrer”, terceira pessoa do singular.
b) Análise sintática: Núcleo do predicado da oração principal (predicado verbal).
9) sem socorro:
a) Sem: Análise morfológica: Preposição (essencial) de negação ou ausência.
b) Socorro: Análise morfológica: Substantivo(...)
c) Sem socorro: Análise morfológica: Locução adverbial (tem valor de advérbio de modo).
d) Sem socorro:
Análise sintática: A expressão toda é um adjunto adverbial (de modo), já que se liga e dá circunstância ao verbo “morreu”, dizendo, no caso, a forma, o modo como o homem morreu.
10) E rapidamente.
a) E: Conjunção aditiva (no caso, um conectivo que adiciona dois adjuntos adverbiais, ligados ao verbo “morreu”).
b) Rapidamente:
Análise morfológica: Advérbio de modo.
Análise sintática: Adjunto adverbial de modo.
11) numa rua duma cidade do interior de São Paulo.
Vou poupar quem acaso leia este artigo do esforço de ler tantas minudências. Digo só isto: Sintaticamente, toda essa expressão dá circunstâcia de lugar ao verbo “morreu”, sendo, assim, um adjunto adverbial de lugar.
12) Depois de:
a) Depois: Análise morfológica: Advérbio de tempo.
b) De: Análise morfológica: Preposição.
c) Depois de: Análise morfológica: Locução prepositiva (acidental) com valor de advérbio de tempo.
d) Depois de: Análise sintática: Adjunto adverbial de tempo
13) sofrer:
Análise morfológica: Verbo da segunda conjugação, no infinitivo.
14) Um repentino ataque do coração
a) Um:
Análise morfológica: Numeral.
Análise sintática: Adjunto adnominal.
b) Repentino
Análise morfológica: Adjetivo.
Análise sintática: Adjunto adnominal.
b) Ataque:
Análise morfológica: Substantivo.
Análise sintática: Núcleo do objeto direto do verbo “sofrer”.
c) Do coração: Locução prepositiva (Correspondente a “cardíaco”).
d) A expressão toda: “Um repentino ataque do coração”, analisada sintaticamente, é o objeto direto do verbo “sofrer”.
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Análise final do período.
Neste caso, o SUS não poderia realmente socorrer o doente, pois ele morreu de um ataque repentino e fulminante na rua. O socorro era impossível. "Socorro" aqui só teve objetivos linguísticos. Mas, diariamente, morrem centenas e centenas de pessoas em filas ou internadas em hospitais que atendem pelo SUS. Enquanto isso, somas enormes de verbas são escoadas pelo ralo da corrupção. Esse desvio de finalidade de recursos e o descompromisso de quem lida com a saúde (médicos, enfermeiras e muitos outros servidores) são responsáveis pela morte à míngua de muitas pessoas humildes deste país.
Graças a Deus, ainda mantenho a capacidade de me indignar!
Um prefeito duma cidade do interior do Brasil, de uma vez só, desviou mais de 50 mil reais de fundos da saúde direto para conta de campanha dele. O Ministério Público denunciou. Na primeira instância, o juiz singular pediu a cassação do mandato do prefeito. O TRE sentenciou o contrário. Argumento: O tal desviu não seria capaz de influir no resultado da eleição ( isso ocorreu na eleição de 2008)! Os doutos juízes podem até estar certos, mas que tal verba salvaria da morte muitos doentes nos hospitais, disso não tenho dúvidas!