PROFESSOR DE GRANDE “MESTRIA” OU “MAESTRIA” ?
Embora os clássicos não usem com frequência e os estudiosos do idioma não recomendem, hoje se usam os dois vocábulos como sinônimos. “Mestria”, porém, é a forma mais autorizada, mais pura, mais elegante.
Nada obstante, hoje não se pode afirmar, como alguns estudiosos do idioma o fazem, que a forma “maestria” esteja “errada”, haja vista que ambos os vocábulos têm em “mestre” a sua origem (lat. maestre = mestre).
Ensina o grande VITTÓRIO BERGO:
MESTRIA — forma portuguesa geralmente esquecida em favor de mestria, que se formou segundo o modelo italiano de maestro: “A sua mestria, porém, da arte da guerra supria estas faltas e equilibrava nos combates o saldado muslim com o guerreiro cristão.” (AH, Bobo, 16). (Erros e Dúvidas de Linguagem, Editora Francisco Alves, 7ª ed., 1988, p. 249).
Para o grande gramático e dicionarista LUIZ ANTÔNIO SACCONI:
“mestria
É esta, em rigor, a palavra que significa grande habilidade, arte, perícia: A mestria de um marceneiro. Quem não conheceu a mestria de Ademir da Guia ainda não sabe o que é classe na prática do futebol. Há quem defenda “maestria” por mestria, atendo-se à forma do catalão antigo maestre.” (Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, Editora Harbra, 1ª ed., 2005, p. 259).
Sobre o tema, o sempre autorizado e culto NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA chega a ser enfático:
“Mestria, maestria — São palavras inconfundíveis. Mestria prende-se a mestre, para significar “de mestre”, “grande saber”; maestria prende-se a maestro, cujo significado todos conhecem. Ambas as palavras encontram-se no vocabulário oficial de Portugal (1940), no oficial do Brasil (1943) e em bons dicionários que discriminam a filiação e o significado das duas palavras. Em casos de equivalência de formas, ambos os vocabulários oficiais não deixam de acusá-la; veja-se, por exemplo, louro, vocábulo que apresenta a variante gráfica loiro. No caso de mestria e maestria não se encontra nos vocabulários oficiais a indicação de equivalência de formas.
De maestro, o derivado maestrino, por influência do derivado italiano (e de italiano veio-nos maestro); para designar o sabichãozinho reservemos mestrinho, mestrezinho. Cada palavra com seus derivados: de maestro, maestrinho, maestrozinho, maestrino, maestria; de mestre, mestrinho, mestre¬zinho, mestria. O mestre de obras e o mestre de cerimónias exercem mestria; aquele mestria de obras, este mestria de cerimônia. Uma é a maestria de Vila Lobos, outra a mestria de Rui Barbosa.
Não confundamos dicionário com rede de arrastão que apanha toda a sujeira do fundo do mar. Não sobra tempo a jornalista nem a governador de estado para fazer a cata.” (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, p. 340).
Sempre usamos, em nossa modesta vida acadêmica, a forma “mestria”, por entendê-la mais pura e autorizada.
É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?