TER DE x TER QUE [UMA QUESTÃO AINDA POLÊMICA NA LÍNGUA]
“TER DE”, segundo lecionam os clássicos, indica obrigatoriedade. Entretanto, há aqueles que condenam a forma “TER QUE” caso não venha subtendida a palavra “ALGO”. Segundo este critério, só seria correto então dizer e escrever: “Tenho que fazer” = “Tenho [algo] que fazer”. E incorreta seria a construção seguinte, com verbo intransitivo: “Tenho que sair”.
Como de hábito, sempre obedecemos à recomendação dos gramáticos, mas, a esse respeito, achamos perfeitamente aceitável a frase tachada de erro, pois muitos sempre deram àquele “quê” a função do nexo prepositivo “de”.
Assim é que o grande jurista pátrio RUI BARBOSA escreveu: “Uma declaração, porém, tenho que fazer.” (Réplica, p. 35).
O professor GLADSTONE CHAVES DE MELO, por sua vez, estampou o seguinte: “De posse de um manuscrito, o filólogo tem que saber de que época é a letra...” (Iniciação à Filologia Portuguesa, p. 22).
É de RAUL POMPÉIA o seguinte passo: “Mergulhado na onda, eu tinha que olhar para cima, para respirar.” (O Ateneu, p. 14).
"Não é, pois, de enjeitar a expressão." (AUGUSTO MORENO, Joio na Seara, p. 85).
Atualmente, porém, usa-se a forma “TENHO DE” quando o sentido for de obrigação, necessidade, desejo ou interesse.
Exemplos:
Temos de lutar por nossa sobrevivência.
O diretor da empresa terá de dar explicações à Justiça.
Usa-se, por outro lado, “TENHO QUE” para expressar possibilidade.
Exemplos:
Talvez você tenha que buscar sua mãe no consultório hoje.
É possível que ela tenha que fazer uma nova cirurgia.
É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?