DIA DOS PROFESSORES

Recebi, há bem pouco, e talvez pelo dia dos professores, o seguinte email:

“Falou bobagem sobre \ “posto que \”.

Modernamente, vários gramáticos normativos e bons dicionaristas corroboram a aplicação de POSTO QUE como locução conjuntiva subordinativa causal. Estude mais, por favor; atualize-se. Inclusive há questões de concurso sobre este conectivo. Um forte abraço!”

Minha despretensiosa resposta, como não poderia deixar de ser, foi a seguinte:

“Antes de tudo, boa-tarde!

Embora tenha achado um pouco severa sua mensagem, seguem abaixo as minhas "humildes" razões para não usar "POSTO QUE" no sentido de "PORQUE", "VISTO QUE".

Ensina o notável e imortal gramático NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA:

"Posto que – É locução conjuntiva, de sentido concessivo, e não causal; significa ainda que, bem que, embora, apesar de: “Um simples cavaleiro, posto que ilustre” – “E, posto que a luta fosse longa e encarniçada, venceram”. (Dicionário de Questões Vernáculas, Editora Ática, 4ª ed., 1998, p. 432).(destacou-se).

O conhecido e moderno gramático LUIZ ANTONIO SACCONI, por sua vez, leciona:

“Esta locução conjuntiva equivale a embora, apesar de que, e não a “porque”: Viajei, posto que chovesse. O preço dos automóveis subiu, posto que não houvesse nenhuma razão para tal. Orografia correta é uma combinação aceitável, posto que redundante. Há quem construa assim, principalmente advogados malformados: Não viajei, “posto que” choveu. O preço dos automóveis subiu, “posto que” a inflação continua alta.” (Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Curiosidades da Língua Portuguesa, Editora Harbra, 2005, p. 296). (destacou-se).

Outro moderno e conhecido gramático, DOMINGOS PASCHOAL CEGALLA, ensina:

“posto que. Locução equivalente de ainda que, se bem que, embora: “Embora o primeiro a entrar no jardim, e pisava firme, posto que cauteloso.” (Carlos Drummond de Andrade, Obras Completas, p. 439) / “Posto que estivesse mais ou menos a par da situação, Emília, vendo a irmã em tal estado, começou também a oferecer resistência.” (Ciro dos Anjos, O Amanuense Belmiro, p. 137) / “Abismo sem fundo e caldo quente são expressões aceitáveis, posto que redundantes em face da etimologia.” (Mário Barreto, Novos Estudos, p. 309) — Esta locução não tem o sentido de porque, visto que. Não serve, portanto, para exprimir idéia de causa.” (Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira, 2ª ed., 1999, pp. 324/325). (destacou-se).

Acho, com todo respeito e admiração, que ainda não chegou o momento de eu estudar mais. Entretanto, muito obrigado pela sugestão.

Um forte e tríplice abraço.

David Fares .'.”

Que dia dos professores, nobres recantistas!

David Fares
Enviado por David Fares em 15/10/2011
Reeditado em 15/10/2011
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