“À DISTÂNCIA” [COM CRASE] OU “A DISTÂNCIA” [SEM CRASE]?

O renomado filólogo e gramático ADRIANO DA GAMA KURY, em seu excelente livro “Ortografia, Pontuação e Crase”, FAE, 1988, à p. 111, afirma taxativamente que “muitos gramáticos, sem levar em conta o uso bastante generalizado, querem que a locução à distância, quando indeterminada, se escreva sem acento; este só caberia, a seu ver, quando a locução viesse determinada, p. ex.: “à distância de um metro”, ou, como escreveu Machado de Assis, “à distância de um fio de cambraia” (Brás Cubas, cap. CIII).

Não tem fundamento essa distinção: esquecem esses gramáticos que à distância equivale NA distância (onde aparece preposição e artigo).

Vejam-se alguns exemplos, em bons escritores, de à distância:

De Rui Barbosa: “Desses cimos, ... o Colégio Anchieta nos estende à distância os braços.” (Discurso no Colégio Anchieta, Rio, 1953, p. 7.) / “Mais fácil é sempre um não à distância que rosto a rosto.” (Queda do Império, vol. I, Rio, 1921, p. LXXII.).

De Mário Barreto: “A metátese ... é em geral provocada por uma atração à distância.” (Novíssimos Estudos da Língua Portuguesa, 2ª ed., Rio, Livr. Francisco Alves, p. 47.)

De Raul Pompéia: “À distância, viam-se as janelas de uma parte da casa.” (O Ateneu), 4ª ed., Rio, Livr. Francisco Alves, p. 49)

De Gilberto Amado: “Vultos desenhavam-se à distância, fazendo-me estremecer.” (História da Minha Infância, Rio, Livr. José Olympio, 1958, p. 206.)

De Guimarães Rosa: “E o povo encheu a rua, à distância, para ver.” (Sagarana, 4ª ed., Rio, Livr. José Olympio, 1956, p. 373.)

Os notáveis CELSO CUNHA e LINDLEY CINTRA, por sua vez, na “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, 3ª ed., à p. 545, dizem que, “À semelhança dos advérbios, as LOCUÇÕES ADVERBIAIS podem ser: [...] c) DE LUGAR: à direita, à esquerda, à distância...”

É ou não curiosa e apaixonante nossa inigualável Língua Portuguesa?

David Fares
Enviado por David Fares em 18/09/2011
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