EMPREGO DOS PRONOMES RETOS

Não se devem usar desnecessariamente os pronomes do caso reto. O abuso deles, segundo lecionam os clássicos, é cópia do inglês, do francês. Os ingleses não os dispensam porque suas formas verbais não denunciam o sujeito com clareza. Por exemplo: I LIKE, YOU LIKE, HE LIKES, WE LIKE, YOU LIKE, THEY LIKE. Com exceção da terceira pessoa do singular, as demais pessoas são semelhantes, não havendo uma desinência que as distinga. Daí a necessidade que tem a língua inglesa de escrever ou pronunciar o pronome reto. De outra forma não haveria clareza. Em português, todavia, em regra dispensam-se os pronomes retos, visto que a desinência do verbo traz latente o sujeito. Por exemplo: FIZ não tem outro sujeito senão EU; FIZESTE tem por agente TU; FIZESTES é o predicado de VÓS. Por conseguinte, EU FIZ é dizer pleonástico, que só podemos usar em situações especiais. Entretanto, podem os pronomes retos serem usados quando:

1 – Houver ênfase.

Exemplo:

“Eu sou a luz do mundo."

[No latim o pronome EGO raramente aparece. Quando ele é usado, o sentido é enfático: "Ego sum lux mundi."]

2 – Houver oposição de sentido.

Exemplos:

Eu trabalho; tu vives folgado.

"Eu passo; tu ficas." (Machado de Assis, Quincas Borba, p. 197).

3 – A primeira pessoa puder ser confundida com a terceira.

Exemplo:

Eu tinha onze anos.

[Tinha pode ter por sujeito: ele, ela, você, V. S.ª, etc.]

4 – Houver oração intercalada.

Exemplo:

"Não podia, creio eu, recomendar melhor o seu nome à gratidão dos amigos de nosso idioma." (Rui Barbosa).

5 – Houver sentença interrogativa de sujeito posposto.

Exemplo:

"És tu, ó Francisco Bragadas?" (Camilo Castelo Branco, Novelas, III, 10).

David Fares
Enviado por David Fares em 10/09/2011
Reeditado em 12/09/2011
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