O "SE" (parte II)
Olá, caros amigos! Aqui sou eu de novo com a segunda e última parte do nosso estudo sobre a partícula SE. Em minha última postagem, expliquei que classificações a partícula SE recebe quando analisada à luz da morfologia, que divide as palavras de uma língua em classes gramaticais. Hoje, o nosso lindo e querido SE será estudado sintaticamente, ou seja, iremos ver qual a sua classificação, dependendo da função sintática que ele exercerá na frase. Não vou mentir: é um pouco mais complicado, mas costumo dizer que quanto mais complicado, mais gostoso fica de aprender. Mas vamos ao SE.
1. Quando o SE é um índice de indeterminação do sujeito (IIS)
Bem, em primeiro lugar, é necessário explicar o que quer dizer a sigla acima, IIS. O índice de indeterminação do sujeito é uma palavra (geralmente o SE) que indica que o sujeito da oração é indeterminado, ou seja, ele existe, mas não se sabe quem é ou não se quer dizer. O SE será um índice de indeterminação do sujeito quando ele estiver acompanhando um verbo intransitivo (verbo com sentido completo) ou um verbo transitivo direto (verbo que precisa de complemento com preposição) que sempre estará flexionado na terceira pessoa do singular.
Ex.: Trabalha-se muito naquele galpão, inclusive nos feriados.
Veja que, no exemplo acima, a partícula SE acompanha um verbo intransitivo (trabalhar), indicando que o sujeito da frase é indeterminado. Só isso? Como assim é indeterminado? Ora, observe: Quem trabalha muito naquele galpão? É obvio que existe uma pessoa que trabalha naquele galpão, mas não se sabe ou não se quer dizer. Essa é uma oração com sujeito indeterminado e o SE indica isso.
DICA: Existe uma forma mais fácil para saber se o SE é um índice de indeterminação do sujeito. Toda vez que você perceber, utilizando a análise tradicional, que a oração apresenta sujeito indeterminado, observe se depois da partícula SE vem uma palavra pertencente a uma dessas três classes gramaticais: preposição, adjetivo ou advérbio. Se após o SE vier uma palavra classificada em uma dessas três classes gramaticais, o SE será um índice de indeterminação do sujeito e, consequentemente, o sujeito da oração será indeterminado. Observe três exemplos:
Ex. 1: Precisa-se de operários para trabalhar na construção.
Ex. 2: Vive-se bem nesta cidade.
Ex. 3: Era-se feliz naqueles tempos antigos.
Observe que, nos três exemplos, o SE está acompanhando verbos intransitivos ou transitivos indiretos. Seguindo a dica, quando depois do SE vier uma preposição, ou um advérbio ou um adjetivo, o SE será automaticamente um índice de indeterminação do sujeito.
2. Quando o SE é objeto direto
Em primeiro lugar, o objeto direto é qualquer expressão (sem preposição) que completa o sentido de um verbo. O SE será objeto direto quando ele puder ser substituído por uma expressão não acompanhada de preposição. Veja:
Ex.: Os repórteres entreolharam-se em silêncio.
Quero iniciar essa explicação com uma pergunta: qual expressão poderia ser colocada no lugar do SE, no exemplo acima? Pela lógica, a expressão seria “uns aos outros”. Perceba que essa expressão, se colocada no lugar da partícula SE, funcionaria como objeto direto (complemento sem preposição) do verbo entreolhar. No entanto, quando houve a substituição dessa expressão pelo SE, é essa partícula que irá assumir a função de objeto direto. Morfologicamente, o SE nessa frase seria classificado como pronome reflexivo recíproco, pois está presente em uma oração na voz reflexiva recíproca, lembram-se? Se não, ler a parte I.
3. Quando o SE é objeto indireto
Objeto indireto, para quem não sabe, é uma expressão (com preposição) que completa o sentido de um verbo. O SE funcionará como objeto indireto quando equivaler a uma expressão acompanhada de preposição. Observe:
Ex.: Ela impôs-se a uma dieta drástica.
Vamos à pergunta: Que expressão lógica poderia ser colocada no lugar do SE, na frase acima? Obviamente, essa expressão seria “a ela mesma”. Perceba que essa expressão vem acompanhada pela preposição A. A partir disso, podemos concluir: essa expressão, se colocada no lugar do SE, funcionaria como objeto indireto do verbo impor. Logo, como é o SE que está no lugar da expressão, logo é o SE que está funcionando como objeto indireto. Morfologicamente, neste exemplo, o SE seria também um pronome reflexivo, pois estaria presente em uma oração na voz reflexiva.
4. Quando o SE é sujeito de infinitivo
Vamos por partes. Aqui, neste caso, o SE estará, sintaticamente, funcionando como sujeito de uma oração cujo verbo esteja no infinitivo, geralmente em orações subordinadas reduzidas. Opa, quando é mesmo que um verbo está no infinitivo? Quando ele termina em -R: amaR, morreR, sorriR etc.
Ex.: Raquel deixou-se entristecer com aquelas palavras.
No exemplo acima, nós temos uma oração subordinada reduzida de infinitivo, ou seja, reduzimos um período a uma oração colocando um dos verbos no infinitivo. O período original seria: “Raquel deixou que a entristecessem com aquelas palavras”. Quando, na redução do período, a oração apresentar os verbos MANDAR, DEIXAR, FAZER, VER, SENTIR ou OUVIR, seguido da partícula SE e seguida de um verbo no infinitivo, este SE será o sujeito da oração. Uma explicação boa? Concordo que não exatamente, mas assim funciona a regra e a gramática. Infelizmente, no caso da gramática, nem tudo tem uma lógica ou um porquê. Que tal perguntarmos ao prof. Pasquale Cipro Neto?
Vimos, caro leitor, as várias classificações que a partícula SE desempenha no português. Convém esclarecer que morfologicamente, o SE tem uma classificação e sintaticamente, ele tem outra classificação. Para saber, de fato, qual é essa classificação, geralmente, no enunciado ou comando do item, o elaborador da questão especifica a qual das duas formas ele quer que você analise o SE. Espero que os tenha ajudado com alguma dúvida. Até a próxima!