NOTA SOBRE O VERBO “SUICIDAR-SE”

O verbo SUICIDAR-SE — que sempre causou polêmica linguística —, vem do latim SUI ["a si", pronome reflexivo] + CIDA ("que mata"). Significa quer dizer que SUICIDAR, na verdade, já é "matar a si mesmo". Isso, por si só, já dispensaria a repetição causada pelo uso do pronome reflexivo [SE]. É relevante assinalar que os vocábulos findos pelo elemento latino CIDA apresentam essa ideia implícita de matar, por exemplo, FORMICIDA é o “que mata formigas"; INSETICIDA é o "que mata insetos"; RATICIDA é o “que mata ratos”; HOMICIDA é o "que mata homens", etc.

Em relação ao verbo SUICIDAR-SE — se observarmos o uso contemporâneo deste verbo —, não restará dúvida nenhuma: trata-se de um verbo pronominal reflexo, pois ninguém diz, no Brasil ou em Portugal, “ele suicida” ou “eles suicidaram”. Portanto, o uso do pronome reflexivo SE junto ao verbo SUICIDAR está mais que consagrado em nosso idioma. É, na verdade, um pleonasmo irreversível. O verbo SUICIDAR-SE, atualmente, é tão pronominal quanto os verbos ARREPENDER-SE, ESFORÇAR-SE e DIGNAR-SE.

Respondendo a um consulente que lhe indagava se tal verbo, “pela sua construção, não dispensa o pronome se", afirmava taxativamente o grande CÂNDIDO DE FIGUEIREDO: “Não, senhor. Morfologicamente, em suicidar já consideramos de fato uma ação reflexa; mas como esse verbo, sem o pronome se, nunca existiu em português, pouco importam as nossas filosofias, e temos de aceitar os fatos incontestáveis da linguagem. Suicidar-se é fato corrente e constante nos vários períodos da nossa língua, e não temos que corrigi-lo. Aquela suposta redundância não é coisa insulada na história da língua”. (Falar e Escrever, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 4ª ed., vol. II, 1941, p. 197-198).

David Fares
Enviado por David Fares em 09/07/2011
Reeditado em 31/07/2011
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