CRASE

1. CRASE:

1.1 A palavra crase (do grego krásis = mistura, fusão) designa, em gramática normativa, a contração da preposição A com:

a) O artigo feminino A ou AS:

• Fomos à cidade e assistimos às festas.

b) O pronome demonstrativo A ou AS:

• Chamou as filhas e entregou a chave à mais velha.

c) o A inicial dos pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s) e aquilo:

• Refiro-me àquele fato. Poucos vão àquela ilha.

Observação: Na escrita, assinala-se a crase com o acento grave.

Atenção: O acento grave no a tem duas aplicações distintas:

• Sinalizar uma fusão (crase);

• Evitar ambiguidade. Sinaliza a preposição a em expressões de circunstância com substantivo feminino singular, indicando que não se deve confundi-la com o artigo a.

1.2 Descomplicando a crase.

TESTES: troca-se o termo posterior feminino, por masculino. Se aparecer ao ou a, parte-se para o segundo teste. No segundo teste cria-se uma sentença com o verbo gostar + termo posterior. Se aparecer da, haverá crase. Se aparecer de ou do não haverá crase.

Teste 1 – preposição: troca-se o termo posterior feminino, por masculino. Se aparecer ao ou a, parte-se para o segundo teste.

Teste 2 – artigo: cria-se uma sentença com o verbo gostar + termo posterior. Se aparecer da, haverá crase. Se aparecer de ou do não haverá crase.

Exemplo 1: Obedeço __ Lei

1º teste: obedeço ao professor

2º teste: gosto da Lei

Resultado: obedeço à Lei.

Exemplo 2: Vou __ Fortaleza

1º teste: vou ao Mediterrâneo

2º teste: gosto de Fortaleza

Resultado: Vou a Fortaleza.

TESTES – expressões referentes a horário

Teste: troca-se por “meio-dia”. Se aparecer ao haverá crase. Se aparecer o não haverá.

Exemplo 1: Trabalhamos das duas __ quatro

Teste: Trabalhamos das duas ao meio-dia

Resultado: Trabalhamos das duas às quatro.

Exemplo 2: Vou ficar aqui até __ cinco da tarde.

Teste: Vou ficar aqui até o meio-dia

Resultado: Vou ficar aqui até as cinco da tarde.

Atenção 1: É facultativo o acento grave nos seguintes casos:

a) diante de nomes próprios femininos:

• Entreguei o material a Eliana;

• Entreguei o material à Eliana.

b) após a preposição até:

• Voltaram até a praia;

• Voltaram até à praia.

c) diante de pronome possessivo feminino:

• Entregou o presente a sua namorada;

• Entregou o presente à sua namorada.

Atenção 2: Crase diante de horas (sim):

a) sempre que for determinada:

• A palestra será às 15h30min.

Atenção 3: Crase entre dias da semana ou entre meses (não):

• De segunda a sexta-feira;

• De março a dezembro.

Atenção 4: Expressões adverbiais femininas: sempre vai crase para evitar ambiguidade. Há, portanto, casos em que o acento grave, nas locuções, não assinala crase; emprega-se simplesmente, para deixar claro que se trata de um adjunto adverbial:

• Cheirar a gasolina (aspirar);

• Cheirar à gasolina (feder);

• Refira-se a outra mulher (converse com ela);

• Refira-se à outra mulher (falava dela);

• Chegar a noite (anoitecer);

• Chegar à noite (chegar tarde);

• Ela cheirava a rosa (aspirar);

• Ela cheirava à rosa (cheirosa, perfumada);

• Coloquei a venda (venda nos olhos);

• Coloquei à venda (colocou para vender);

• Comprei a vista (comprou os olhos);

• Comprei à vista (pagou na hora);

• Lavei a mão (mão suja);

• Lavei à mão (lavou alguma coisa com a mão);

Observação:

Vender a vista (os olhos) = o a é artigo

Vender à vista (pagamento imediato) = o a é preposição

1.3 NÃO haverá crase:

Não havendo o artigo a(s) antes do termo dependente, é evidente que não pode ocorrer a crase. Por isso não se acentua o a:

a) diante de palavras masculinas:

• Não assisto a filmes de guerra;

• Fizemos compra a prazo;

• Admirei os quadros a óleo;

Exceção – expressão subentendida “à moda de” ou “à maneira de”:

• Cortou o cabelo à Ronaldinho;

• Estilo à Coelho Neto.

b) diante de substantivos femininos usados em sentido geral e indeterminado:

• Não vai a festas nem a reuniões;

• Dedicas o trabalho a homem ou a mulher?;

• Não dê atenção a pessoas suspeitas;

• Contei o caso a uma senhora supersticiosa.

c) diante de nomes de parentesco, precedidos de pronome possessivo:

• Recorri a minha mãe;

• Peça desculpas a sua irmã;

• Faremos uma visita a nossa tia.

d) diante de nomes próprios que não admitem o artigo:

• Dedicaram templos a Minerva;

• Iremos a Curitiba;

• Chegamos a Paquetá ao meio-dia.

Exceção – haverá crase quando o nome próprio admitir o artigo ou vier acompanhado de adjetivo ou locução adjetiva:

• A jovem tinha devoção à Virgem Maria;

• Entreguei a carta à Julia (no trato familiar íntimo);

• Referiu-se à Roma dos Césares.

e) diante da palavra casa, no sentido de lar, domicílio, quando não acompanhada de adjetivo ou locução adjetiva:

• Voltamos a casa tristes;

• Chegou Basílio a casa;

• ...pela madrugada regressou a casa.

Exceção 1- se a palavra casa vier acompanhada de adjetivo ou locução adjetiva haverá crase:

• O filho pródigo voltou à casa paterna;

• Fiz uma visita à velha casa;

• Fui à casa de meu colega.

Exceção 2 – haverá crase se casa estiver no sentido de estabelecimento comercial ou hospitalar, residência oficial de Chefe de Estado, enfim, quando casa não significar lar, domicílio:

• Fui à Casa Açucena comprar presentes;

• O Presidente regressou à Casa Branca;

• Poucos têm acesso à Casa da Moeda.

f) nas locuções formadas com a repetição da mesma palavra:

• Tomou remédio gota a gota;

• Estavam frente a frente;

• Entraram uma a uma.

g) diante de substantivo terra, em oposição a bordo, a mar:

• Os marinheiros tinham descido a terra;

• O nadador voltou logo a terra.

Observação: fora desse caso vai crase:

• Aves voavam rente à terra;

• Os astronautas voltaram à terra;

• Gulliver chegou à terra dos Liliputianos.

h) diante de artigos indefinidos e de pronomes pessoais (inclusive de tratamento, demonstrativo, indefinidos, interrogativos e relativos, com exceção de senhora e senhorita):

• Chegamos à cidade a uma hora morta;

• Recorreram a mim (a nós, a ela. A dona Marta);

• Solicito a Vossa Senhoria o obséquio de anotar o nosso endereço;

• Não me referi a Vossa Excelência.

Exceção - senhora e senhorita:

• Peço à senhora que tenha paciência;

• É um favor que peço à senhorita.

i) diante de numerais cardinais referentes a substantivos não determinados pelo artigo, usados em sentido genérico:

• Chanceler inicia visita a oito Países africanos;

• Assisti a duas sessões (ou a uma sessão);

• Daqui a quatro semanas muita coisa terá mudado;

• O número de candidatos não chega a vinte.

Exceção – usa-se crase nas locuções adverbiais que exprimem hora determinada e nos casos em que o numeral estiver precedido de artigo:

• Assisti às duas sessões de ontem;

• Chegamos às oito horas da noite;

• Entregaram-se os prêmios às três alunas vencedoras.

j) diante de verbo:

• Estamos dispostos a trabalhar pela paz;

• Quando me dispunha a sair, começou a chover;

• Puseram-se a discutir em voz alta.

2. Casos especiais sobre CRASE:

2.1 O uso do artigo antes de pronomes possessivos, salvo em alguns casos, fica ao arbítrio de quem escreve. Daí a possibilidade de haver, ou não, a crase antes desses pronomes:

• A minha viagem é certa. Referiu-se à minha viagem;

• Minha viagem é certa. Referiu-se a minha viagem.

• As minhas colegas vêm. Fiz um apelo às minhas colegas;

• Minhas colegas vêm. Fiz um apelo as minhas colegas.

Observação – ocorrendo a elipse do substantivo, o a será acentuado:

• Ele referiu-se à desgraça do amigo e não à sua (à sua desgraça);

• Eu fui à formatura dele, mas ele não compareceu à minha (à minha formatura).

2.2 Opcional é também, na linguagem familiar, o uso do artigo diante de nomes próprios personativos. A crase, portanto, dependerá da preferência do escritor:

• Mandamos um convite à Maurília;

• Mandamos um convite a Mauríilia.

• Escrevi à Lúcia;

• Escrevi a Lúcia.

2.3 Na língua formal, sobretudo quando se faz referência a mulheres célebres, não se usa artigo e, portanto, não se acentua o a:

• A polícia dará proteção a Márcia Nogueira;

• Por que os ingleses tinham ódio a Joana D’Arc?

Observação – em um e outro caso, o acento indicativo de crase será de rigor, se o nome vier acompanhado de um adjunto:

• Quem negará elogios à corajosa Maria?

• Refiro-me à Beatriz do Dr. Vieira;

• O professor referiu-se à intrépida Joana D’Arc.

2.4 Coloca-se acento grave sobre o a da expressão “à distância de”, seja a distância determinada, precisa ou não:

• Achava-me à distância de cem metros;

• Paramos à distância de alguns metros do riacho.

Observação 1 – se antes de distância ocorrer adjetivo ou palavra que não admite o artigo definido, não se acentuará o a:

• O trem passava a pouca distância da casa;

• ... a respeitável distância da água.

Observação 2 – quando se trata da locução adverbial a distância, é opcional o uso da crase:

• É necessário vê-los a distância;

• É necessário vê-los à distância

• Pedras de gamão estalavam a distância;

• Pedras de gamão estalavam à distância.

3. Crase nas Locuções:

3.1 Acentuam-se, geralmente, o a ou as de locuções de substantivos femininos:

a) Locuções adverbiais:

• À direita, à esquerda, à força, à farta, à milanesa, à mesa (=estar à mesa), à noite (= de noite), à risca, à solta, à vontade, à saída (=na saída), à uma hora, às sete horas, às vezes, à toa, às claras, às pressas, etc.

b) Locuções prepositivas:

• À custa de, à espera de, à força de, à procura de, à vista de, à vontade com, etc.

c) Locuções conjuntivas:

• À medida que, à proporção que, etc.

Observação – o uso do acento grave é opcional nas locuções adverbiais que indicam meio ou instrumento:

• Barco à vela;

• Barco a vela.

• Repelir o invasor à bala;

• Repelir o invasor a bala.

3.2 Não se acentua locução constituída de a + substantivo plural:

• A duras penas, a marteladas, a duas mãos, etc.

3.3 É descabido e vetado o acento grave no a ou as em locuções formadas com substantivo masculino:

• A cavalo, a pé, a gás, a nado, a mando de, etc.

3.4 É desnecessário o acento grave no a ou as, depois de até, a não ser que sua falta possa gerar ambiguidade (duplo sentido):

• Chegou até a praia;

• Andei até a praia;

• Os garimpeiros danificaram todo o rio até à nascente. (sem o acento grave, poder-se-ia entender que danificaram inclusive a nascente do rio).

BIBLIOGRAFIA

CEGALLA, Domigos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 48.ed.rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.

SACCONI, Luiz Antonio. Novíssima gramática ilustrada. 23.ed. ver. São Paulo: Nova Geração, 2010.

HILDEBRANDO, A de André. Gramática ilustrada. 5.ed. São Paulo: Moderna, 1997.

FARACO & MOURA. Gramática. 12.ed. São Paulo: Ática, 2000.