EMPREGO DA CRASE [EM VERSOS DE CORDEL]

Vale a pena transcrever, neste espaço, a divertida e proveitosa lição sobre o emprego da CRASE ministrada por JANDUHI DANTAS, extraída de seu excelente livro “Lições de Gramática em Versos de Cordel, Editora Vozes, 1ª ed., 2009, pp. 80/84”:

“PREPOSIÇÃO + ARTIGO

A crase é simplesmente

de dois as a união

(um a que é um artigo mais um a preposição):

"Rozenval não foi à missa, mas vai à reunião".

COM PALAVRA FEMININA

Não se usa crase antes de palavra masculina:

"Rogério veio a cavalo",

"Chegou a pé Janaina" —

há crase, via de regra,

com palavra feminina.

CRASE COM MASCULINO

Contudo nossa gramática

está cheia de exceção

e sempre dá um jeitinho

de ninguém ficar na mão:

a crase com masculino

veja na próxima lição...

CABELO À RONALDINHO

Com palavra masculina

a crase se pode usar

toda vez que ela, a crase,

à moda de denotar:

"O cabelo à Ronaldinho

Mateus gosta de cortar".

COM PALAVRAS REPETIDAS

Nas expressões que se formam

por palavra repetida

não devemos usar crase,

ela fica proibida:

"Júlio ficou frente a frente,

cara a cara com a Cida".

CRASE FACULTATIVA

Possessivo feminino

no singular (tua, minha...)

faculta o uso da crase:

"Vou já à minha casinha",

"Obedeça a sua mãe,

"Irei à tua festinha".

AQUILO, AQUELE, AQUELA

Também pode existir crase

com aquilo, aquele, aquela:

"Renata se referiu àquilo que disse Estela",

"Zefa gosta de assistir somente àquela novela".

NÃO BASTA A PREPOSIÇÃO

Há muita gente que pensa

que basta a preposição

para o a ser "craseado",

mas não é bem assim não:

preposição mais artigo

— crase há nessa união!

A PREPOSIÇÃO "A"

Nos exemplos a seguir

temos preposição a:

"Eu me refiro a Pedrinho",

"Eu estou a trabalhar" —

como artigo aqui não cabe,

portanto, crase não há!

ANTES DE VERBO NÃO

A crase antes do verbo

não há como colocar:

verbo não aceita artigo

(é por isso que não dá) —

"Com dinheiro a receber,

tenho contas apagar".

VERBO = SUBSTANTIVO

(Aqui eu faço parênteses

pra uma observação:

quando o verbo aceita artigo

já não é verbo mais não,

passa a ser substantivo —

"O viver é ilusão")...

SUBSTANTIVAÇÃO

Isso porque a palavra

que do artigo vem à frente

torna-se substantivo

(isso automaticamente):

"O três é número de sorte",

"O belo é sempre atraente".

CRASE COM DISTÂNCIA

Só há crase com distância

se esta for especificada:

"À distância de dois metros

fiquei da onça pintada";

mas "Vi a cena a distância,

quase não pude ver nada".

CRASE COM CASA

Nessa regra, com distância

se enquadra casa também:

"Eu cheguei a casa tarde,

e de pé não vi ninguém";

"Amanhã, logo cedinho,

vou à casa de meu bem".

À VISTA E A PRAZO

Compro à vista, não a prazo

por não gostar de dever.

E compro à vista, com crase,

que é o correto se escrever.

Como prazo é masculino,

crase não poderá ter.

A VISTA = A VISÃO

Vi numa loja uma placa:

"Vendo a vista e no cartão",

um amigo, bom gramático,

me fez a observação:

"Quem vende a vista, sem crase,

está vendendo a visão".

CRASE COM TOPÔNIMOS

"Irei a Roma amanhã

e vim de Roma outro dia",

"Da Bahia ontem vim

e terça vou à Bahia":

são macetes para a crase

com topônimos. Já sabia?!

DE FAZ A; DA FAZ À

"Hoje irei à Paraíba,

da Paraíba ontem eu vim”:

"Se venho da, crase há" —

por macete diz-se assim.

E tem mais: "Se venho de,

crase pra quê?", diz-se enfim.

COMEU A NOITE!

Em "Lúcia comeu a noite"

se a crase não houver,

foi a noite então comida

por Lúcia, e se alguém quiser

pode fazer a pergunta:

"Comeu com garfo ou colher?!"

David Fares
Enviado por David Fares em 13/05/2011
Reeditado em 13/05/2011
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