Amanhã Escreverei Ao Meu Pai
" Segundo ensinam os estudiosos do idioma, o correto é: 'Amanhã escreverei a minha mãe', haja vista que se escreve A alguém e não PARA
alguém", conforme lemos aqui no Recanto na página do nosso amigo David Fares.
- Consultem o Dicionário UNESP 2004,pág.529 ou no Google:Dic.UNESP do Português Contemporâneo: "Escrever...(a/para) 4. dirigir-se por escrito a determinada pessoa: O filho escreveu um bilhete a/para Marli...."
Prossegue o nosso amigo: "Entretanto, é oportuno lembrar que a preposição PARA se justifica nos dois casos seguintes:
1 - Quando se empregar o verbo no sentido de escrever para algum lugar.Exemplo: Escrevi PARA Paris.
2 - Quando se escreve uma obra para uso especial de determinada pessoa.Exemplo: Fanelon escreveu Talêmaco PARA o Delfin."
-Partindo do pressuposto que Sócrates tenha dito: "Só sei que nada sei." -Por sermos seres pensantes temos a capacidade de mastigar qualquer pensamento;podemos ruminar e refletir para afirmar:Não importa quem disse nem quem escreveu.
Se qualquer ser humano atende por determinado nome, já ALGUMA COISA ELE SABE.Se Sócrates atendia pelo nome de Sócrates, a afirmação -" só sei que NADA(=COISA NENHUMA) sei " - além de errada não é verdadeira.
Se sabemos que somos pó e para o pó tornamos,diante da imensidão das coisas, só sei que QUASE nada sei.
Por isso, não escrevendo PARA lugar nenhum, nem sendo obra escrita para uso especial de determinada pessoa, como analisar corretamente estas linhas deste soneto de Camões:
".................................................
acho que cuidar nele é pois desejo,
e que morrer por ele é sobejo
e mór bem PARA mim do que mereço."
Considerando que o emprego da preposição PARA é justificado quando o verbo é empregado no sentido de escrever para algum lugar(Escrevi PARA Paris;Escrevi PARA Roma etc), " escreveu AO Clube Militar...." está errado?
Caldas Aulete,pág.1245: "Volver,voltar:Dirigir a vista,os olhos,a atenção PARA alguém ou PARA algum lugar...."
- O rei dirigiu os olhos para a rainha. Por acaso é errado escrever:- O rei dirigiu os olhos à rainha?
Se o correto é "escrever a alguém e não para alguém," por que Machado de Assis em A Semana nos dá: "..., e nada mais duro que escrever PARA incrédulos...."(?)
GRAMÁTICA LATINA, dr. Napoleão, pág.23: "Questionário..........
16 - Diga para que caso devem ir as palavras grifadas das seguintes orações:
a) O SOL fornece luz A TODOS."
Eis a minha resposta: - O sol, sujeito português, tem de ir para o caso nominativo latino; a todos ou para todos, objeto indireto português, tem de ir para o caso dativo latino.
Dic.UNESP do Português Contemporâneo,pág.529: "Escrever .... ( a/para ) 4. dirigir-se por escrito a determinada pessoa: O filho escreveu um bilhete a/para Marli...."
No Google:Dic.UNESP ( Francisco Borba ). Aplicando o mesmo recurso (a/para):
- " O sol fornece luz a/para todos."
DOUTOR NAPOLEÃO ( GRAMÁTICA LATINA,pág.21): ' O caso que em latim representa a função de objeto indireto é o dativo.
Quero acrescentar ao que já disse sobre o objeto indireto a seguinte observação:Geralmente, o objeto indireto, em português,vem antecedido ou da preposição a ou da preposição para...."
- " Venda a entregar no fim do mês " ( José de Alencar - Senhora ) - sem crase, uma vez que os verbos na língua portuguesa são considerados do gênero masculino.
- " Venda a / para entregar no fim do mês."
- " Escrevia ele à sua Emília longas cartas...." ( José de Alencar-Senhora) - com crase, pois podemos dizer: "Escrevia ela AO seu Emílio...."
Dic. de Verbos e Regimes, pág.243 - Francisco Fernandes: "Dirigir.............. - Encaminhar, endereçar:....... ' Pucci dirigiu imediatamente uma carta a Faruese e outra ao papa (Herculano)'...."
-Pucci dirigiu o quê? - Uma carta: objeto direto português (caso acusativo latino).
-Pucci dirigiu uma carta a ou para quem? - A / PARA Faruese e outra AO / PARA O papa: objeto indireto português; CASO DATIVO LATINO.
DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA - GRAMÁTICA LATINA:
".... Se para traduzir o objeto indireto ' para João ' emprega-se em latim o dativo, é sinal de que esse nome, se em latim estiver no dativo, deverá ser traduzido com a preposição a ou para, ficando ' a João ' ou 'para João ' ......."
Dic.UNESP: " O filho escreveu a/para Marli."
-Marli escreveu a/para João ( Américo Paz ), conforme a explicação do DOUTOR NAPOLEÃO e o exemplo do Dic.UNESP etc.
- " .... Mas, 'seu' tenente, deixe-me escrever à minha mãe" (Triste Fim De Policarpo Quaresma).
DOUTOR NAPOLEÃO - GRAMÁTICA METÓDICA,pág.59:......
1a regra prática - Existe uma regra prática que é, na maioria das vezes, ótima norma para o emprego da crase:Emprega-se a crase sempre que substituindo-se o vocábulo feminino por um masculino,aparece a combinação 'ao' antes do nome masculino.......
Para que se possa aplicar essa regra prática,é necessário o cumprimento de todas as regras anteriores [ v. pág.58 ]; assim, em:
' Eu vou a Roma ', de nada valerá aplicar a regra prática, uma vez que Roma não admite antes de si o artigo feminino...."
Dic.Michaelis 2000: "escrever...... 5.DIRIGIR carta a alguém:...Escrevia uma carta à mãe....", conforme o Aulete e demais dicionários e exemplos a crase é aí obrigatória: "Amanhã escreverei à minha mãe."
- ".... Posto que Jorge falasse do coronel nas cartas que escrevia à mãe......" (Iaiá Garcia - Machado de Assis).
- "..., escreveu à mãe uma carta....." (Aluísio de Azevedo - Casa de Pensão).
- Escrevi a/para Roma ( ROMA NÃO ADMITE CRASE).
- " ... escreveu um vale À (= para a ) Casa Comercial de Viúva Rios e Comp...." (Condensa Vesper - Aluísio de Azevedo). -Obs.: Por ser palavra latina,vesper não tem acento.Idem as palavras:deficit,Forum etc.
O mesmo procedimento correto, NESTE CASO ESPECÍFICO, encontramos no Dic. de Verbos e Regimes,pág.26 - Francisco Fernandes, nota III - " Pelos mesmos motivos expostos anteriormente (veja nota I),tomar-se-á como complemento terminativo dos verbos transitivo - relativos qualquer adjunto adverbial que a eles se agregue para perfeita inteligência da ação verbal. Por exemplo:.....................
... - 'Escrevi um artigo para o Correio Da Manhã - para o Matos e para o Sertão... serão considerados terminativos, e não adjuntos adverbiais."
Portanto que fique claro, quem escreve, escreve algo a alguém ou para alguém sem nenhuma alteração de sentido ou de significado.
- " O filho escreveu um bilhete a/para Marli "(Dic.UNESP).
- O soldado escreveu uma carta à/para mãe(Américo Paz)
- " Amanhã escreverei à/para minha mãe".
- " Doquinha eu juro-te por mais uma vez que sou teu enquanto quiseres, por tua causa eu sofro tudo o que for possível, e ao mesmo tempo peço-te que tudo quanto souberes a nosso respeito escreve PARA meu governo...." (Diário Íntimo - Lima Barreto).
Dentre todos os mais brilhantes e aplicados estudiosos do mundo, seja do grego,do latim,do português,do inglês,do francês etc, encontramos sempre este grande amigo, professor e DOUTOR NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA.
E que diriam aqueles estudiosos ao ler Eça - O Primo Basílio:
-"..... Fazia-lhe ler o jornal pela manhã, e vir escrever PARA AO pé dela......"
Dic.Caldas Aulete,pág.2: ".... A, prep. esta preposição é de todas a mais vaga, a mais indeterminada e a menos específica....................: PARA: acaba de viver a si e começa a viver para os outros (H.Pinto);.............................................................
PARA A FORMAÇÃO DOS COMPLEMENTOS INDIRETOS E CIRCUNSTANCIAIS NENHUMA REGRA HÁ ESTABELECIDA: só a leitura ATENTA dos mestres da língua poderá dirigir o leitor nesta parte: ...à saúde do rei!"
-Brindemos à(pela)saúde do rei(Américo Paz).
-" A/ PARA mim! Você nem ao menos me diz o que escreve...."(O Cemitério Dos Vivos - Lima Barreto).
Não há o que inventar, Eça sabia ser correto escrever: " Fazia-lhe ler o jornal pela manhã, e vir escrever PARA AO pé dela...."
O mesmo recurso encontramos na expressão:- O avião passa POR SOBRE nossas cabeças, independente de "vir escrever (alguém) PARA AO pé dela...." Ouçamos atentamente os dizeres do DOUTOR NAPOLEÃO:
Obs.:" AS PREPOSIÇÕES NÃO TÊM SIGNIFICAÇÃO INTRÍNSECA,
PRÓPRIA, MAS RELATIVA, DEPENDE DO VERBO COM QUE
SÃO EMPREGADAS , E , COMO NOS ADVERTE CARLOS
PEREIRA ' SÓ O TRATO CONSTANTE DOS BONS AUTORES
NOS PODE HABITUAR AO MANEJO CORRETO, ELEGANTE E
VÍVIDO DESSAS IMPORTANTES PARTÍCULAS.'
Na verdade, o número de preposições existentes em nosso idioma é pequeno (Soares Barbosa chega a contar apenas 16 propriamente ditas), daí resulta ora o emprego de preposições diferentes com idêntico sentido,ora o de uma preposição com significados diferentes.Não deve,portanto,o aluno estranhar que a preposição a na frase 'uma a uma' signifique por, e que a mesma preposição na frase 'vender a fulano' signifique para.Conforme dissemos no início desta OBSERVAÇÃO, AS PREPOSIÇÕES NÃO TÊM SIGNIFICAÇÃO INTRÍNSECA,PRÓPRIA,MAS RELATIVA,DEPENDE DO VERBO COM QUE SÃO EMPREGADAS OU DA EXPRESSÃO EM QUE APARECEM.................
C) A preposição a tanto pode indicar quietação, estada num lugar, como movimento para um lugar.Estávamos à (=na) janela (quietação,estada,lugar onde) - Dirigimo-nos à (para a) janela (movimento,lugar para onde).
D) Tem a preposição para emprego muitas vezes idêntico ao da preposição a:Disse a(para)você - Dei ao(para o) irmão....."
Quanto à diferença do emprego de a e para há UMA regra sim, MAS ESTÁ RELACIONADA COM O VERBO, como nos adverte Carlos Pereira ( GRAMÁTICA METÓDICA ,pág. 335 - dr,Napoleão):
" AS PREPOSIÇÕES NÃO TEM SIGNIFICAÇÃO PRÓPRIA, MAS
RELATIVA, DEPENDE DO VERBO COM QUE SÃO EMPREGADAS."
Dic. de Questões Vernáculas,pág.160 - Ed.Caminho Suave - 1981:
" Ir a, Ir para - Enquanto a empresta a verbos de movimento ideia de transitoriedade, para empresta ideia de demora, de permanência ou de destinação. Há diferença entre 'Pretendo ir para casa mais cedo hoje'(vou e fico) e 'Vou a casa apanhar um telegrama'(vou e volto).Outros exemplos:'Meu irmão foi para o seminário', 'Meu pai foi ao seminário visitar meu irmão'....."
Fora isso, segue o que já nos explicou o dr. Napoleão,e, dentre outros, o Caldas Aulete,pág.2:
" PARA A FORMAÇÃO DOS COMPLEMENTOS INDIRETOS E
CIRCUNSTANCIAIS NENHUMA REGRA HÁ ESTABELECIDA...."
Dic.UNESP ( pode ser visto também no Google),pág.529: "Escrever (a/para) 4.DIRIGIR-SE POR ESCRITO A DETERMINADA PESSOA: O filho escreveu um bilhete a/para Marli...."
-Amanhã escreverei à minha mãe (correto).
-Amanhã escreverei para a minha mãe (correto).
-Amanhã escreverei para minha mãe (correto).
Nesses exemplos, com o verbo escrever não há diferença nenhuma nem de sentido nem de significado.
Leia: Hoje Vou Escrever Corretamente À Ou Para Ou Ainda Para A Minha Mãe (Américo Paz).