Ontem choveu!! Pergunto: Quem choveu!!??

Ontem choveu!! Pergunto: Quem choveu!!??

Em se tratando da categoria de pessoa é necessário fazer uma clara distinção da primeira e da segunda pessoa em relação à terceira. Como mostra Benveniste (1995), a necessidade dessa distinção ocorre porque em algumas línguas Indo-européias, como a Língua Portuguesa, os falantes tendem a considerar a terceira pessoa como sujeito e, nesse caso, em alguns enunciados, tem-se “o velho problema de se confundir pessoa e sujeito” (BENVENISTE, 1995, p. 252). Em muitas línguas isso não acontece porque possuem a distinção das três pessoas e, além disso, tem um pronome neutro que se refere apenas a coisas ou a objeto, como, por exemplo: It no Inglês, o Il no francês e o es no alemão. Nas línguas nas quais essa distinção não é clara, conforme destacou Benveniste (1995), a interpretação das orações sem sujeito costuma trazer certas complicações quanto à análise sintática, por exemplo, no enunciado choveu ontem. Lembramos que na escola um dos recursos utilizado pelos professores é indagar ao aluno: quem choveu? O objetivo disso é levar ao aluno a pensar automaticamente que fenômenos da natureza não envolvem a ação de uma pessoa, por isso é chamado de oração impessoal. Além disso, fenômeno da natureza está ligado a ideia da terceira pessoa. Benveniste (1995), que comentou o assunto com veemência, explica: “Há enunciados de discurso, que a despeito da sua natureza individual, escapam à condição de pessoa, isto é, remetem não a eles mesmos, mas a uma situação ‘objetiva’. É o que denominamos terceira pessoa”. O autor esclarece a distinção entre a terceira pessoa e as outras duas dizendo que o ele se refere à coisa e a pessoa, mas de forma objetiva porque não faz relação nem com primeira pessoa eu e nem com a segunda tu que estão em um nível subjetivo, embora o tu, nesse nível, seja a pessoa não-subjetiva. A distinção entre esses elementos da categoria de pessoa foi estudada também por Lyons (1979), o qual propôs a seguinte fórmula que se assemelha á explicação de Benveniste (1995):

Eu = [+ ego]; Tu (você) (sing.) = [- ego + tu]; ele, ela = [- ego, - tu]

Nessa fórmula o autor mostra que o “eu”, primeira pessoa, é o elementos positivo (subjetivo) em relação ao tu e ao ele; o “tu”, segunda pessoa, é positivo, porém esvaziado de subjetividade (eu), por isso é não-subjetivo; o ele, terceira pessoa, é completamente esvaziado de subjetividade.

MENEZES, L. F.