O USO DA CRASE ANTES DE PREPOSIÇÃO
Esse é um caso particular – e raramente explicado! – de emprego da crase, o qual merce muita atenção por parte daqueles que escrevem e realmente cultuam o idioma.
Somente é possível o uso da crase com a preposição ATÉ, a qual possui a variante ATÉ A: [Foi ATÉ À porta] ou [ATÉ A porta]. Tal como: [Foi ATÉ AO portão] ou [Foi ATÉ O portão].
NUNCA se admite acento no A que se segue às demais preposições: APÓS A cerimonia [e não À], ANTE A negativa [e não À], PERANTE A autoridade [e não À], DESDE A véspera [e não À], SOBRE A questão [e não À], PARA A lei [e não À], etc.
OBSERVAÇÃO: Em razão das lúcidas e muito bem lançadas ponderações feitas pelo recantista e amigo Américo Paz, e ainda que eterno discípulo do imortal filólogo e gramático NAPOLEÃO MENDES DE ALMEIDA, discordamos do que leciona o referido mestre acerca das expressões [ATÉ A/ATÉ À] e [ATÉ O/ATÉ AO]. E assim o fazemos com base nos seguintes ensinamentos não menos abalizados.
1 – Segundo o magistério de LAUDELINO FREIRE [Estudos de Linguagem, s/e, Companhia Brasil Editora, 1937, p. 29], ambas "são formas hoje de uso freqüente e indistinto, sem que o emprego de uma importe sentido diverso do da outra".
2 – Já invocando o ensinamento de EPIFÂNIO DIAS, esclarece EDUARDO CARLOS PEREIRA [Gramática Expositiva para o Curso Superior, Monteiro Lobato & Cia, 15ª ed., 1924, p. 363], que "até o século XVII sempre se disse até, e não (com a preposição a) até a; no século XVII principia a aparecer até a".
3 – Para JOSÉ DE SÁ NUNES [Aprendei a Língua Nacional (Consultório Filológico), Saraiva, 1ª ed., 1938, vol. I, p. 85], todavia, desde os mais antigos clássicos de nosso idioma se empregam tais formas indiferentemente. E acrescenta tal autor: "Outrora, prevaleciam as primeiras, e hoje preponderam as últimas".
4 – Preconizando a possibilidade de uso indistinto de ambas as construções, lembra SILVEIRA BUENO [Português pelo Rádio, Saraiva & Cia., 1938. p. 210] que o emprego da preposição é mais antigo, enquanto o emprego da locução prepositiva é mais moderno, "porém correto".
5 – Na lição de CÂNDIDO DE FIGUEIREDO [Falar e Escrever, Livraria Clássica Editora, 6ª ed., 1946. vol. I, p. 285], "até ao é a forma hoje mais usual, e autorizada por bons escritores modernos; mas até o é mais portuguesa e preferida por mestres antigos e alguns modernos".
Exemplos:
“E os três padres então foram [até à] porta da cozinha.” [Eça de Queirós, Crime, p. 287]
“Não ganhou o pecúlio que possuía, professando a mineralogia, mas aplicando as regras do direito, que ignorou [até à] morte.” [Machado de Assis, Helena, p. 38]