Já Não Erre
Troque o "não erre mais" por já não erre.
" .... Incômoda Chegada, Difícil Saída....
Saindo de Guernesey, uma das preocupações de Gilliatt era não despertar a atenção........
Como o dia começava a despertar, os olhos ignatos que estão talvez abertos no espaço puderam ver no meio do mar, num ponto em que há mais solidão e ameaça, duas coisas entre as quais ia diminuindo o intervalo, SENDO QUE uma aproximava-se da outra....."(Publicado originalmente como Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo.Tradução de Machado de Assis, Rio de Janeiro).
- " Afonso Arinos, o da claridade de pensamento," afirma-nos Drummond (www portalsãofrancisco - Afonso Arinos:Bibliografia).
E Afonso Arinos, entre outras coisas, utiliza também corretamente a expressão "sendo que" nos afirmando antes: "....É através exclusivamente da política educacional que o Estado pode dissolver os resíduos culturais vindos da escravidão...."
Portanto, " Já Não Erre " ( e não: "Não Erre Mais " ), ou simplesmente:Não erre, como nossos amigos erraram ( " Melhor será que a sentença não erre." Oração Aos Moços - Rui Barbosa):
-Você tem de (há de) pegar uma senha ( e não:"você tem QUE pegar uma senha" - No Google:Pasquale Cipro Neto - Educacional).
Consultem as obras do dr. Napoleão, Francisco Torrinha (Dic.Português Latim) e outros: " ... há de rir-se de mim " -Machado de Assis -Mémorias Póstumas;Dom Casmurro e outras. - " Há de (=tem de) ser Dom Cristovão o seu nome" ( Os Lusíadas - Camões).
-Aonde iam elas as flores de antanho? ( e não: "onde iam elas as flores de antanho?"). - Mesmo que esteja escrito "onde iam" no original - Memória Póstuma de Brás Cubas - o certo é:" aonde iam...."
Não se deve corrigir este ou aquele autor ou professor etc, ou a mim por antipatia.O mesmo critério temos DE utilizar para todas as palavras ( " chega-te aos bons, serás um deles " - provérbio):
" Sendo que ( = já que, visto que, uma vez que) rabanitus embora ( ainda que ) não encontrada nos documentos medievais, afirmam os doutos que na certa existira e fora corrente no sermo vulgaris...." ( Maconaíma:X Pauí Pódolo - Mário de Andrade).
-A locução conjuntiva causal sendo que está sobrando no texto:
" Rabanitus embora(=ainda que) não encontrada nos documentos medievais, afirmam os .......").
Portanto: " Já Não Erre " ( e não: " Não Erre Mais " , ou simplesmente:Não erre), como nas veredas do "se" errou o nosso Guimarães:
" Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim;
o que não era certo,exato;mas que era mentira
por verdade.
Sendo que SE ele não se lembrava MAIS, nem
queria saber da gente."
-O certo é: "....Sendo que ( visto que, uma vez que) ele já não se lembrava, nem queria saber da gente" ( A Terceira Margem do Rio - Guimarães Rosa).
Consulte a Gramática Metódica e o Dic. de Questões Vernáculas do dr. Napoleão, HÁ DE entender que sobra um "se" nessa oração, bem como sobra esse "mais".
"Saudade,perfume triste
de uma flor que não se vê.
Culto que ainda persiste
num crente que já não crê" (Observe que Menotti Del Pichia não escreve:"...//num crente que não crê mais").
- " Já não respirava - condenado é o emprego de mais em orações temporais quando substituível por já: ' O doente já não respirava quando o médico chegou ' ( e não: ' ... não respirava mais ' )
- ' Já não há lei que os refreie ' ( e não: ' Não há mais lei que os refreie').
É galicismo - diz Vasco Botelho de Amaral - o emprego de mais em frases como ' Não vou lá mais ' , correspondente ao francês ' Je n'y vais plus '; o galicismo é evitado construindo-se ' Já lá não vou '.
Parece que no Brasil - continua o professor Vasco - ocorre com frequência o modo de dizer: ' NÃO TEM MAIS ' por ' JÁ NÃO HÁ '.
Como é óbvio não podemos imitar semelhante construção de ressaibo afrancesado.
Em ' Não MAIS verei minha pátria ' o NÃO equivale a NUNCA, e o MAIS significa UM DIA; confrontem-se, neste exemplo de Camões, o correto emprego de já e o não menos correto emprego do mais: ' Se já não pões a tanta insânia freio, não esperes de mim daqui em diante que possa mais amar-te, mas temer-te '"(dr. Napoleão - Dic.de Questões Vernáculas,pág.163 - Editora Caminho Suave, 1981).
E quem é maluco suficiente para entrar num beco sem saída ( = blind alley ) e negar a autoridade, a erudição e a dedicação do professor Napoleão quando o assunto é educação?