Análise Sobre Irregularidade Verbal
1. Síntese do capitulo II do livro Princípios da Morfologia, de Horácio Rolim de Freitas.
- A Irregularidade Verbal
De acordo com os princípios gramaticais tradicionais, cujas formas básicas ou modelares são denominadas regulares, aquelas que representem um desvio são denominadas irregulares e até anômalas. Faz-se necessário, no entanto, um exame mais amplo desses conceitos adotados anteriormente, por serem estes imprecisos e deficientes.
Os gregos antigos desenvolviam estudos sobre a relação entre o pensamento e a palavra, entre a coisa, o objeto e o nome. Dois grupos distintos se formaram nessa empreitada. Os anomalistas, que admitiam uma relação natural e genuína entre significado e significante, procurando pela origem dos nomes e os analogistas, que se opunham a essa relação estabelecida. Os alexandrinos, que tinham por objetivo fazer da gramática uma ciência autônoma, dentro da praticidade da linguagem usual e livre das complexidades filosóficas defendiam o oposto dos estoicos que primavam pela dialética e visavam a criação de uma ciência da verdade, com caráter teológico.
Essa distribuição lexical, entre duas palavras de radicais distintos, criando oposição masculino / feminino, não pertencem à morfologia vocabular. Trata-se de processo usado desde as línguas indo-europeias, ao lado da flexão nominal e verbal.
Na visão estrutural dos modernos estudos linguísticos, denomina-se supletivismo que, sobre explicitar formas paralelas aos padrões paradigmáticos de um sistema, desfaz o errôneo conceito de “irregularidade” da gramática filosófica.
Formas supletivas nos verbos
Ainda não foi aprimorado por nossos gramáticos um estudo mais detalhado sobre a disposição e ordem na formação dos verbos, em nossa língua, o que admitirá um agrupamento dos chamados verbos ”irregulares” em padrões especiais. A elaboração de conjuntos supletivos reunindo formas verbais que apresentem o mesmo paradigma, tornará mais prática a utilização destas, ao invés de decorar-se as extensas listas existentes.
As alterações que, às vezes, parecem tão distantes das formas de paradigma geral (“regulares”), requeririam, apenas, uma interpretação morfofonêmica, sob um critério sincrônico, sem o tradicional caminho da etimologia, das evoluções históricas.
Questões:
a) Para Mattoso, nos padrões especiais há tendência a uma uniformidade sob nova padronização.
Comente e exemplifique.
Segundo Mattoso, no estudo da paradigmática geral de um sistema, pode-se observar a estruturação dos fatos linguísticos, de acordo com os usos, estendendo-se para uma uniformização. Consequentemente, surgiram novas formas sob novos padrões. Essas formas que não pertencem aos padrões tradicionais são denominadas supletivas.
b) Verbos impessoais e unipessoais são classificados como irregulares. Isso é frequente? Exemplifique.
Os verbos impessoais e unipessoais são classificados como irregulares por desviarem-se do paradigma tradicional. Possuem a denominacão própria de verbos defectivos. O fato de se encontrarem fora do padrão de regularidades não faz com que sejam considerados verbos irregulares, mas defectivos. Assim chamados por não possuírem outras formas. Os unipessoais são aqueles que em determinado sentido apenas se empregados na 3ª pessoa. Inseridos nestes encontramos os verbos unipessoais que, desprovidos de sujeito, são invariavelmente empregados na 3ª pessoa do singular.
c) Celso Cunha não considera os verbos beber e mover como regulares. Comente.
Segundo Celso Cunha, embora os verbos beber e comer estejam graficamente inseridos nos modelos regulares das conjunções e suas respectivas desinências, eles sofrem alternância vocálica, e por isso são considerados irregulares.
d) De acordo com definição dos novos linguistas, não há formas irregulares e sim supletivas, ou seja, formas paralelas aos padrões paradigmáticos. Alomorfes seriam formas supletivas ou irregulares? Justifique a sua resposta.
Os alomorfes são formas supletivas. Devido as alterações morfofonêmicas e a tendência à formação de padrões especiais ou de conjuntos supletivos do mesmo paradigma, que levam a uniformização paradigmática que continua a atuar na língua.