Metaplasmos
1- METAPLASMOS
Genericamente, um metaplasmo é uma alteração intencional do código, é exercício de criatividade sobre a língua. Os metaplasmos são praticados nos diversos níveis linguísticos: gráfico, ortográfico, fonológico, gramatical.
Nosso interesse está voltado para o uso retórico dos metaplasmos, mas uma parte deles se difunde pelo uso e acaba levando à alterações diacrônicas do idioma. Além disso, existe uma relação estreita entre a criação de metaplasmos para uso retórico e a criação de léxico e gramática.
A seguir, sem pretensão de classificar nem de ser exaustivo, alguns tipos de metaplasmo:
1.1- Icônico: cria uma iconia. Exemplo: uma empresa de laticínios deu a um de seus produtos o nome de `mu-mu`.
1.2- De extrapolação: extrapola as características do código. Caso típico é a criação de palavras a partir de morfemas da língua.
1.3- Cobertura de defectividade: quando o código é defectivo, às vezes essa defectividade pode ser suprimida por um metaplasmo.
1.4- Metaplasmos clássicos: são típicos na poesia anterior ao Modernismo. Visam basicamente regularizar a métrica e costumam ser divididos em fonológicos: elisão, sinérese, diérese etc., e morfológicos: prótese, síncope, apócope etc.
1.5- Elíptico: resultam da elipse de parte de um termo.
Metaplasmos são alterações que as palavras sofrem durante sua evolução do Latim para o Português.
Essas alterações são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação.
Os metaplasmos se dão de quatro maneiras:
1- por aumento;
2- por supressão;
3- por transposição;
4- por transformação
2- METAPLASMOS POR AUMENTO
• prótese (aglutinação)
• epêntese (suarabácti)
• paragoge
2.1- Prótese - é o acréscimo de um fonema no início do vocábulo.
stare > estar
spiritu > espírito
scutu > escudo
Há uma maneira especial de prótese que é a aglutinação – incorporação do artigo no início do vocábulo.
lacuna > alagoa
minacia > ameaça
2.2- Epêntese - é o acréscimo de um fonema no meio do vocábulo
stella > estrela
humile > humilde
umero > ombro
A epêntese possui uma modalidade que é o suarabácti – intercalação de uma vogal para desfazer um grupo de consoantes.
planu > prão > porão
blatta > brata > barata
grupa (kruppa-germânico) garupa
2.3- Paragoge – é o acréscimo de fonema no fim da palavra.
ante > antes
3- METAPLASMOS POR SUPRESSÃO
• aférese
• síncope
• apócope
• crase (sinalefa)
3.1- Aférese – é a supressão de uma forma no início do vocábulo.
acume > gume
attonitu > tonto
episcopu > bispo
Caso especial de aférese é a deglutinação, supressão de um a ou o iniciais por confusão com o artigo.
horologiu > orologio > relógio
apotheca > abodega > bodega
3.2- Síncope – é a supressão de um fonema no meio do vocábulo.
Legale > leal
Legenda > lenda
Malu > mau
A síncope possui uma modalidade que é a haploologia – supressão da primeira de duas sílabas sucessivas iniciadas pela mesma consoante.
bondadoso > bondoso
tragicocomédia > tragicomédia
formicicida > formicida
3.3- Apócope – é a supressão de um fonema no fim da palavra.
mare > mar
amat > ama
male > mal
3.4- Crase – é a fusão de duas vogais iguais em uma só
pede > pee > pé
colore > coor > cor
nudu > nuu > nu
Quando a crase se dá pela junção da vogal final de uma palavra com a vogal inicial de outra, na formação de expressões compostas, recebe o nome especial de sinalefa.
outra + hora > outrora
de + este > deste
de + intro > dentro
4- METAPLASMOS POR TRANSPOSIÇÃO
Os metaplasmos por transposição podem-se dar por deslocação de fonema ou de acento tônico da palavra.
• A deslocação de fonema pode ser por metátese e por hipértese.
4.1- Metátese – é a transposição de um fonema na mesma sílaba.
pro > por
semper > sempre
inter > entre
4.2- Hipértese – é a transposição de um fonema de uma sílaba para outra.
capio > caibo
primariu > primairo > primeiro
fenestra > festra > festa
4.3- A deslocação do acento tônico recebe o nome de hiperbibasmo.
O hiperbibasmo compreende a sístole e a diástole.
4.3.1- Sístole – é o recuo do acento tônico da palavra.
pantânu > pântano
campâna > campa
idólu > ídolo
4.3.2- Diástole – é o avanço do acento tônico da palavra.
límite > limite
pônere > ponere
tênebra > tenebra
5- METAPLASMOS POR TRANSFORMAÇÃO
Vocalização e Consonantização
Nasalização e Desnasalização
Assimilação ou Abrandamento
Sonorização
Palatização
Assibilação
Ditongação ou Alargamento
Monotongação ou Redução
Apofonia
Metafonia
5.1- Vocalização – é a transformação de uma consoante em vogal.
nocte > noite
regnu > reino
multu > muito
5.2- Consonantização – é a transformação de uma vogal em consoante. Dão-se casos de consonantização com as semivogais i e u latinas, que passam, respectivamente, a j e v.
iam > já
Iesus > Jesus
uita > vida
uacca > vaca
5.3- Nasalização – é a passagem de um fonema oral a nasal a oral.
nee > nem
mihi > mim
bonu > bom
5.4- Desnasalização – é a passagem de um fonema nasal a oral.
luna > lua > lua
bona > bõa > boa
ponere > põer > pôr
5.5- Assimilação – é a transformação de um fonema em igual ou semelhante a outro existente na mesma palavra.
Ipsi > isso
• A assimilação pode ser:
a) total
b) parcial
c) progressiva
d) regressiva
• É total quando o fonema assimilado se iguala ao assimilador.
persona > pessoa
mirabilia > maravilha
per + lo > pello > pelo
• É parcial quando o fonema assimilado apenas se assemelha ao assimilador.
auru > ouro
lacte > laite > leite
assibilare > assibiar > assobiar
• É progressiva quando o fonema assimilador está antes do assimilado.
Amam-lo > amam-no
Nostro > nosso
Molinariu > molnario > mollairo > moleiro
• É regressiva quando o fonema assimilador vem depois do assimilado.
persicu > pêssego
captare > cattar > catar
ipsa > essa
5.6- Dissimilação – é a diferenciação de um fonema por já existir outro igual na palavra.
liliu > lírio
memorare > membrar > lembrar
rotundo > rodondo > redondo
• A dissimilação, às vezes, pode levar à supressão de fonemas e recebe, então o nome de dissimilação eliminadora.
aratru > arado
cribru > crivo
rostru > rosto
5.7- Sonorização ou Abrandamento – é a passagem de uma consoante surda à sua homorgânica sonora. Só ocorre a sonorização se a consoante surda estiver em posição intervocálica.
• As surdas que se sonorizam são:
p > b - capio > caibo
lupu > lobo
t > d - civitale > cidade
cito > cedo
maritu > marido
c > g - pacare > pagar
(quê) (guê) aqua > água
amicu > amigo
aquila > águia
c (e, i) > z - acetu > azedo
vicinu > vizinho
facere > fazer
f > v - profectu > proveito
aurifice > ourives
b > v - cabaliu > cavalo
faba > fava
populo > pobo > povo
a passagem do b para v recebe o nome especial de degeneração.
5.8- Palatização – é a transformação de um ou mais fonemas em uma palatal. Comumente se dá com:
n (e, i) + vogal > NH vínea > vinha
aranea > aranha
seniore > senhor
juniu > junho
l (i, e) + vogal > LH palea > palha
folia > folha
juliu > julho
d (e, i) + vogal > J video > vejo
hodie > hoje
invidia > inveja
pi, ci, fi > CH pluvia > chuva
implere > encher
clave > chave
masculu > masclu > macho
flamma > chama
inflare > inchar
cl, pl, gl > LH oculu > oclo > olho
sc, ss (i, e) > X pisce > peixe
passione > paixão
miscere > mexer
russeu > roxo
s ( i ) > J cerevisia > cerveja
basiu > beijo
ecclesia > igreja
5.9- Assibilação – é a transformação de um ou mais fonemas em uma sibilante. Comumente se dá com:
d (e, i) + vogal > Ç audio > ouço
frondea > fronça (franças)
ardeo > arço (arc.)
c (e, i) + vogal > Ç ou Z lancea > lança
minacia > ameaça
Gallicia > Galiza
judieiu > juizo
5.10- Ditongação – é a passagem de um hiato ou de uma vogal a ditongo.
malo > mao > mau
sto > estou
do > dou
arena > area > areia
5.11- Monotongação ou Redução – é a simplificação de um ditongo em uma vogal.
fructu > fruito (arc.) > fruto
lucta > luita (arc.) > luta
auricula > orelha
5.12- Apofonia – é a mudança de timbre de uma vogal por influência de um prefixo.
in + aptu > inepto
in + barba > imberbe
sub + jactu > sujeito
5.13- Metafonia – é a mudança de timbre de uma vogal tônica por influência de outra,
geralmente i ou u.
debita > dívida
tepidu > tíbio
tosso (v. tossir) > tusso
cobro (v. cobrir) > cubro
6- ESQUEMA / METAPLASMOS
1- Por AUMENTO
Prótese: atatua > estátua
Epêntese: stella > estrela
Paragoge: ante > antes
(aglutinação: minacia > ameaça)
(suarabácti : planu > p´rão > porão)
2- Por SUPRESSÃO
Aférese: acume > agume > gume
Síncope: pede > pee > pé
Apócope: mare > mar
Crase: pede > pee > pé
(deglutinação: apotheca > abodega > bodega)
(haplologia: formicicida > formicida)
3- Por TRANSPOSIÇÃO
a) Do acento (Hiperbibasmo)
1. diástole:
pônere > ponêre
2. sístole:
pantânu > pântano
b) De fonemas
1. metátese:
semper > sempre
2. hipértese:
capio > caibo
4- Por TRANSFORMAÇÃO:
Vocalização: nocte > noite
Consonantização: iactu > jeito
Nasalização: luna > lua > lua
Desnasalização: luna > lua > lua
Assimilação: ipse > esse
Dissimilação: liliu > lírio
Sonorização ou abrandamento: Apotheca > abodega
Palatização: hodie > hoje
Assibilação: bellitia > beleza
Ditongação: avena > avea > aveia
Monotongação ou redução: auricula > oricla > orelha
Apofonia: in + barba: imberbe
Metafonia: tepidu > tíbio
7- REFERÊNCIA:
Livro: Gramática Histórica
Autores: GARCIA, Dolores Carvalho e NASCIMENTO Manoel,
Editora: Ática - 13ª Edição
PG. 35 a 42