AFINAL, CORRE-SE “RISCO DE VIDA” OU “DE MORTE”?

Quando o estado de saúde de uma pessoa é grave, ouve-se, frequentemente, que ela corre RISCO DE VIDA. Afinal, qual seria a expressão autorizada pelos clássicos: RISCO DE VIDA ou DE MORTE? Essa debatida questão, longe da simplicidade que aparenta possuir, não é tão fácil de ser desatada. A lógica, o bom-senso, e um bom número de gramáticos atuais recomendam somente o uso de RISCO DE MORTE, assim como de PERIGO DE MORTE.

Entretanto, há registro das duas formas na língua culta. Logo, tanto faz dizer ou escrever RISCO DE VIDA ou RISCO DE MORTE. Colhe-se, a propósito, a lição sempre lúcida e oportuna do respeitado gramático LUIZ ANTONIO SACCONI, para quem:

“A expressão rigorosamente lógica, racional, é risco de morte (o elemento final deve denotar sempre algo ruim), assim como se corre risco de infecção num ambiente infecto; assim como se corre risco de contágio, se se tem contato com alguém que sofre de mal contagioso, etc.

Nem sempre, porém, o que é racional, lógico, acaba a braços com a língua, que também agasalha risco de vida. Aliás, consta dos mais antigos (e bons) dicionários.” (Não Erre Mais!, Editora Harbra, 28ª ed., 2005, p. 123/124).

Esse mesmo autorizado gramático, em obra mais recente, enfatiza:

“As duas são corretas: a primeira, tradicional na língua; a segunda, mais lógica ou racional. É preciso nunca esquecer, todavia, que a língua não é um instrumento lógico; os incipientes nos estudos linguísticos ou os que pouco proveito retiraram do seu aprendizado, insistem em querer vê-la assim, incorrendo em equívoco tão risível quanto aqueles que cometem os recrutas num quartel.” (Corrija-se! de A a Z, Editora Nova Geração, 1ª ed., 2008, p. 383).

O notável DOMINGOS PASCHOAL CEGALLA, com a autoridade didática de sempre, ensina:

“correr risco de vida. Expressão usual, em vez de correr risco de morte, que seria a expressão mais coerente, pois correr o risco tem cabimento quando nos referimos a um mal, a uma situação adversa: correr o risco de perder o emprego; correr o risco de afogar-se; correr o risco de morrer; animais que correm o risco de extinção. Diz-se também risco de contaminação, risco de incêndio; risco de roubo, etc., e ainda 'correr perigo de morte': "Teu filho correria perigo de morte se lá estivesse." (Diná Silveira de Queirós, Memorial do Cristo, p. 68). Em escritores clássicos ocorre 'perigo de vida': "... seu amo estava em perigo de vida." (Camilo Castelo Branco, O romance dum homem rico, Obra seleta, vol. I, p. 208).” (Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, Editora Lexikon, 1ª ed. 2007, p. 102).

David Fares
Enviado por David Fares em 26/09/2010
Reeditado em 26/09/2010
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