REDUNDÂNCIA E AS FRASES QUE ME DOEM NOS OUVIDOS
Dentro da norma culta temos o termo redundância, classificada como vício de linguagem, aquilo que é usado mas não é considerado como certo perante as normas gramaticais.
Trata-se do uso de palavras ou expressões que reforçam um pensamento sem que haja necessidade, pois sem estas expressões a frase seria normalmente entendida.
Os exemplos clássicos são : "Subir a subida" e "descer a descida".
Usar de redundância não é considerado um erro gramatical propriamente dito, mas sim uma ação desnecessária para reforçar um pensamento sem a menor necessidade. Sendo assim são vícios da fala.
Um ponto importante é ressaltar que a redundância também é chamada de tautologia, e, equivocadamente de "pleonasmo".
De acordo com José de Nicola, escritor de livros didático de Língua Portuguesa, destinados aos Ensinos Médio e Fundamental, o pleonasmo difere da redundância por ter nele o intuito literário, ou seja : "escrevi" assim porque eu quis. Então temos pleonasmos em poesias, contos, fábulas, etc, e jamais na fala ( aqui é redundância).
Mas infelizmente temos pessoas, que não deveriam, mas usam e abusam da redundância.
Às vezes escuto algumas frase que, por meio das pessoas ou instituições que as proferem, sinto uma dor imensa nos ouvidos, por ter de escutá-las. São frases que jamais deveriam ser ditas por formadores de opinião, que influenciam nossa população , principalmente no campo escolar.
Entendo que muitas delas são ditas muito mais pelo costume do que pelo conhecimento, mas isso faz com que todos considerem tais orações como corretas dentro dos conceitos da norma culta.
Vamos analisar algumas delas para nos posicionarmos melhor quando algo não nos soar bem.
Quando ouvimos "A grande maioria", há uma referência a uma parte grande de um total. Pelo significado da palavra "maioria", ela já é grande em relação à outra parte, no caso a minoria, portanto o uso da expressão "Grande maioria" trata-se de uma redundância aplicada comumente pelos jornais televisivos, que todos acreditam serem corretos em relação à forma de se falar. Admitir a redundância neste caso significa que teremos também a "pequena maioria, a grande minoria e a pequena minoria".
Sempre que vemos a propaganda dos feitos de uma prefeitura, em quase toda a sua totalidade, tais propagandas encerram com a frase "PREFEITURA MUNICIPAL". Esta frase dói até nos ossos. Vamos mais uma vez de encontro ao uso indiscriminado de frases reduntantes. Prefeitura significa "sede ou governo da municipalidade", ou seja, toda prefeitura só e somente pode ser "municipal", ou será que alguém conhece a "prefeitura estadual, ou prefeitura federal"?
Poucas são as cidades que não usam esta expressão. Até mesmo a bela Porto Alegre, considerada a capital onde se fala o português mais correto no país, usa tal expressão. São Paulo tem uma expressão mais peculiar: "Prefeitura do Municipio de São Paulo", não está a contento pelo seguinte fato construtor da expressão:
-Prefeitura (de onde?) do municipio de São Paulo.
Algumas por sua vez se utilizam somente do termo "Prefeitura de (nome da cidade)", que seria o mais correto no caso.
Conheço a Coordenadora de um Campus de certa faculdade paulistana com nome de poeta, que, por possuir formação acadêmica deve ser considerada uma pessoa irrepreensível no modo de falar. Ledo engano, pois ela parece mais trabalhar em um telemarketing tamanho o uso indiscriminado do tão afamado " Gerundismo".
Para nos localizarmos, temos o modo verbal chamado gerúndio, que é indicado pela terminação NDO ( falando, tecendo, cantando, etc). Este modo verbal é utilizado com um verbo auxiliar, para determinar uma ação contínua por um determinado tempo.
ex: Estive falando com Marcela.
Continuarei cantando no quarto.
Viverei comendo porcarias.
Há ainda o futuro composto, locução verbal formado por um verbo auxiliar no futuro e um verbo principal no infinitivo impessoal, que substitui o tempo futuro na fala ( modo coloquial da maneira de se falar).
Como exemplo temos:
Vou cantar! ( em substituição a " Cantarei!").
No caso específico do Gerundismo, temos a presença de dois verbos auxiliares e um principal, tornando a frase incomodativa, principalmente quando parece que a pessoa que a usa, não conhece outros modos de falar além desse.
ex - "Vamos estar contando o que vai estar acontecendo e só vamos estar parando quando vamos estar tendo a certeza de que ele vai estar chegando."
Tão melhor se diminuíssemos o uso desnecessário de verbos, deixando a frase assim:
"Vamor contar o que vai acontecer e só vamos parar quando vamos ter a certeza de que ele vai chegar"
Melhor ainda se ficar assim:
"Contaremos o que acontecerá e só pararemos quando tivermos a certeza de que ele chegará."
Muito mais fácil de se entender.
O gerundismo adentrou a Língua Portuguesa por meio de traduções literais de textos em inglês, onde as regras gramaticais não definem tal situação. Como exemplo temos:
"I will be loving you."
Traduzindo ao pé da letra temos:
"Eu vou estar amando você."
Quando o correto seria " Eu estarei amando você"
O termo "will" não se traduz para o português, sendo apenas o indicativo de futuro, na língua anglo-saxônica.
Deixando acadêmicos e imprensa de lado, temos na linguagem coloquial, o uso da redundância mais comum do que pensamos. Neste caso específico, a Linguística prega que não importa o modo como se fala, mas sim se a mensagem passada foi entendida pelo receptor.
Mesmo assim vejamos alguns exemplos, sem grandes comentários, respeitando a ínguística:
"Te apresento pela primeira vez!"
(quantas vezes se apresenta uma pessoa?)
"Eu tenho um amigo meu"
( se eu tenho é meu.)
"Te conheço você!"
(????)
"Margarina livre de colesterol"
( margarina é gordura vegetal e colesterol é gordura de origem animal, portanto nenhuma margarina tem colesterol, exceto se for adicionada - o que deve ser indicado no rótulo. O que a margarina pode ter são as gorduras saturadas e insaturadas)
"Sem adição de álcool"
(porém temos propileno glicol, estearol, e outras palavras terminadas em OL, que pela química indicam ésteres, alcaídeos e alcoóis).
"Ganhe grátis"
"Ganhe de graça"
( se ganhamos é por que foi de graça - ou grátis- ou alguém paga por algo que ganhou ?)
Estes são apenas alguns exemplos que podemos ouvir constantemente, basta-nos prestar atenção no que as pessoas falam. Principalmente a imprensa.