FALTA DE PALAVRAS
Você talvez ache que nosso dicionário, com milhares de palavras, reproduza com exatidão tudo que queremos dizer. Engano.
Já notou, perspicaz leitor, como faltam palavras em nossa língua para denominar alguns objetos ou atos praticados, e precisamos ir buscá-las em outros contextos?
Você toma banho usando chuveiro, que vem de chuva; penteia-se com uma escova. Embarca no ônibus, no avião e nem sempre num barco.
As moças saem na chuva com uma sombrinha. Os policiais pedem (ou melhor, ordenam) que os jovens circulem e isso não quer dizer que devem sair em círculos. Se você tem em casa um armário, certamente não é para guardar armas. Seu carro patina na lama sem que você lhe coloque patins debaixo da carroceria.
O repórter que “cobre” qualquer acontecimento não sai de sua empresa portando um cobertor. Para “desmanchar” um nó certamente ninguém precisa utilizar nenhum tipo de sabão em pó. Pescar de tarrafa é tarrafear. E pescar de caniço?
Existem também fatos e situações que não possuem denominação específica; você terá que gastar um rol de palavras para explicitá-los. Como poderíamos conceituar: uma roupa que não se quer mais usar? Uma pessoa que você não vê há muito tempo e não reconhece mais. Uma garota que você pensa que está lhe dando bola, mas que nem lhe percebeu. Alguém que você conhece pela voz. Fulano é... vamos, diga.
Em matéria na revista Língua Portuguesa – Conhecimento Prático, nº 19, lê-se, entre outras coisas, que os japoneses utilizam um vocábulo – bakku-shan – para indicar “uma garota bonita, desde que vista de costas”. Os franceses criaram a expressão “espirit d’escalier” para denominar a seguinte situação, muito comum: quando alguém pensa na resposta perfeita para um comentário ou provocação, mas tarde demais. É o famoso: “porque eu não pensei isso na hora?”. Em inglês existe o termo “bathless” para indicar o indivíduo que não toma banho. E em português?
Os brasileiros criaram uma expressão que os gringos devem invejar: como denominamos uma mulher de feições grosseiras, mas que se distingue pela bela parte anatômica considerada preferência nacional? Quem pensou Raimunda, acertou!
E como você, leitor, denominaria uma pessoa que reúne essas três qualidades básicas: ser corrupto, mentiroso e interessado apenas no próprio enriquecimento?