Produzir um bom texto: eis a questão !

Há um zum-zum-zum acadêmico: Para escrever um bom texto é preciso saber gramática normativa. Até que ponto isso é verdade ? - Até que ponto não é ? - E será que não seria ingenuidade descartar essa hipótese ? - E a estilística, onde ela entra em tudo isso ?

Para responder a essas perguntas seria preciso entender antes o que é um texto escrito. Pois então lá vai: o que é um texto escrito ? - Há muitas explicações artísticas e filosóficas para essa pergunta. Eu me contentaria com uma: "texto escrito é fruto de atividade social" - o filósofo contemporâneo Luís Felipe Pondé revelou, certa vez, num artigo de jornal, que escrevia para não se sentir só - pois se trata exatamente disso: quem escreve escreve para se socializar. Gosto desta explicação porque respalda a confirmação que qualquer um pode fazer: escrever não é, nem jamais será um ato isolado. Escreve-se junto(s).

Assim, não se cria textos no vazio: textos são irmãos, são aparentados, nascem uns dos outros. Se quero escrever um texto razoável sobre, digamos, "moda"; é preciso que para isso eu tenha tido antes contato com textos orais ou escritos, sobre esse tema em diversos gêneros: artigos de revistas, jornais, congressos, palestras, científicos etc. Ou seja, para escrever bem, é preciso primeiro conhecer razoavelmente o assunto do qual vai tratar: é preciso ter um acervo cultural.

Quanto a gramática normativa, que defende que os grandes escritores devem ser imitados; eu diria que, ao dizer isso, ela acerta; mas por caminhos errados uma vez que a imitação que ela defende é a da própria gramática daqueles textos - então eu pergunto - como é que se imita linguisticamente algo que já é da língua ? - Nesse sentido ela falha. Mas acerta em outro, porque grandes escritores merecem ser imitados. E é aí que entra a estilística. Desse ponto de vista, imitar os grandes escritores é imitar o seu estilo e não a sua gramática. Mas por que seu estilo merece ser imitado ? - Porque essa imitação, além de aumentar o acervo linguístico de quem vai produzir um texto, contribui para o alto rendimento estético desse mesmo texto. Para ilustrar melhor isso, vou exemplificar com uma passagem de Os Lusíadas, Camões:

[Cantando / espalharei / por toda parte / os grandes feitos / que fizeram]

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Agora, um exemplo comum de um texto qualquer, que vou chamar de texto "1" :

O bebê, que brincava com giz de cera, havia espalhado por toda casa, rabiscando em pisos e móveis, desenhos de dragões após tê-los visto na t.v.

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Aplicando o estilo de Camões ao texto acima obtemos o que vou chamar de texto "2":

Brincando com giz de cera / o bebê havia espalhado / por toda casa, rabiscando pisos e móveis, / desenhos de dragões / que ele vira na t.v.

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Ao que parece o texto "2" tem um rendimento estilístico muito maior que o texto "1". Mas isso aconteceu não porque houve imitação da gramática de Camões e sim porque houve imitação de seu estilo.

A gramática que contribui para a clareza nos textos já é da língua e por isso não pode e nem precisa ser imitada; pode ser apreendida, na sua variante culta, com leitura frequente de textos bem escritos. Já o estilo, que contribui para a leitura agradável desses mesmos textos, este sim pode e vale a pena ser imitado. De posse desse conhecimento gramatical, estilístico e cultural, portanto, é possível escrever um bom texto desde que se pratique. Não há segredo, escrever bem pode ser resumido em três regras:

1- ter acervo linguístico (uso da norma gramatical e estilo prestigiosos )

2- ter acervo cultural (conhecer o assunto do que vai escrever)

3- escrever, escrever e escrever (prática)

Alexandre Joshua
Enviado por Alexandre Joshua em 09/10/2009
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T1857341