Substantivo: uma questão de gênero
Flexão de gênero é mesmo um drama. Dias a trás li não sei onde explicarem que o certo é "o bebê" e não "a bebê" em resposta a um leitor. Fiquei um tanto curioso. E recorri a gramáticas e manuais de consulta em língua portuguesa. Lá explicam que substantivos flexionam de diversos modos:
GÊNERO FEMININO
1-a forma "médica", por exemplo, só aparece ao lado de um artigo feminino "a" - 'a médica' - daí dizemos que o substantivo "médica" é do gênero feminino ( ninguém diz "o médica" ). No mesmo paradigma estão: a árvore, a pizza, a escada, a toalha, a mesa...
GÊNERO MASCULINO
2- a forma "médico" só aparece ao lado de um artigo masculino "o" - 'o médico' - daí dizemos que o substantivo "médico" é do gênero masculino ( ninguém diz "a médico" ). No mesmo paradigma estão:
o cachorro, o sapato, o bezouro, o esquema...
GÊNERO COMUM-DE-DOIS
3- já a forma "amante" aparece ao lado de artigos masculino e feminino "o" e "a" - 'o amante' e 'a amante' - daí dizemos que esse substantivo é comum-de-dois (pessoas dizem "a amante" para mulher - "o amante" para homem ). No mesmo paradigma estão: o jornalista - a jornalista, o colega - a colega, o pianista - a pianista...
GÊNERO SOBRECOMUM
4- a forma "vítima" só aparece ao lado de um artigo: o feminino "a" - 'a vítima' - porém pode se referir a um homem ou a uma mulher - daí dizemos que esse substantivo "vítima" é sobrecomum ( ninguém diz "o vítima" para homem ). No mesmo paradigma estão: o algoz, o cônjuge, a testemunha...
Há dois fatos a considerar:
1- que os sintagmas "a bebê", "minha bebê", "a bebezinha", "minha bebezinha" aparecem com frequência na fala de muitas pessoas, inclusive cultas (a forma "bebê" aparece ao lado de "a" e "o", pessoas dizem 'o bebê' para meninos e 'a bebê' para meninas). O que comprova, em certa medida, que, na língua viva, esse substantivo está mudando: esse sustantivo que antes era tratado como sobrecomum, hoje é comum-de-dois;
2- que a escrita, por ser conservadora, ainda pede que se trate esse substantivo como sobrecomum ('o bebê' para meninos e meninas). O que comprova que língua e escrita são diferentes.