ANÁLISE SINTÁTICO-SEMÂNTICA DOS SUBSTANTIVOS COMPOSTOS
Muitos, senão todos, têm dúvidas quanto ao plural dos compostos. Por que alguns verbos variam, e outros não? Quando é verdadeiramente verbo, quando é nome? Ou ainda: por que alguns admitem mais de um plural?
O que parece mera convenção, em alguns casos, pode ser resolvido por sintaxe ou semântica, de fato, convenções há, porém, a maior parte dos compostos faz parte de regras bem delimitadas. A saber:
I. Por que guarda é verbo numa frase e substantivo noutra?
Exemplos:
a) guarda-chuvas, guarda-volumes, guarda-vestidos, etc. são formados por verbos seguidos de substantivos. Isso se deve à sintaxe: em todos os casos GUARDAR é verbo transitivo direto (quem guarda guarda alguma coisa) e, como tal, exige um objeto direto (formatado por um substantivo ou palavra que o substitua – numerais e pronomes). Analisando-se sintaticamente, teríamos: (Ela) guarda o vestido, verbo transitivo direto seguido de seu objeto direto cujo núcleo é o substantivo vestido.
b) guardas-civis, guardas-municipais, guardas-militares, etc. são formados de substantivos seguidos de adjetivos. Isso se deve mais uma vez à sintaxe: adjetivo, sintaticamente, exerce funções de predicativo ou adjunto adnominal. Como GUARDAR é substantivo, sabendo-se que adjetivo em função de predicativo liga-se a verbo, o termo que o especifica é necessariamente adjunto adnominal.
Outros exemplos: beija-flores (verbo transitivo direto + objeto direto); arranha-céus (verbo transitivo direto + objeto direto); borra-botas (verbo transitivo direto + objeto direto); por outro lado: cartões-postais, cartas-circulares, amores-perfeitos, são todos substantivos seguidos de seus respectivos adjuntos adnominais.
E os cola-tudo? Por que plural apenas no artigo? É uma exceção? Não! COLAR é transitivo direto e TUDO (pronome indefinido invariável), seu complemento.
O mesmo acontece com os bumba-meu-boi dita frase substantivada. Na verdade, BUMBAR é verbo (surrar, espancar), MEU é pronome variável e BOI é substantivo (variável); portanto, se tivéssemos que pluralizar BOI, deveríamos fazer o mesmo com o pronome, nesse caso, a palavra seria “bumba-meus-bois”. No entanto, esse tipo de manifestação folclórica do Nordeste do Brasil é realizada com apenas UM BOI, e não dois ou três como sugeriria seu plural.
II. Por que “os louva-a-deus” só pluraliza o artigo e “os pores-do-sol” varia o primeiro elemento? Ambos, LOUVA e PÔR, não são verbos?
SIM e NÃO! Ambos são verbos em suas formas dicionarizadas. Na formação do substantivo composto, no entanto, o primeiro, por estar flexionado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, assume sua função transitiva direta, exigindo um complemento verbal (objeto direto), representado pelo núcleo substantivo “deus”. Lembre-se de que um objeto direto deve ser preposicionado quando se referir a “divindades” como no exemplo supracitado. Já em pôr-do-sol, o verbo dá lugar ao substantivo convertido (o pôr, ou seja, o “dormir, deitar, descansar, viajar” do sol).
III. Por que então em palavras como bem-te-vis, quero-queros, treme-tremes, etc. pluralizam-se os verbos?
Porque de fato não o são, ou seja, são termos onomatopaicos (reproduzem sons), assim como foram entendidos por quem os criou em suas respectivas épocas.
IV. Por que ruge-ruges ou ruges-ruges, corre-corres ou corres-corres, pega-pegas ou pegas-pegas? Não seriam termos onomatopaicos?
Sim, eles o são. Nesses casos, tem-se exemplos de imposição dos gramáticos, signatários das leis, que elaboram essas regras e as instituem consoante suas próprias convicções. Mera convenção!
Observação: Lançamento breve do Manual de Redação - Teoria e Prática - Redação Oficial, Dissertações e Textos Argumentativos, 3ª edição, Ed. Ímpetus, deste autor.
Muitos, senão todos, têm dúvidas quanto ao plural dos compostos. Por que alguns verbos variam, e outros não? Quando é verdadeiramente verbo, quando é nome? Ou ainda: por que alguns admitem mais de um plural?
O que parece mera convenção, em alguns casos, pode ser resolvido por sintaxe ou semântica, de fato, convenções há, porém, a maior parte dos compostos faz parte de regras bem delimitadas. A saber:
I. Por que guarda é verbo numa frase e substantivo noutra?
Exemplos:
a) guarda-chuvas, guarda-volumes, guarda-vestidos, etc. são formados por verbos seguidos de substantivos. Isso se deve à sintaxe: em todos os casos GUARDAR é verbo transitivo direto (quem guarda guarda alguma coisa) e, como tal, exige um objeto direto (formatado por um substantivo ou palavra que o substitua – numerais e pronomes). Analisando-se sintaticamente, teríamos: (Ela) guarda o vestido, verbo transitivo direto seguido de seu objeto direto cujo núcleo é o substantivo vestido.
b) guardas-civis, guardas-municipais, guardas-militares, etc. são formados de substantivos seguidos de adjetivos. Isso se deve mais uma vez à sintaxe: adjetivo, sintaticamente, exerce funções de predicativo ou adjunto adnominal. Como GUARDAR é substantivo, sabendo-se que adjetivo em função de predicativo liga-se a verbo, o termo que o especifica é necessariamente adjunto adnominal.
Outros exemplos: beija-flores (verbo transitivo direto + objeto direto); arranha-céus (verbo transitivo direto + objeto direto); borra-botas (verbo transitivo direto + objeto direto); por outro lado: cartões-postais, cartas-circulares, amores-perfeitos, são todos substantivos seguidos de seus respectivos adjuntos adnominais.
E os cola-tudo? Por que plural apenas no artigo? É uma exceção? Não! COLAR é transitivo direto e TUDO (pronome indefinido invariável), seu complemento.
O mesmo acontece com os bumba-meu-boi dita frase substantivada. Na verdade, BUMBAR é verbo (surrar, espancar), MEU é pronome variável e BOI é substantivo (variável); portanto, se tivéssemos que pluralizar BOI, deveríamos fazer o mesmo com o pronome, nesse caso, a palavra seria “bumba-meus-bois”. No entanto, esse tipo de manifestação folclórica do Nordeste do Brasil é realizada com apenas UM BOI, e não dois ou três como sugeriria seu plural.
II. Por que “os louva-a-deus” só pluraliza o artigo e “os pores-do-sol” varia o primeiro elemento? Ambos, LOUVA e PÔR, não são verbos?
SIM e NÃO! Ambos são verbos em suas formas dicionarizadas. Na formação do substantivo composto, no entanto, o primeiro, por estar flexionado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, assume sua função transitiva direta, exigindo um complemento verbal (objeto direto), representado pelo núcleo substantivo “deus”. Lembre-se de que um objeto direto deve ser preposicionado quando se referir a “divindades” como no exemplo supracitado. Já em pôr-do-sol, o verbo dá lugar ao substantivo convertido (o pôr, ou seja, o “dormir, deitar, descansar, viajar” do sol).
III. Por que então em palavras como bem-te-vis, quero-queros, treme-tremes, etc. pluralizam-se os verbos?
Porque de fato não o são, ou seja, são termos onomatopaicos (reproduzem sons), assim como foram entendidos por quem os criou em suas respectivas épocas.
IV. Por que ruge-ruges ou ruges-ruges, corre-corres ou corres-corres, pega-pegas ou pegas-pegas? Não seriam termos onomatopaicos?
Sim, eles o são. Nesses casos, tem-se exemplos de imposição dos gramáticos, signatários das leis, que elaboram essas regras e as instituem consoante suas próprias convicções. Mera convenção!
Observação: Lançamento breve do Manual de Redação - Teoria e Prática - Redação Oficial, Dissertações e Textos Argumentativos, 3ª edição, Ed. Ímpetus, deste autor.