Figuras de Linguagem em "O Caçador de Esmeraldas", de Olavo Bilac

FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de linguagem, ou de estilo, são os recursos estilísticos com os quais “se embeleza, enfatiza, ou se dá mais originalidade à expressão das idéias”(Houaiss), quando se muda o sentido original das palavras para dar ao enunciado uma expressão conotativa.

Segundo Mattoso Câmara, figuras de linguagem são “aquelas que assume a linguagem para fim expressivo, afastando-se do valor lingüístico normalmente aceito”.

Segue abaixo um pequeno estudo sobre os recursos utilizados por Olavo Bilac para enfatizar e embelezar as aventuras do bandeirante Fernão Dias Pais Leme, no épico “O Caçador de Esmeraldas”. Este estudo não esgota as possibilidades de interpretações e garimpagem de figuras no épico; dá, sim, o pontapé inicial para um desbravamento estilístico.

“Fernão Dias Pais Leme agoniza. Um lamento

Chora longo, a rolar na longa voz do vento.

Mugem soturnamente as águas. O céu arde.

Transmonta fulvo o sol. E a natureza assiste,

Na mesma solidão e na mesma hora triste,

タ agonia do herói e à agonia da tarde.”

O autor, nesta estrofe, usa a prosopopeia para mostrar a cumplicidade da natureza com o herói no momento em que este agoniza; sem poder interferir na sorte do herói e nem mesmo no fim da tarde, a natureza assiste à agonia daquele no mesmo instante em que, ao anoitecer, também a tarde agoniza e esvai-se. Esta dupla agonia é mostrada por um paralelo feito pelo autor entre a agonia de Fernão e a agonia da tarde; Bilac, com este paralelo e as metáforas em relação ao céu e ao sol, situa a passagem agonizante do herói no momento do crepúsculo.

“Verdes, os astros no alto abrem-se em verdes chamas;

Verdes, na verde mata, embalançam-se as ramas;

E flores verdes no ar brandamente se movem;

Chispam fuzis riscando o céu sombrio;

Em esmeraldas flui a água verde do rio,

E do céu, todo verde, as esmeraldas chovem...”

Na estrofe acima, Bilac usa a anáfora da palavra “verdes” nos dois primeiros versos, evocando, talvez, as esmeraldas e usa a repetição do vocábulo verde(verdes), adjetivando os substantivos que aparecem ao longo da estrofe. Essa qualificação de substantivos, que não costumam aparecer na coloração verde em suas formas naturais e de outros que possuem tal cor natural, tem como finalidade anunciar a chuva de esmeraldas que irá proporcionar a Fernão Dias um estímulo para que ele reviva.

“...Esse destroço humano, esse pouco de pó”

Neste verso, o autor compara o corpo já exaurido de Fernão Dias a um pouco de pó. Há uma símile implícita (se se pode usar este termo), ou seja, uma comparação ao relato bíblico que diz, em outras palavras, que o homem foi feito do pó e ao pó retornaria. Fernão encontrava-se em seus últimos momentos, como se ao pó já estivesse retornando, e “esse pouco de pó” demonstra que faltava pouco para que Fernão expirasse (momentos antes da chuva de esmeralda que o ressuscitou).

“Morre! Tu viverás nas estradas que abristes!

Teu nome rolará no largo choro triste

Da água do Guaicuí...Morre, Conquistador!

Viverás quando, feito em seiva o sangue, aos ares

Subires, e, nutrindo uma árvore, cantares

Numa ramada verde entre um ninho e uma flor!”

No primeiro verso ocorre um paradoxo, quando a voz diz ao bandeirante “Morre!” e, em seguida, “tu viverás”. Na verdade, morrendo, o herói seria lembrado pelos seus atos e viveria como um nome de estrada que desbravara quando vivo.

Nos terceiro e quarto versos, novamente aparece o paradoxo em que morrendo Fernão na floresta, viveria, sendo seu sangue como seiva (símile), como nutriente para tornar ainda mais verde as folhagens.

Rogerio Braga Bandeira

Rogerio Bandeira
Enviado por Rogerio Bandeira em 08/08/2009
Reeditado em 08/08/2009
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