Pontuação

Caros leitores (principalmente aquele que me solicitou esta "aula" virtual), se existe u´a missão difícil é escrever sobre o uso dos sinais gráficos que servem para indicar pausa e entonação de voz. Isso mesmo: Estou falando dos senhores PONTO FINAL, PONTO DE INTERROGAÇÃO, PONTO DE EXCLAMAÇÃO, PONTO-E-VÍRGULA e da única senhora, a vírgula.

Nem mesmo os mais requintados recursos pedagógicos seriam mais úteis para mim do que a fala real, numa sala de aula feita de tijolo, telhado, carteiras, quadro-verde e alunos em carne, osso e perguntas.

Respondam-me: Quando vocês estão falando com a boca, existe alguma dúvida na pontuação? Caro que não! Então, sugiro que escrevam o texto livre (sem as vírgulas e os pontos-e-vírgulas), e leiam, para sentirem as pausas.

Vou fazer um arremedo de tentativa de explicar cada um dos cinco principais elementos indicadores de pausa e entonação de voz.

Começando pelos mais "fáceis", vamos ao ponto de interrogação. Serve para indicar uma pergunta (não é óbvio?) Mas até sozinho ele é um texto. Mostra a dúvida, a incerteza. Numa partida de xadrez, após um lance meio ruim (ou ruim e meio), grafa-se o ponto-de-interrogação para indicar que o copiador da partida o classificou como lance duvidoso ou mau lance.

Um balão que contém esse sinal, na história em quadrinhos, indica uma pessoa com dúvidas. Nos títulos de manchetes, de obras ou de capítulos, ele não pode ser omitido se for uma pergunta, sob pena de perda semântica. Essa omissão acontece com o ponto final.

O ponto de exclamação (que também não pode ser omitido em títulos de textos, etc., serve para indicar alguma emoção: Admiração, surpresa, estranhamento, por exemplo.

Sintaticamente, o ponto de excalamação e o de interrogação têm a mesma função do ponto final, sendo que além de estarem no final dos períodos, eles indicam a entonação da fala. Numa invocação. ele é bastante usado: Ó meu Deus!

O ponto final indica o fim de um período. Vejam no texto os lugares em que ele aparece. Um periodo pode ter uma oração (período simples) ou mais de uma oração (período composto). Na fala não existe nada disso! Ó meu Deus, p´ra que inventaram a escrita?!

A vírgula é um pouco como a crase. Não deveria ser usada a granel. Se ela não fosse tão importante (muito mais do que a crase) eu pediria que não fosse utilizada (como peço que ninguém use a crase se não souber, para não errar mais do que se não a utilizasse).

Existem situações clalríssimas de vírgula: Após o vocativo: Sarney¹, larga a cadeira! Se a vírgula saísse daí, o Sarney saïria da cadeira: Sarney larga a cadeira! É mais fácil tirar essa vírgula daí do que o Sarney da cadeira.

Em variegadas situações de APOSTO², a vírgula aparece em dose dupla: Antes e depois. Veja este clássico exemplo: Tiradentes, o Mártir da Independência, morreu enforcado. A expressão O MÁRTIR DA INDEPENDÊNCIA é um aposto. Então, coloque vírgula antes e depois. Mas há apostos em que a vírgula não aparece em duplicidade. Nos nomes de logradouros antecedidos pelo tipo de logradouro, por exemplo. Veja: Moro à Av. Treze de Maio, em Lisboa. A expressão Treze de Maio é aposto (até nessa frase ela é aposto de A EXPRESSÃO). Ela segue o tipo de logradouro denominado AVENIDA, abreviado (Av.). Quer outro aposto sem vírgula alguma? O presidente Sarney continua no cargo. Nessa oração, Sarney é aposto.

Outra situação em que a vírgula reclama presença é antes e depois das orações subordinadas adjetivas explicativas. Exemplo: Pedro, que não gosta de estudar, saiu reprovado. Para diferençar da oração subordinada adjetiva restritiva, cito a mesma oração com ligeira mudança: Aluno que não gosta de estudar sai reprovado. Essa é restritiva; portanto, nada de vírgula.

A vírgula tem também a missão de separar uma lista de coisas que estão citadas por semelhança, paralelismo: O homem estava cansado, triste, sujo e embriagado. Pode-se colocar a vírgula no lugar do "e" antes de embriagado. O homem estava cansado, triste, sujo, embriagado. Isso gera uma figura de estilo chamada de assíndeto (ausência do conectivo "e") cujo oposto é o polissíndeto (o homem estava cansado e triste e sujo e embriagado).

Nas orações adverbiais deslocadas (invertidas, a oração subordinada aparece primeiro do que a principal), cabe um virgulazinha. Quer ver? Oração "na ordem 'certa'": Eu estudo a fim de passar no vestibular. Invertendo: A fim de passar no vestibular, eu estudo. Outra, "na ordem": Feche a porta quando sair. Deslocando: Quando sair, feche a porta.

Existem vírgulas que são fatais: sua presença ou ausência pode determinar o destino de uma pessoa ou de um povo. Experimente mandar um telegrama para a Koreia do Norte nos seguintes termos:

NAO BOMBARDEIE O JAPAO PT (não haverá bombardeio)

NAO VG BOMBARDEIE O JAPAO PT (adeus, Japão).

Os mais jovens não entenderão o telegrama, mas vou logo explicando: Nesse meio de comunicação (ainda existe, viu?), o VG é vírgula; o PT é ponto final. Deve ser bem curto, pois cada palavra custa uma nota!

Costuma ter vírgula entre a oração coordenante e as orações coordenadas. Exemplo: Fui ao cinema, mas não vi o filme, pois cheguei atrasado.

Deixei o ponto-e-vírgula pro final (escrevo assim com hífen mas não é encontradiço no MICHAELIS nem assim nem sem hífen). Justifico: Quando em tenra idade, era assim que via nos livros de gramática.

O ponto e vírgula (vou deixar assim) é meio esquisito. Até na sala de aula "de carne e osso" sinto um pouco de dificuldade ao explicar seu uso.

Poderia dizer o seguinte: Se não souber usar o pontevírgula (mais uma maneira criativa de escrever!), use o ponto final, mas nunca a vírgula. Esse sinalzinho é uma pausa maior do que a vírgula e menor do que o ponto. Se usar no lugar do ponto (na escrita, é claro) acho difícil alguém sentir sua falta. Mas o bom senso, a intuição ou a harmonia (meus velhos amigos quando estou a escrever) falam mais alto. Neste texto, só o grafei duas vezes. Não sou muito de procurar situações em que ele é cabível. Vejam os dois exemplos naturais deste texto. Quer localizá-los? Então segure a tecla CTRL e a tecla F. Aparece uma janelinha lá embaixo, à esquerda, ao lado de um "X". entro da janela coloque o ";" sem as aspas, é claro! Aparecerá o primeiro. Clique com o rato em "próximo". Se não tiver rato, se não gostar de rato, ou tiver alergia a rato, segure a tecla "ALT" e a tecla "P". Meu navegador é o Mozilla Firefox. Se estiver no Iexplorer, o procedimento é outro, mas a aula aqui é de pontuação e não de informática ou navegação virtual.

Tá bom! se estiver no Iexplorer versão 8 (ou, quem sabe, o 7, ou 6) o comando é CTRL L.

(¹) José Sarney é, na data em que escrevo este texto, o presidente do Senado Federal.

(²) Aposto é: "Substantivo ou locução substantiva que, sem auxílio de preposição, modifica ou explica outro". Fonte: michaelis.uol.om.br (acessado em 30/07/2009, às 18h15).

António Fernando
Enviado por António Fernando em 30/07/2009
Reeditado em 25/08/2009
Código do texto: T1728017
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.