Um pouco de sintaxe e semântica em "Oceano", de Djavan

A proposta aqui apresentada é um estudo semântico da canção “Oceano”, de Djavan, onde se percebe um jogo metafórico e de sinonímia que constroem a poesia, fluindo como a água de um rio que segue para o oceano.

A sinonímia aparece explícita nos pares mar alto/oceano e solidão/deserto; a dupla “mar alto” e “oceano” dizem respeito ao autor, enquanto “solidão” e “deserto” estão intimamente ligados ao seu sentimento, o amor por outra pessoa que aparece metaforicamente, e implícita, como água, a água de um rio, conforme caminho seguido por esta proposta.

Percebe-se que quando o autor diz que “de tudo que há na terra/ não há em lugar nenhum/ que vá crescer sem você chegar”, indiretamente ele está se referindo à água, pois sem esta não há o processo de irrigação, natural ou artificial, do qual a terra precisa para frutificar. Comparando-se a essa terra, diz que a falta d’água é um dos temores do deserto, que é o predicado para o seu “amor”.

Mas quando o outro chega, o autor esquece da solidão, dos “seus temores”, e da dor de amar e recebe o amor no momento em que o rio deságua nele; e, através de um neologismo, ele diz “eu oceano”, criando o verbo oceanar, com o significado próximo a transformar-se em oceano, receber as águas de um rio, tornar-se grandioso com o desaguar de amor em seu corpo.

Note-se que o verso “você deságua em mim e eu oceano” pode ser classificado como um período composto por coordenação, em que a primeira oração seria você deságua em mim, oração coordenada assindética, e a segunda, e eu oceano, oração coordenada sindética aditiva, com valor de consequência, onde o verbo oceanar (neologismo poético) aparece na primeira pessoa do singular do presente do indicativo, com a desinência o característica desta pessoa neste tempo verbal.

O processo de criação dessa canção não se resume apenas a este jogo metafórico e de sinonímia, muito menos a um neologismo, apesar de ter sido de tamanha beleza, mas coube nesta proposta analisar apenas estes casos, não esgotando as possibilidades outras de análises.

Rogerio Bandeira
Enviado por Rogerio Bandeira em 25/05/2009
Reeditado em 26/05/2009
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