A LÍNGUA PORTUGUESA E O MAR
“E, se mais mundo houvera, lá chegara.”
Camões, Os Lusíadas, Canto VII, v. 14
No princípio era o verbo. Crescer tornara-se palavra de ordem na boca ávida e sedenta da Corte portuguesa, que ecoava no seio da minguada população lusa, ao sentir-se sitiada pelos hermanos ibéricos e o “mar-oceano”, aos quais se achava entremetido o minúsculo Portugal, em estreita faixa peninsular “onde a terra se acaba e o mar começa”. Não havia outra saída para os anseios de expansão lusitana senão transpondo o “mar tenebroso”, em busca de outros mundos. Por isso lançara-se à sedutora aventura do expansionismo de ultramar, expedindo em naus e caravelas que partiam “da ocidental praia lusitana” seus “barões assinalados”, o que tornou estupendamente fecundável o óvulo fertilíssimo e toti potenti da Língua Portuguesa no útero acolhedor e ubérrimo daquele ainda desconhecido, mas admirável Mundo Novo, com espantosa fecundidade.
No Brasil, particularmente, a implantação e o crescimento da língua foi avassalador e indetenível, pois que superior às aqui praticadas (o que não impediu, todavia, que fertilizassem o idioma lusitano em todas as categorias gramaticais), tornando o País, nos dias correntes, sócio principal deste fantástico mundo lusófono.
Portugal e Brasil, conquanto estivessem territorialmente distantes, em continentes geograficamente apartados, permaneceram ligados durante séculos por esta estrada líquida, salgada e onipresente, o Atlântico, o “mar-oceano” que nos envolve e nos afaga.
A Língua Portuguesa e o Mar têm, portanto, estreitas ligações históricas, pois foi através desse salgado caudal marinho que o idioma sofreu influências marcantes: com a invasão dos mouros à Península Ibérica, primeiramente e, mais tarde, valendo-se das grandes navegações transoceânicas dos portugueses, quando foi levado a todos os recantos da Terra.
A bordo das naus e caravelas das frotas que demandavam novas terras dalém-mar a Língua Portuguesa chegou a recônditos lugares, onde, a par de sua difusão e implantação, teve robustecido e enormemente ampliado seu acervo lexical.
Da própria vida do mar, de seus percalços, de sua rudeza, de seus perigos, de seus mistérios e do desafio de vencê-los, de transpô-los, de suplantá-los, tanto dela se beneficiou a rústica e primitiva linguagem lusitana, mal desapegada do galego-português, maximamente depois que Camões, com o gênio iluminado de que era possuidor, descrevendo a epopeia da viagem empreendida por Vasco da Gama, em busca do caminho marítimo para as Índias, fez aportar termos nunca dantes empregados ou sequer ouvidos, trabalhados em construções frasais elegantes, eruditas, impecáveis.
De fato, o soberbo mar português, como cantou Pessoa, muita dor e muito pranto causou aos portugueses antes que eles o dominassem e o subjugassem, mas, aonde quer que fosse o marujo português com sua boina marinheira ou o soldado luso com sua espada conquistadora, ia também a alma sonhadora, o espírito aventureiro, a intrepidez e a coragem da “lusa gente”, de par com o recurso de mais-valia: a Língua Portuguesa.
Hoje, as páginas viradas da História, amarelecidas pelo tempo - e o tempo é o senhor da razão! -, encarregaram-se de mostrar e a Humanidade, agradecida, de reconhecer, que “tudo valeu a pena, pois a alma não foi pequena, e a imensidão do mar, apesar dos perigos e dos abismos, à vontade de Deus nele é que espelhou o céu”.
No mapa mundi acima a localização dos principais países lusófonos
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Excerto do livro de sua autoria: “Português em Números”.
Médico e Escritor – SOBRAMES/ABRAMES
E-mail : serpan@amazon.com.br.- sergio.serpan@gmail.com
“E, se mais mundo houvera, lá chegara.”
Camões, Os Lusíadas, Canto VII, v. 14
No princípio era o verbo. Crescer tornara-se palavra de ordem na boca ávida e sedenta da Corte portuguesa, que ecoava no seio da minguada população lusa, ao sentir-se sitiada pelos hermanos ibéricos e o “mar-oceano”, aos quais se achava entremetido o minúsculo Portugal, em estreita faixa peninsular “onde a terra se acaba e o mar começa”. Não havia outra saída para os anseios de expansão lusitana senão transpondo o “mar tenebroso”, em busca de outros mundos. Por isso lançara-se à sedutora aventura do expansionismo de ultramar, expedindo em naus e caravelas que partiam “da ocidental praia lusitana” seus “barões assinalados”, o que tornou estupendamente fecundável o óvulo fertilíssimo e toti potenti da Língua Portuguesa no útero acolhedor e ubérrimo daquele ainda desconhecido, mas admirável Mundo Novo, com espantosa fecundidade.
No Brasil, particularmente, a implantação e o crescimento da língua foi avassalador e indetenível, pois que superior às aqui praticadas (o que não impediu, todavia, que fertilizassem o idioma lusitano em todas as categorias gramaticais), tornando o País, nos dias correntes, sócio principal deste fantástico mundo lusófono.
Portugal e Brasil, conquanto estivessem territorialmente distantes, em continentes geograficamente apartados, permaneceram ligados durante séculos por esta estrada líquida, salgada e onipresente, o Atlântico, o “mar-oceano” que nos envolve e nos afaga.
A Língua Portuguesa e o Mar têm, portanto, estreitas ligações históricas, pois foi através desse salgado caudal marinho que o idioma sofreu influências marcantes: com a invasão dos mouros à Península Ibérica, primeiramente e, mais tarde, valendo-se das grandes navegações transoceânicas dos portugueses, quando foi levado a todos os recantos da Terra.
A bordo das naus e caravelas das frotas que demandavam novas terras dalém-mar a Língua Portuguesa chegou a recônditos lugares, onde, a par de sua difusão e implantação, teve robustecido e enormemente ampliado seu acervo lexical.
Da própria vida do mar, de seus percalços, de sua rudeza, de seus perigos, de seus mistérios e do desafio de vencê-los, de transpô-los, de suplantá-los, tanto dela se beneficiou a rústica e primitiva linguagem lusitana, mal desapegada do galego-português, maximamente depois que Camões, com o gênio iluminado de que era possuidor, descrevendo a epopeia da viagem empreendida por Vasco da Gama, em busca do caminho marítimo para as Índias, fez aportar termos nunca dantes empregados ou sequer ouvidos, trabalhados em construções frasais elegantes, eruditas, impecáveis.
De fato, o soberbo mar português, como cantou Pessoa, muita dor e muito pranto causou aos portugueses antes que eles o dominassem e o subjugassem, mas, aonde quer que fosse o marujo português com sua boina marinheira ou o soldado luso com sua espada conquistadora, ia também a alma sonhadora, o espírito aventureiro, a intrepidez e a coragem da “lusa gente”, de par com o recurso de mais-valia: a Língua Portuguesa.
Hoje, as páginas viradas da História, amarelecidas pelo tempo - e o tempo é o senhor da razão! -, encarregaram-se de mostrar e a Humanidade, agradecida, de reconhecer, que “tudo valeu a pena, pois a alma não foi pequena, e a imensidão do mar, apesar dos perigos e dos abismos, à vontade de Deus nele é que espelhou o céu”.
No mapa mundi acima a localização dos principais países lusófonos
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Excerto do livro de sua autoria: “Português em Números”.
Médico e Escritor – SOBRAMES/ABRAMES
E-mail : serpan@amazon.com.br.- sergio.serpan@gmail.com