Reflexões sobre a reforma ortográfica da língua portuguesa

Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)

A nova reforma ortográfica da língua portuguesa restringe-se à língua escrita, não afetando, pois, nenhum aspecto da língua falada. Também não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial. É apenas um passo na direção pretendida para unificação ortográfica desses países. Nossas palavras são fundamentadas no Michaelis, Guia Prático da Nova Ortografia, assinado por Douglas Tufano. Lembramos que elas se tornam oficiais a partir de 2009 e serão implementadas nas escolas públicas em 2010 e 2012 (em todas as séries), mas há lingüistas e gramáticos que pedem o dilatamento desse prazo.

Primeiro, resolveram voltar com as três letras K, W e Y que, oficialmente, tinham saído do alfabeto e, na prática, nunca aconteceu. Elas são usadas na escrita de símbolos de unidades de medida como: Km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt) e, também, na escrita de palavras e nomes estrangeiros e seus derivados como: show, playboy, playground, windsurf, William, kaiser, etc.

Agora, mexeram como o trema que passa a não ser usado mais. Usava-se o trema nos grupos gue, gui, que, qui, para indicar que o u era pronunciado e continuará pronunciado, mesmo sem o uso do trema. Então, a partir do ano que vem, escreveremos, sem trema: aguentar, arguir, bilíngue, cinquenta, delinquente, eloquente, ensanguentado, equestre, frequente, lingueta, linguiça. É bom observar que o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas: Müller, mülleriano.

Isso implica na mudança até dos programas de computadores, porque, enquanto digito essa matéria, meu computador coloca trema, automaticamente, e ele não existe mais. Assim, muita gente terá dificuldade para se adaptar à reforma ortográfica. Ela também tira o acento nos ditongos abertos éi e oi das palavras paroxítonas (que têm acento tônico na penúltima sílaba).

Então, escreveremos agora: alcatéia, apoia e apoio (verbo apoiar), boia, epopeia, estreia, estreio (verbo estreiar), geleia, heroico, jiboia, etc.. Essa regra é válida apenas para palavrs paroxítonas e, assim, continuaremos acentuando as oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. Por enquanto, digitar um texto, nos programas atuais dos nossos computadores, é um sofrimento. Você digita a palavra e o computador coloca o acento que, a partir de 2009, foi abolido.

A nova reforma ortográfica da língua portuguesa restringe-se à língua escrita, não afetando, já falávamos na última coluna a língua falada. Hoje, falaremos sobre as palavras paroxítonas. Não se usa mais o acento no I e no U tônicos, quando vierem seguidos de ditongo. Antes, escrevíamos baiúca, bocaiúva, feiúra e, agora, escreveremos: baiuca, bocaiuva, feiura.

Agora, atenção, se a palavra for oxítona e o I ou o U estiverem em posição final, ou seguidos de S, o acento permanece como em: tuiuiú, tuiuiús, Piauí. Agora, não será mais usado acento nas palavras terminadas em êem e ôo(s). Até agora, escrevíamos: abençôo, crêem, dêem, lêem, vêem, enjôo, magôo, perdôo e, com a Reforma que entra em vigor, escreveremos: abençoo, creem, deem, leem, veem, enjoo, magoo, perdoo.

O problema, agora, será os computadores. Sim, você digitará “creem”, sem acento e, enquanto não mudarem os programas, o computador ainda continuará a colocar, automaticamente, o acento e, assim, quem revisa textos passará aperto. Outro problema que agrava o problema de falta de leitura da maioria da população, é a eliminação do acento diferencial de pára (verbo) e para (preposição), péla(verbo) e pela (preposição), pêlos (animais) e pelo (preposição) e, ainda, pólo(s) e polo(s), pêra e pera. Só o contexto informará qual é o sentido da palavra: Exemplos: Ele para o carro para abastecer. Ele não foi ao polo Norte, porque gosta de jogar polo no verão. Esse gato tem pelos brancos, mas gosta de comer peras.

Atenção, minha gente, permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do Indicativo), na 3a. pessoa do singular e Pode é a forma do Presente do Indicativo, na 3a. pessoa do singular. Se tirassem o acento diferencial, seria uma confusão tremenda. Também permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo e por é preposição. Assim, continuaremos escrevendo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim, certo?

Salientamos, novamente, que a reforma ortográfica da língua portuguesa que entrou em vigor no dia 01.01.09 ainda gera polêmicas, porque há divergências entre os gramáticos e, portanto, há um período de adaptação. Segundo consta, até 2012, teremos prazo para a unificação o que me parece temeroso, porque é pouco tempo para que a população assimile as novas regras.

Atenção, porém, porque permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, bem como de seus derivados (manter, deter, reter, etc): Exemplos: Ele tem dois carros. Eles têm dois carros. – Ele mantém a palavra. Eles mantêm a palavra. Segundo as novas regras, agora, é facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acentro deixa

a frase mais clara: “Qual é a forma da fôrma do bolo, Maria?”

Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do Indicativo dos verbos arguir e redarguir. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir como: averiguar, desaguar, apaziguar, delinquir, etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do Indicativo, do presente do Subjuntivo e, também, do Imperativo: a) Se forem pronunciados com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas: enxáguo, enxáguas, enxágua, etc; delínquo, delinques, delinque, etc. Agora, se forem pronunciadas com u tônico, deixam de ser acentuadas e, como exemplo, repetimos: enxaguo, enxaguas, enxagua, etc; delinquo, delinques, delinqua, etc. Uma observação deve ser feita: no Brasil, a pronúncia mais usual, ou seja, é a primeira, ou seja, aquela com a e i tônicos, certo?

As autoridades e este professor, inclusive, sugerem que você faça a opção: usar as novas regras ou continuar usando as regras anteriores até que seja mesmo obrigatório. Em momento algum, você deve misturar, ou seja, misturar as duas regras, pois configurará erro de português. Agora, quanto ao uso do hífem, vejamos: a) Com os prefixos, usa-e sempre o hífem diante de palavra iniciada por H: anti-higiênico, proto-história, super-homem, ultra-humano, mas tem a exceção de SUBUMANO que perdeu o h. b) Não se usa hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da outra palavra inicial: aeroespacial, antieducativo, extraescolar, etc, mas há exceção do prefixo CO que se aglutina com o segundo elemento: coordenar, cooperar, cooptar, etc.

Ainda sobre o uso do hífen, ele não será usado quando terminar em vogal e a outra palavra tiver uma consoante diferente do R ou S. Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autopeça, etc. Com o prefixo VICE, usa-se, sempre, o hífem: vice-rei, vice-presidente, etc. Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e a outra palavra começa com R ou S: antirrábico, antirreligioso, contrarregra, contrassenso, minissaia, ultrassom, duplicando essas letras.

Cuidado, quando o prefixo termina por vogal, usa-e o hífen se o segundo elemento (palavra) começar com a mesma vogal: anti-ibérico, auto-observação, micro-ônibus, semi-internato. Agora, quando o prefixo termina em consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começa com a mesma consoante: hiper-requintado, inter-racial, super-romântico. Nos demais casos com o prefixo HIPER, não se usa hífem: hipermercado, superinteressante, superproteção.

Não é fácil, teremos que reaprender o uso do hífen, pois com o prefixo SUB, usa-se o hífel também diante de palavra iniciada por R como sub-região e, com os prefixos CIRCUM e PAN, usa-se o hífem diante de palavra iniciada por M, N e VOGAL: circum-navegação, pan-americano, etc. Se o prefixo termina em consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar com vogal: hiperacidez, hiperativo, interescolar.

Atenção, amigos, com os prefixos EX, SEM, ALÉM, AQUÉM, RECÉM, PÓS, PRÉ, PRÓ usa-se, sempre, o hífen: além-mar, ex-aluno, pós-graduação, pró-europeu, sem-terra. Se os sufixos são de origem tupi-guarani: AÇU, GUAÇU, MIRIM, usa-se o hífen: amoré-guaçu, capim-açu. Deve-se, também, usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que, ocasionalmente, se combinam como: ponte Rio-Niterói, eixo Belo Horizonte-Rio de Janeiro. Não se usa o hífem, contudo, em palavras que perderam a noção de composição como: girassol, madressilva, paraquedas, pontapé.

Ao escrever um texto, se for necessário partir uma palavra (divisão silábica) e se coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte, certo? Uma coisa, quero deixar bem claro, não devemos misturar as novas regras ortográficas com as antigas. Vamos procurar observar a respeito e, se Deus quiser, com o tempo, absorveremos as novas mudanças. Aliás, isso se dará com muita leitura. Afinal, ler e ler e ler são as três regras para se ter cultura, concordam?

Divinópolis, 22.01.09

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 28/01/2009
Código do texto: T1409203
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