CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA OU FIGURADA
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Na concordância, de modo geral, constantemente entram em conflito a rigidez das normas gramaticais e os direitos da imaginação e da sensibilidade.
Quando se diz que certo termo deve concordar com outro, tem-se em vista a forma gramatical deste termo de referência.
No entanto, há condições em que se desprezam os critérios gramaticais e, atendendo apenas a ideia subentendida, se faz a concordância com aquilo que está escrito. Em outras palavras, deixa-se de fazer a concordância de uma palavra diretamente com a outra, para fazer-se com a ideia que esta sugere:
● Os brasileiros somos improvisadores.
O verbo ser (somos) não está concordando diretamente com "os brasileiros" (sujeito), mas com a ideia que ele sugere: (nós) Os brasileiros somos...
Os Gramáticos dão o nome de "sínese" a essa concordância; porém ela é conhecida por "concordância ideológica, irregular, ou figurada (silepse)".
CASOS DE CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA
1º. As expressões de tratamento Vossa Excelência, Vossa Majestade, Vossa Senhoria etc., são femininas pela forma, mas, não raro, lemos ou ouvimos: Vossa Excelência está enganado.
Usou-se o "adjetivo (enganado) no masculino" porque se fez a concordância com aquilo que se tinha em mente (pessoa do sexo masculino) e não propriamente com Vossa Excelência.
2º. Ainda com relação ao gênero não é raro as ideológicas:
● São José do Rio Preto é linda.
O adjetivo (linda) não concorda com São José do Rio Preto (masculino), mas com a ideia embutida nele, que é a de cidade: A Cidade é linda.
● Conheci uma criança... mimos e castigos pouco podiam com ele.
Concordância com a ideia (menino) embutida em "uma criança". O autor deixou-se trair pala consciência. Conheci um menino...
3º. Uma palavra no coletivo dá uma ideia de plural, porém ela é de número singular. Portanto, a um sujeito coletivo o verbo deve concordar no singular (norma gramatical):
● O povo lhe pediram que se chamasse Regedor (F. Lopes).
O verbo (pediram) deveria figurar no singular, no entanto está no plural concordando com a ideia de muitas pessoas.
● Fomos muito aplaudido pela critica.
Neste exemplo o adjetivo (aplaudido) deveria estar no plural concordando com o verbo (fomos). Está no singular porque, na verdade, se trata de uma só pessoa e não de duas ou mais, embora o verbo se encontre no plural. Tal plural recebe o nome de plural da modéstia.
4º. A um sujeito da terceira pessoa plural pode fazer-se a concordância com o verbo na primeira pessoa do plural, e isso acontece sempre que tiver implícita a ideia de que a pessoa que escreve ou fala também participa do processo (eu + ele/s = nós):
● Todos somos filhos de deus = > ideia explícita: nós
● "Dizem que os cariocas (nós) somos pouco dados aos jardins públicos." (M. Assis)
Essa concordância de pessoa é uma construção usual nas petições firmadas por várias pessoas: Os abaixo assinados (nós) requeremos a V. Exc. ®Sérgio.
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Bibliografia: Cegalla, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1996. / Rocha Lima, Carlos Henrique da. Gramática normativa da língua portuguesa. 45ª ed. Rio de janeiro: José Olympio, 2006.
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