A LINGUAGEM FIGURADA

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Estudos Literários

 

Dentro de um grupo social há vários modos de se usar a Língua Portuguesa. Dentre eles, há um que se institui como língua padrão, e que corresponde ao modo de falar das pessoas mais instruídas, mais cultas dentro do grupo social. É a partir do uso da língua padrão que a gramática estabelece as normas daquilo que seria falar ou escrever corretamente, ou seja, as normas da língua culta.

Essas "normas gramaticais" estão sempre sujeitas a "desvios", tanto na língua falada quanto na escrita. Desvios que podem ocorrer por desconhecimento que o falante tem das normas, configurando o "erro gramatical ou o vício de linguagem". Ou, então, pode ser provocado pelo usuário que – conhecendo as normas – desvia-se delas para conferir novidade e força expressiva à mensagem. Neste caso, o desvio configura o que se costuma chamar de linguagem figurada ou figuras de linguagem.

Pobre, em sua versão única, para exprimir os diversos significados de que se revestem sentimentos e ideias, a palavra ultrapassa os limites de sua versão oficial (denotativa) para assumir os valores que ela sugere, conota. É isso que dá nova vida a palavra. Fica explicito, portanto, que as palavras se transformam de acordo com as circunstâncias e as sutilezas que o usuário, individualmente, quer que elas exprimam.

É muito difícil para alguém que faz literaturas se fazer entender sem apelar para as figuras de linguagem. Assim, na criação de trabalhos literários, não utilizamos apenas a linguagem convencional, padrão, mas tentamos recriá-la, alterando os sentidos, enfatizando aspectos sonoros, lançando mão, enfim, da linguagem figurada. Enfim, teremos uma figura de linguagem sempre que uma palavra, desviada do seu sentido normal, adquire um novo sentido, um novo significado: "Fios de sol escorriam de um carvalho, perto da estrada". (Vergílio Ferreira) / "O relógio pingava as horas, uma a uma, vagarosa mente".

É comum distribuírem-se as figuras de linguagem em quatro categorias:

1. Figuras de Palavras – quando empregamos um termo com sentido diferente do usual, do dicionarizado:

Comparação; Metáfora; Catacrese; Sinestesia; Metonímia; Sinédoque; Antonomásia (ou Perífrase).

2. Figuras Sintáticas ou de Construção – quando há repetições, omissões de termos, desvios em relação à concordância entre os termos da oração e a ordem em que estes termos aparecem na frase:

Silepse; Elipse; Zeugma; Assíndeto; Polissíndeto; Anáfora; Pleonasmo; Hipérbato; Anacoluto; Anástrofe; Sinquise; Polissíndeto; Assíndeto; Epístrofe; Anadiplose; Diácope; Epânodo; Epizeuxe; Antimetábole (ou Quiasmo).

3. Figuras de Pensamento – quando a palavra sofre uma alteração, um desvio intencional que se realiza na esfera do pensamento:

Antítese; Paradoxo; Ironia; Perífrase; Eufemismo; Gradação, Apóstrofe; Litotes; Alusão; Personificação (ou Prosopopeia); Exclamação; Interrogação; Reticência; Oximoro; Antanáclase; Epanortose; Preterição; Gradação; Clímax; Anticlímax; Concatenação; Hipérbole.

4. Figuras Fonéticas ou de Som – quando os sons se destacam expressivamente: Aliteração, Assonância, Paronomásia, Onomatopéia.

Esta divisão está sujeita a variações, de forma a estabelecerem-se vínculos estruturais e de significação entre as várias figuras. Este procedimento traz, em relação ao padronizado, uma grande vantagem em termos de consulta e memorização.

A linguagem figurada não é exclusiva do texto literário (prosa ou poesia), pois ela é indispensável à própria comunicação. A linguagem figurada faz parte da retórica – arte e técnica de tornar um discurso mais convincente.

Porém, isso não significa que alguém não possa usar as figuras inconscientemente. Tal fato ocorre muito na linguagem coloquial. Você, provavelmente, utiliza muito dessas figuras de linguagem quando fala ou escreve alguma coisa. Pois, a capacidade de criação não é exclusiva dos grandes gênios. Quando falamos ou escrevemos, estamos, mesmo sem perceber, colocando em prática nosso potencial criativo.  ®Sérgio.

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Ajudaram na elaboração deste texto: Helio Seixas Guimarães, Ana Cecília Lessa - Figuras de Linguagem Teoria e Prática. Atual Editora, São Paulo, 1998. / Azevedo, Arnaldo Arsênio de. Aspectos de Nossa Língua. Rio Grande do Norte, CERN, 1983.

Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.

Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me.