O PROBLEMÁTICO POSSESSIVO “SEU”
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Recursos para Contornar a Ambiguidade
Entre as qualidades que qualquer texto deve possuir, três são básicas: a clareza, a concisão e a correção.
A importância da clareza decorre da própria finalidade primordial da linguagem: propiciar aos seres humanos a comunicação de seus pensamentos. Quanto mais nitidamente souber alguém transmitir o que pensa, tanto mais eficiente será sua linguagem.
A clareza de idéias é obtida com construções bem elaboradas, para que o texto se torne coeso, sem ambiguidades. Mas, que se entende por ambiguidade?
Segundo definição encontrada no Houaiss, a palavra ambiguidade, significa "a propriedade que possuem diversas unidades lingüísticas (morfemas, palavras, locuções, frases) de significar coisas diferentes, de admitir mais de uma leitura". Sendo assim, a ambiguidade pode decorrer do duplo sentido de uma palavra ou da dupla possibilidade de relação de um ou mais elementos de uma frase.
Convém destacar, porém, que em alguns casos a ambiguidade é produzida voluntariamente pelo autor do texto para obter determinados efeitos de sentidos. É o caso dos textos humorísticos e publicitários. No entanto, se a ambigüidade é produzida de forma involuntária, será considerada inadequada por comprometer a compreensão do texto.
Em português, um caso relativamente comum é o que envolve o pronome possessivo de terceira pessoa [seu] ou [sua] e variações. A seguir, focalizaremos a ambiguidade no emprego desse pronome, e como (ou quando) será possível corrigi-la.
O POSSESSIVO DE TERCEIRA PESSOA
• A primeira razão para que o possessivo [seu] e flexões [seus, sua, suas] se preste a ambigüidade é que ele pode tanto referir-se a um ser, como a outro ser, mencionados na frase; esteja este no masculino ou no feminino, no singular ou no plural:
- O professor comentou com os alunos suas deficiências.
As deficiências de quem? As do professor, ou as dos alunos? Como você pode observar o possessivo [seu] pode tanto referir-se ao professor como aos alunos.
O recurso para contornar essa ambigüidade é o emprego, em substituição ao possessivo, de um complemento esclarecedor (de + pronome pessoal), ou seja, às formas dele(s), dela(s), de você, do senhor e outras. Conforme a intenção que você deseje transmitir, construiria assim:
- O professor comentou com os alunos as deficiências deles (ou: a deficiência dele).
No caso dos substantivos serem do mesmo gênero e número, a solução é repetir o substantivo (professor ou aluno) a que se refere o possessivo:
- O professor comentou com o aluno as deficiências dele, aluno. (ou: dele, professor).
• A outra razão de ambiguidade é o uso de [seu] como possessivo de segunda pessoa quando nos dirigimos a alguém no tratamento de você, senhor e equivalentes:
- Vou convidar a Joana e seu noivo para jantar lá em casa.
O noivo de quem? O de Joana, ou o de quem me escuta? A forma desambiguadora pode ser feita com a simples eliminação do possessivo:
- Vou convidar Joana e o noivo para jantar lá em casa.
Ou então com as formas já mencionadas anteriormente:
- Vou convidar a Joana e o noivo dela para jantar lá em casa.
- Vou convidar a Joana e o noivo, de Joana, para jantar lá em casa.
Outros Exemplos:
- O Pai pediu à filha seus livros. (o livro de quem?)
- O Pai pediu a filha os livros dela. (ou: os livros dele)
- O Pai pediu ao filho seus livros.
- O pai pediu ao filho os livros dele, o pai.
- A advogada encontrou seu pai na sala. (o meu ou o dela?)
- A advogada encontrou o pai na sala. (ou: na sala dela)
- Carlos fez as pazes com Ana e seus sobrinhos.
- Carlos fez as pazes com Ana e os sobrinhos. (ou: os sobrinhos dela) ®Sérgio.
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Referência: ROCHA LIMA, Carlos Henrique da, Raimundo Barbadinho Neto. Manual de Redação, 5ª Ed. / 2ª tiragem – Brasília: FAE, 1994.
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